Geração instável: “O único sítio onde me sentia bem era em casa”

Geração instável: “O único sítio onde me sentia bem era em casa”


Ataques de pânico, dificuldade em sair da cama, receio de falar com os pais e não serem compreendidos. Os millennials contam como lidam com a ansiedade e depressão numa altura em que, na internet, surgem novas formas de pedir ajuda, encontrar consolo e desconstruir tabus.


Tudo começou há mais ou menos dois anos com um mau estar incompreensível. Não estava bem em lado nenhum, quando estava num sítio só queria mudar para outro, mas quando chegava a esse sítio só queria não estar ali. Passado uns tempos foi-se agravando: comecei a sentir o coração a bater mais depressa, mudanças de humor repentinas. O único sítio em que me sentia bem era em casa. Em agosto de 2015, tive um ataque de pânico na autoestrada. Como dali a três dias ia de Erasmus, fui a um médico de clínica geral e fui para Erasmus a tomar xanax, não melhorei nada.

Quando voltei para Portugal, em fevereiro de 2016, decidi ir ao psiquiatra. Na primeira consulta não me deu um diagnóstico assertivo, mas eu sabia que ele sabia o que eu tinha. Comecei a tomar ansiolíticos e anti-depressivos e desde a primeira consulta que voltei a ser a pessoa que era antes disto: alegre, confiante e de bem com a vida. Estou na fase de desmame dos medicamentos. Estou a morar em Lisboa, numa cidade diferente de onde vivi a minha vida toda e estou bem. Em relação à minha família, a forma como reagiram foi completamente normal: preocupação ao início, ajuda constante, nunca me negaram nada em termos de ajuda médica e tentam sempre fazer o que acham que é melhor para mim. A minha mãe também teve problemas com ansiedade há algum tempo, por isso sabe aquilo que eu senti ao longo deste processo. Falo com eles de forma natural, não é um tabu. 

Rui, 24 anos, Porto