Bolívia. Justiça ordena detenção do diretor da LaMia

Bolívia. Justiça ordena detenção do diretor da LaMia


Incumprimento dos procedimentos de segurança poderá estar na origem do acidente aéreo que matou 71 pessoas


A companhia aérea que transportou a comitiva da equipa brasileira da Chapecoense está debaixo de fogo. As investigações da justiça boliviana sobre as causas que levaram o avião a despenhar-se em Rionegro, na Colômbia, com 77 pessoas a bordo, resultou na detenção do diretor da LaMia e de outros dois outros funcionários, sob a acusação de incumprimento de procedimentos obrigatórios de segurança. As detenções foram ordenadas após a realização de buscas na sede da empresa e junto das autoridades aeroportuárias. Recorde-se que o piloto da aeronave LMI2933 optou por não fazer uma escala para reabastecer, ignorando as alegadas recomendações dos responsáveis da aviação civil da Bolívia. O avião caiu a poucos quilómetros do aeroporto de destino, por falta de combustível, e morreram 71 pessoas.

Enquanto se espera pela apresentação dos resultados da análise das caixas negras do avião RJ85 da LaMia, ganha cada vez mais força a tese de que a queda do aparelho resultou da negligência dos responsáveis da companhia. Pelo menos é o que sugere a denúncia judicial que paira sobre os ombros do seu diretor-geral, Gustavo Vargas Gamboa, do diretor de manutenção, Antonio Bedregal, e de uma funcionária da empresa com funções administrativas. Os três foram detidos na terça-feira à noite e fazem parte de um grupo composto por seis membros da empresa que está sob investigação do Ministério Público boliviano. 

Citado pelo “Estadão”, o procurador-geral Ramiro Guerrero informou que a acusação à qual os funcionários terão de responder em tribunal é a de “crime de incumprimento de deveres”, que pode chegar a “crime de homicídio culposo”, caso sejam declarados responsáveis pela violação das regras obrigatórias de segurança. As detenções foram ordenadas depois de uma operação policial em larga escala, com a realização de buscas na sede da LaMia, no aeroporto internacional de Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra – de onde partiu o avião, rumo a Medellín – e na Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação da Bolívia. Vários documentos foram apreendidos pela polícia, bem como diversos computadores.

Segundo o diário espanhol “El País”, o diretor Vargas Gamboa – um ex-militar que foi piloto de diversos presidentes da Bolívia, entre 2001 e 2007, incluindo o atual chefe de Estado, Evo Morales – terá tentado ludibriar as autoridades através da apresentação de uma carta, com data anterior à do acidente, na qual renunciava à gerência da LaMia, com o intuito de evitar ser responsabilizado pela tragédia.

Funcionária em fuga

Um dos locais que foram revistados pela polícia boliviana foi a sala onde trabalhava Celia Castedo Monasterio, a funcionária que alegadamente questionou o plano de voo apresentado pelo piloto Miguel Quiroga e que apontou cinco falhas no mesmo, incluindo a inadequação do trajeto previsto, tendo em conta a autonomia do aparelho e a distância a percorrer.

Castedo fugiu na segunda-feira para o Brasil, pouco depois de saber que era alvo de um processo penal por parte da Direção Geral de Aviação Civil, pelo que a justiça boliviana suspeita que possa estar a esconder alguma coisa e até coloca a hipótese de a funcionária da autoridade de aviação civil boliviana ter falsificado os documentos de avaliação do plano de voo, partihados em primeira mão pelo jornal local “El Deber”.

“[Celia Castedo] não atravessou nenhum posto de controlo migratório. A sua saída do país foi ilegal”, referiu Carlos Romero, do ministério do governo da Bolívia, citado pelo“Estadão”. “É um claro sinal de que visa evitar a ação da justiça”, sugeriu. Segundo aquele jornal de São Paulo, a funcionária foi mesmo aconselhada pelo seu advogado, já em território brasileiro, a apresentar um pedido formal de refúgio.

Numa entrevista à Globo, o comissário de bordo Erwin Tumiri, um dos seis sobreviventes do acidente, contou que estava prevista uma escala em Cobija, na Bolívia, para a abastecimento do avião, algo que não veio a acontecer.