Por ser rico em probióticos, o iogurte é apresentado como fundamental para um bom funcionamento dos intestinos. Mas não só:Quando os episódios de stresse se multiplicam, não há quem não tenha ouvido já uma série de soluções milagrosas que podem vir em forma de chá de camomila, aulas de ioga ou comprimidos que prometem noites mais tranquilas.
Longe de vir tirar a devida importância às mezinhas, prescrições médicas ou técnicas de mindfulness, há uma nova solução para quem quer aliviar episódios de ansiedade e desta vez nem é preciso receita, basta uma ida ao supermercado. Um estudo da Universidade do Missouri faz uma ligação entre o consumo de iogurtes e a diminuição de casos de stresse e ansiedade.
Investigações anteriores tinham já mostrado uma relação direta entre as bactérias intestinais e o sistema nervoso central. Com este estudo, os cientistas norte-americanos conseguiram provar que essas bactérias, ou probióticos, podem ser encontradas em algo tão simples como um iogurte e interferem diretamente no comportamento humano. “A toma de probióticos que se encontram nos iogurtes vai diminuir os níveis de ansiedade e os efeitos prejudiciais do stresse”, explica ao i o líder da pesquisa, Daniel Davis.
Para a pesquisa, o grupo usou como amostra o comportamento do peixe- -zebra, animal cada vez mais usado em investigações comportamentais pela semelhança genética que tem com o ser humano. Numa primeira fase, os investigadores adicionaram bactérias a determinados tanques com peixes- -zebra. De seguida foram introduzindo diferentes tipos de motivadores de stresse para testar as reações dos animais. No final foi possível concluir que os peixes que tinham recebido, numa fase inicial, os suplementos probióticos, mostravam uma redução dos níveis de stresse. Como prova extra da sua teoria, o grupo de investigadores mediu ainda os movimentos dos animais, usando ferramentas de medição e imagens captadas por computador, pois estudos anteriores sobre comportamento destes animais mostravam que os peixes, quando estão sob stresse, têm tendência a passar mais tempo no fundo dos aquários. Neste caso, aqueles a quem foram administrados probióticos viviam quase à superfície.
Probióticos, o que é isso? Pois bem, são bactérias. Mas das boas. Existem no nosso intestino e têm como responsabilidade assegurar o funcionamento do órgão e a manutenção das defesas do corpo.
Depois de verem mais do que provada a relação entre os probióticos e o bom funcionamento do aparelho digestivo, os investigadores do Missouri ficaram curiosos quanto às potencialidades destas bactérias no resto do organismo. “Muitas espécies destas bactérias produzem triptofano, que mais tarde pode ser transformado em serotonina, um neurotransmissor que regula o humor, o apetite ou o sono”, acrescenta Daniel Davis.
E, apesar de estarem já presentes no organismo, é possível reforçar estas bactérias aumentando o seu consumo através de alimentos ricos em probióticos e, sobre este assunto, não há dúvidas: o iogurte é o rei das bactérias saudáveis.
Iogurte com sabor a bactéria
Existem os de quilo e os de tamanho miniatura. Existem os líquidos, os de comer à colher e os gregos, que quase soam a musse. Existem os magros, com pedaços, com cereais e até com “pintarolas”. Existem os naturais, os açucarados e os de aroma. Bom, está visto que o difícil no mundo dos iogurtes é mesmo escolher, e isso, como em todos os itens da lista do supermercado, depende dos objetivos alimentares de cada um.
Se o foco estiver virado para uma vida saudável, há que fugir das embalagens que prometem sabor a chocolate ou que tenham “açucarado” escrito a letras garrafais, e direcionar a atenção para as letras pequenas dos rótulos. É aí que o trabalho de cientista começa: além de procurar as mais baixas percentagens de adoçantes e gorduras, há que saber decifrar as palavras difíceis.
Bifidobacterium ou lactobacillus são dois dos exemplos dessas expressões quase impronunciáveis que, fazendo parte da lista de ingredientes, dão a segurança de mais saúde. Sim, porque apesar de serem bactérias, são seguras para consumo humano. “Seguras e recomendadas”, acrescenta a nutricionista Lillian Barros, precursora da máxima “não somos o que comemos, mas sim o que absorvemos”. Daí que defenda o consumo diário de probióticos, apresentando como alternativa ao iogurte – que continua a ser a fonte mais acessível – o quefir, um alimento de consistência cremosa obtido através da fermentação do leite. O investigador Daniel Davis acrescenta ainda mais um item à lista de compras de probióticos: a chucrute, uma conserva de repolho fermentado, típica da culinária alemã.
Mas se os nomes das bactérias já forem estranhos o suficiente para se aventurar em novas comidas, saiba que o velho e bom iogurte será sempre uma escolha acertada. “A grande maioria dos iogurtes têm probióticos, uma vez que são derivados de leite fermentado e esse processo de fermentação é feito por essas bactérias benéficas ao organismo”, conclui o cientista.
Ainda com reservas sobre o amanhã, Daniel recusa-se a admitir que um iogurte por dia possa substituir os comprimidos receitados para a ansiedade, mas não deixa de salientar que “os resultados da investigação são promissores” e acredita que, no futuro, “os probióticos vão ser usados como forma de diminuir o stresse”.