Ainda vamos a tempo de salvar o planeta?

Ainda vamos a tempo de salvar o planeta?


Centenas de líderes mundiais estão reunidos para reverter um cenário pintado a negro para o clima. Mas há consequências que são inevitáveis


Infelizmente, a resposta para a pergunta que dá título ao texto é negativa. Mesmo que parássemos de emitir gases com efeito de estufa já amanhã, a temperatura mundial ainda continuaria a subir nas próximas décadas, fenómeno esse que traz consigo toda uma lista de consequências: desaparecimento das zonas geladas, aumento do nível do mar, migração de espécies animais, cheias, inundações e fenómenos extremos cada vez mais recorrentes.

Portugal não tem como fugir a esta onda negativa face ao clima e, com base em dados divulgados através do projeto Cartas de Inundação e Risco em Cenários de Alterações Climáticas (CIRAC), é possível até antever quais as zonas do país mais vulneráveis. No total, falamos de 2% do território nacional, divididos entre Lisboa, Porto, Coimbra e Oeiras. Nestas cidades existem pelo menos 3061 edifícios expostos a danos causados por inundações, e se Coimbra é a cidade com mais edifícios em perigo (1278), Oeiras é a que apresenta um risco mais elevado, devido, por exemplo, à altura das ondas de cheia.

Para Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista Zero, quando se fala em clima fala-se de algo “altamente resiliente” e é por isso que, “perante a inevitabilidade dos acontecimentos, o melhor é estar preparado”. O ambientalista, em declarações ao i, não põe em causa o risco que o país corre – “as provas são tão claras que disso já ninguém duvida” – e lembra que a questão, aqui, está na dimensão do fenómeno, também ela imprevisível.

Uma COP positiva Embora as cores do mapa ao lado escondam o negro do cenário, elas são a prova de que a Europa é uma zona em risco face a alterações climáticas e, por isso, centenas de delegações e líderes mundiais estão em Marraquexe para debater a implementação do acordo para o combate às alterações climáticas.

Com o fantasma de Trump a assombrar um encontro que todos encaravam como uma oportunidade de dar um passo em frente no consenso mundial, as delegações dos vários países representados tiveram de reforçar o apelo para que todas as nações – e principalmente os Estados Unidos, que ameaçam agora abandonar o tratado – cumpram o Acordo de Paris. 

Portugal, representado por António Costa, é apresentado como sendo um país “comprometido com o acordo” e na primeira linha do combate ao aquecimento global. Além de garantir que o país tem todas as condições para cumprir as metas a que se propôs, o primeiro-ministro português vai mais longe e avança como plano imediato o processo de revisão do Roteiro de Baixo Carbono para 2050. O objetivo é que passemos a ser “neutros em emissões de gases com efeito de estufa até ao final da primeira metade do século”, ou seja, que todos os gases emitidos pelo país sejam tão reduzidos que acabem absorvidos pela própria natureza. 

Francisco Ferreira olha para este desafio como um sinal de que o governo está comprometido com a causa. “Passarmos a estado neutro significa deixar de usar combustíveis e passar a preferir as energias renováveis. Isso é um passo muito importante”, refere. Foi exatamente essa aposta nas energias eólica, hídrica e solar que ajudou Portugal a voltar a um lugar cimeiro na lista de países industrializados que mais combatem as alterações climáticas. “As emissões de gases em 2014 estão em curva descendente, com os valores mais reduzidos desde 2005”, justifica o responsável.