Os quatro maiores bancos a operarem no mercado português – BCP, BPI, Santander Totta e Caixa Geral de Depósitos – lucraram 493,5 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Dividindo este resultado por 90 dias dá um lucro diário de mais de 5,4 milhões de euros. Só nos primeiros três meses do ano aproximaram-se dos resultados alcançados em 2017, altura em que estas quatro instituições financeiras lucraram 684,8 milhões de euros, o que mostra um regresso à rentabilidade.
O aumento das margens – em que as comissões estão a ser o ‘motor’ das contas dos bancos – a quebra das imparidades e um esforço na contenção de despesas, nomeadamente em termos de pessoal e de estruturas, ditaram esta tendência de recuperação que já se começou a verificar em 2017.
Este bolo ainda poderá ser maior se juntarmos bancos de menor dimensão que ainda não apresentaram contas. É o caso da Caixa Agrícola, que no ano passado mais do que duplicou os lucros para 150 milhões de euros, impulsionado pelo crescimento do produto bancário – só este contribuiu com 148 milhões de euros – mas também pela redução das imparidades que foi de 15 milhões, uma queda de 74% face ao ano anterior.
As grandes dúvidas continuam a recair no Montepio. A Caixa Económica Montepio Geral regressou aos lucros no ano passado, tendo apresentado um resultado positivo de 30,1 milhões, o que compara com as perdas de 86,5 milhões em 2016. Só na terça-feira é que a instituição financeira irá apresentar resultados – depois de ter pedido para adiar a apresentação de contas, o que justificou com o contexto da entrada em funções do novo conselho de administração, a 21 de março, e o quadro de um novo modelo societário, «não sendo por isso possível concluir os trabalhos». Mas o SOL sabe que a administração agora liderada por Carlos Tavares vai rever todos os números apresentados, seguindo os próprios critérios de prudência.
BPI campeão de resultados
A instituição financeira liderada por Pablo Forero foi a que mais contribuiu para este bolo de quase 500 milhões de euros e levou o presidente do banco a garantir que «este foi um bom trimestre para o BPI». Uma boa recuperação face ao primeiro trimestre do ano passado, altura, em que registou prejuízos de 122 milhões de euros.
A atividade em Portugal foi a principal impulsionadora ao apresentar um resultado de 118 milhões de euros nos três primeiros meses do ano, o que representa uma melhoria de 175% face ao período homólogo. Já as operações internacionais (Angola e Moçambique) renderam 91 milhões, face ao prejuízo de 122 milhões (quando o banco vendeu o controlo no Banco de Fomento Angola).
Também a venda da participação que detinha na Viacer contribuiu para a melhoria deste resultado. A alienação fez-se por 233 milhões, tendo essa reavaliação gerado um ganho de 60 milhões de euros.
O custo com os depósitos e o aumento da carteira de crédito ajudaram ao aumento da margem e compensaram os custos com a emissão de dívida subordinada, enquanto as comissões cobradas dispararam 11,9% para 69 milhões.
Em segundo lugar surge o Santander Totta com lucros de 130,5 milhões de euros, um aumento de 5% face ao período homólogo – já com a integração total do Banco Popular Portugal que foi comprado no final do ano passado. «Temos um banco rentável, com um produto bancário que cresceu 11%», afirmou o presidente da instituição.
A margem financeira disparou mais de 36% face aos primeiros três meses de 2017 para 231,2 milhões. Já as comissões líquidas subiram para quase 94 milhões de euros, «beneficiando, essencialmente, do impacto positivo das comissões de fundos e seguros comercializados pelo banco, e de meios de pagamento».
Em recuperação
Também o BCP viu os seus lucros subirem 70,8% para os 85,6 milhões de euros nos primeiros três meses deste ano, numa altura em que a instituição financeira prepara-se para mudar de liderança. Miguel Maya vai ser o sucessor de Nuno Amado, que irá ocupar o lugar de chairman. A nova composição será votada em assembleia-geral no próximo dia 30 de maio.
A atividade no mercado nacional contribuiu, em parte, para este resultado, ao representar 44,5 milhões de euros no primeiro trimestre, quando no ano passado, em igual período tinha rondado os 9 milhões de euros. Já o negócio no estrangeiro estabilizou nos 41,1 milhões de euros.
O produto bancário situou-se em 537,8 milhões, praticamente em linha com os 534 milhões do trimestre do ano anterior. Já os custos operacionais agravaram-se 3,2% para 246 milhões de euros.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi o banco que apresentou resultados mais baixos – um lucro de 68 milhões de euros. Ainda assim, quando comparado com o mesmo período do ano passado, é das instituições financeiras que mais recuperou: deixou para trás prejuízos de 39 milhões de euros.
Esta recuperação deve-se, em grande parte, ao contributo positivo da atividade em Portugal, o que não há acontecia há vários anos. Foi também em Portugal que as comissões mais cresceram, diz o banco. Se em termos consolidados houve um aumento de 9,4% face ao trimestre homólogo, na CGD Portugal o crescimento destes proveitos foi de 13,8% para 89 milhões de euros. De acordo com a CGD, estas medidas refletem «o plano estratégico implementado em 2017», mas Paulo Macedo afasta novas subidas. «Não iremos aumentar de novo as comissões», afirma. Mas ainda assim, garante que a «Caixa é quem cobra as comissões mais baixas do mercado».
Redução de estruturas continua
Apesar do problema do crédito malparado continuar a preocupar as instituições financeiras verificou-se nestes três primeiros meses do ano um esforço para reduzir os ativos tóxicos. O total das imparidades reconhecidas nas contas do primeiro trimestre passou de 243 milhões para 91,7 milhões de euros.
Outra aposta da banca continua a assentar no emagrecimento das suas estruturas, tanto em termos de funcionários, como de balcões. A fórmula é simples: reduzir custos com vista a aumentar a rentabilidade. 2017 já tinha sido sinónimo disso – com a Caixa, Santander Totta, BPI, BCP a dispensarem dois mil trabalhadores e a encerrarem 269 agências – e os três primeiros meses do ano não ficaram alheios a esta tendência.
Só no banco público saíram 250 trabalhadores, A maior parte deles por reformas antecipadas. No final de março, a CGD tinha 8.071 funcionários na atividade doméstica face aos 8.321 trabalhadores que tinha no fim de 2017.
Mas a redução não vai ficar por aqui. Paulo Macedo já veio garantir que mais de 100 trabalhadores apresentaram candidaturas no âmbito do plano por mútuo acordo. «Temos mais candidatos entre reformas, rescisões e reforma por idade de reforma do que será necessário, pensamos que será cumprida [a meta de redução de pessoal este ano] como no ano passado», afirmou.
Em termos de agências, a Caixa manteve o mesmo número de balcões que tinha no ano passado: 587 balcões.
Já do Santander Totta saíram 50 trabalhadores, passando a contar com um total de 8.835 funcionários e assistiu-se à fusão de seis balcões. O banco quer mais saídas, mas garante que não haverá planos de despedimentos, referindo que houve «fusões» e «integrações», já que atualmente o Santander é um aglomerado de bancos.
«O que fazemos são fusões de balcões e as reduções de pessoal fazem-se por acordo ou por reformas», referiu António Vieira Monteiro.
Também o BCP registou uma redução de 172 trabalhadores quando comparado com igual período do ano passado. O banco ainda liderado por Nuno Amado conta com um total de 7.155 trabalhadores e 578 balcões, uma redução de 37 agências face ao primeiro trimestre de 2017. Ainda assim, os custos com pessoal aumentaram ligeiramente passando de 89,8 milhões para 91,1 milhões no primeiro trimestre.
Já o BPI assistiu à saída de 34 colaboradores nos primeiros três meses do ano. No entanto, segundo Pablo Forero, esta saída de funcionários está em linha com o plano de cortes do banco, que continua a encerrar balcões em Lisboa e no Porto. Também o número de agências sofreu uma quebra: fecharam duas no início do ano, mas no final de abril fecharam mais dois balcões: um no Porto e outro em Lisboa.
Um número que vai engrossar ainda mais quando forem reveladas as contas do Novo Banco. Para já, a única informação que tem sido divulgada é que a instituição financeira liderada por António Ramalho continua com um processo de rescisões voluntárias e reformas antecipadas que deverá levar à saída de mais de 400 trabalhadores – cerca de metade em rescisões e a outra metade em reformas antecipadas – além do fecho de 73 balcões.