O mundo reage à morte de Mário Soares

O mundo reage à morte de Mário Soares


O ex-presidente é recordado como alguém indispensável para compreender o último meio século da história portuguesa, um europeísta convicto e um caráter forte, virado para o consenso dos ideais. 


O mundo reagia este sábado à morte do antigo presidente e primeiro-ministro, Mário Soares, sublinhando-lhe as credenciais como o pai da democracia portuguesa, como o responsável pela descolonização em África, e, como escreve o diário espanhol “El País”, como um homem sem quem “é impossível compreender o último meio século de Portugal”.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, escreve em comunicado sobre a “enorme consternação” com que recebeu a notícia da morte do antigo líder português. “O meu amigo Mário nunca virou a cara à luta e às responsabilidades de um democrata”, diz Juncker. “Orgulhosamente português, orgulhosamente europeu, com o seu desaparecimento Portugal e a Europa perdem um pouco de si”.

O PSOE, partido irmão dos socialistas portugueses em Espanha, envia este sábado “um abraço fraternal ao Partido Socialista pela perda de Mário Soares, um companheiro imprescindível na social-democracia do século XX”. O Partido Socialista Europeu escreve que Soares "viveu uma vida corajosa, opondo-se firmemente contra a ditadura de Salazar em Portugal". "Depois da revolução, ajudou a moldar a democracia e guiou o país no sentido da ascensão para a UE."

Do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, lê-se “um sentido pêsame ao povo português e à família de Mário Soares, grande europeísta e homem decisivo na democracia lusa”, do rei de Espanha, Felipe VI, vem "apoio e carinho" para a família de "um dos grandes líderes portugeses e europeus". 

François Hollande, presidente francês, reagiu horas depois de anunciada a morte do ex-presidente. "Com o desaparecimento de Mário Soares, a democracia portuguesa perde um dos seus heróis, a Europa um dos seus grandes líderes e a França, que o acolheu no exílio ao longo da ditadura de Salazar, um amigo de sempre".

Do Brasil, o presidente Michel Temer escreve na sua conta do Twitter, dizendo ter recebido "com tristeza a morte de Mário Soares, figura-chave do Portugal moderno, amigo do Brasil", que "o mundo perde um estadista e um defensor da democracia e da liberdade". 

O ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, alonga-se no Facebook. "Um homem comprometido durante toda a sua vida com os ideais do socialismo democrático e a construção de um mundo mais justo", escreve o antigo líder brasileiro. "Lutou contra o fascismo e contra a ditadura em sua terra natal. Sempre defendeu e trabalhou pela cooperação e intercâmbio Brasil e Portugal, aproximando nossas relações. Sempre esteve, mesmo nas horas mais difíceis, do lado certo da história."

Em Espanha

Lê-se no primeiro parágrafo do jornal de centro-esquerda espanhol: “Noventa e dois anos dão para muito, mais ainda num homem inquieto desde jovem, num escrito infatigável (dizia ter escrito mais de uma centena de livros), num caráter forte, para aguentar as prisões da ditadura e também para amenizar a deriva comunista na revolução dos cravos.”

Ainda na imprensa espanhola, o “El Mundo” descreve este sábado Soares como “um europeísta e republicano convicto, também um dos mais críticos com a crise nacional e europeia”, para além de “muito crítico com os líderes internacionais, a quem em numerosas ocasiões acusou de ‘falta de carisma’ para defender ‘os princípios da solidariedade”.

O recente diário eletrónico “El Epañol”, de centro-direita, traça as semelhanças entre Soares e o líder de centro-esquerda espanhol Felipe González como timoneiros da transição da ditadura em ambos os países, mas separa-os na idade avançada. “As suas formas de pensar distanciaram-se com a idade. Enquanto Soares se foi acercando a postulados cada vez mais esquerdistas, González fez o caminho inverso, em direção ao conservadorismo.”

Em França

O jornal francês “Libération” publica na sua edição online um breve texto escrito pelo seu diretor, Laurent Joffrin. “Cortês ao ponto da sofisticação, francófono sem sotaque, inclinado para o compromisso, dotado de uma voz em flauta que não o impedia de erguer multidões com os seus discursos inflamados, Soares dominou uma esquerda prudente que exerceu o poder alternando-o com um partido conservador”.  

O diário “Le Figaro” recupera uma entrevista concedida por Mário Soares em 1994, em que afirmava que “a humanidade vai mobilizar-se pelos seus ideais, não apenas pelos seus interesses”.

Já o “Le Monde”, que publica um texto quase inteiramente biográfico, sublinha o exílio de Soares em França, apontando o seu “regresso triunfal a Lisboa depois da operação destinada a acabar com a ditadura”.

No Brasil

O jornal "Globo" dedica uma boa parte da sua edição online à morte do antigo chefe de Estado português. Lê-se no obituário do diário brasileiro: "Um líder humanista que não hesitou na hora de se tornar um dos maiores combatentes, sem armas, contra a ditadura salazarista. Vigor que permaneceu durante toda a trajetória política, que o levou a ser eleito três vezes como primeiro-ministro e duas como presidente. Vitalidade com a qual, mesmo em idade avançada, quase meio século após triunfar sobre o regime militar, combateu as políticas de austeridade que ameaçavam ruir com o projeto europeu pelo qual lutou."