A entrada da China Communications Construction Company (CCCC), a quarta maior empresa mundial, no capital social da Mota-Engil pode afastar a construtora portuguesa do seu principal mercado: o México.
Em causa, está o facto de cinco subsidiárias da CCCC – que após a conclusão do negócio vai ficar com 30,01% da Mota-Engil – terem sido incluídas, em agosto passado, na ‘lista negra’ do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (a denominada American Entity List ), devido à colaboração destas empresas com o regime chinês na construção de ilhas militares artificiais no disputado Mar do Sul da China. Ora, o México faz parte do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (NAFTA na sigla em inglês) – juntamente com os Estados Unidos e o Canadá – e, como tal, a ligação económica e comercial com os vizinhos do Norte também não torna bem-vindas ao país empresas ligadas ao Executivo de Xi Jinping.
Da lista, fazem parte 24 empresas detidas, na totalidade ou em parte, pelo Estado chinês. O novo rosto da Mota-Engil coloca em risco a possibilidade da empresa portuguesa voltar a celebrar novos contratos nos Estados Unidos e países parceiros.
Embora a decisão de incluir a CCCC tenha sido tomada durante a presidência de Donald Trump, a Administração Joe Biden parece manter a decisão. O primeiro telefonema entre Biden e Xi Jinping teve como tema principal as tensões crescentes no Mar do Sul da China. E nos últimos dias assistiu-se a novas movimentações no local das marinhas da China e dos Estados Unidos.
O México não é somente ‘mais um’ mercado para a Mota-Engil. Em 2020, a empresa de António Mota conseguiu naquele país o maior contrato de sempre na América Latina, no valor de 636 milhões de euros, com a construção de um troço do megaprojeto ferroviário designado ‘Tren Maya’. De acordo com as contas da construtura, referentes ao 1.º semestre de 2020, três dos principais projetos da construtora decorriam no México – a fatia deste mercado está perto dos 50% das receitas totais.
Chineses livres da OPA
A CCCC viu confirmado esta sexta-feira pela Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) que não vai precisar lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para ficar com 30,01% da Mota-Engil, ficando a bastar à empresa alterar os estatutos na próxima assembleia geral no próximo dia 19.
Recorde-se que a CCCC chegou a acordo com a Mota-Engil em agosto de 2020 para adquirir 23% do capital da construtora (55 milhões de ações) através da holding Mota Gestão e Participações (MGP), num negócio de 169,4 milhões.
Ficou ainda acordado entre as partes que será feito um aumento de capital de 100 milhões, realizado ao preço unitário de 1,50 euros por ação. A CCCC compromete-se a participar nesta operação, exercendo os direitos inerentes às 55 milhões de ações que passa a deter, bem como os direitos de subscrição inerentes a outros 20,66% do atual capital, cedidos pela MGP. A MGP, por sua vez, participa no aumento de capital com a subscrição mínima de 22 598 927 de novas ações.
Concluídas as operações, a CCCC ficará com 30,01% da Mota-Engil e direito a escolher um terço dos administradores. A família Mota passa de um controlo de 65% para 40%.