Numa citação largamente atribuída a Sócrates (470 – 399 a.C), lê-se «Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez de trabalhar.» Transitando para os dias de hoje, a Geração X diz exactamente o mesmo da Geração Millenial (ou Y) e, não tenhamos ilusões, a Geração Millenial dirá exactamente o mesmo da geração seguinte (dos nascidos depois de 1997).
Poder-se-á dizer, sem qualquer sombra de dúvida, que a geração Millenial é a mais qualificada de sempre. É a geração que mais viaja, que tem mais acesso à informação, que tem índices de escolaridade mais elevados. É também a geração que, embora seja a mais qualificada de sempre, não irá viver melhor do que a anterior, ao contrário de todas as outras. Se as gerações anteriores têm motivos para rotular esta geração de imprestáveis ou parasitas da sociedade, ao melhor nível do pior velho do Restelo, responderei veementemente que não.
Os números indicam que esta geração recorre menos ao crédito de consumo do que a geração anterior, está mais interessada na partilha do que na propriedade (com a utilização massiva de serviços de carsharing, cowork, etc.) e não tenciona comprar casa, num antagonismo absoluto em relação à geração anterior. Esta é também a geração que carregará a herança de todas as outras gerações anteriores: as alterações climáticas e crescente automatização, que terá consequências no mercado de trabalho.
Na semana passada estivemos na Go Youth Conference, um exemplo paradigmático de como a Geração Millenial tem capacidade para se recriar e redefinir. Aqui foram apresentadas ideias, pensadas e concebidas por “Millenials” e que irão, sem dúvida alguma, moldar o futuro da Humanidade. E o futuro será regido pelas consequências das alterações climáticas e pelo desenvolvimento da inteligência artificial. Se isso será negativo, não necessariamente. Na conferência, os fundadores da empresa Impossible Labs, de São Francisco, defenderam que «as alterações climáticas são a maior oportunidade que a civilização já teve». Outras start-ups defenderam que a inteligência artificial terá uma presença cada vez mais forte no mercado de trabalho, com casos práticos de pessoas que já têm “assistentes pessoais” robotizados. Tudo isto provocará estranheza, e é de facto estranho, mas será assim tão mau?
Há alguns meses, no Think Tank by Adobe, Brian David Johnson disse que «a preparação para os empregos do futuro é bastante simples, basta ser humano» em tudo o que os humanos são excelentes a fazer e que nenhuma máquina poderá fazer por eles, seja na curiosidade, na adaptação, interacção com outras pessoas ou inteligência emocional. E são de facto estas as grandes valências desta geração. E é esta a humanização que a Humanidade precisa.