Excelência,
Como cidadão português, venho por este meio pedir-lhe que na visita de Estado que tem agendada para Cuba não reúna com Fidel Castro, como tem sido noticiado que irá acontecer sem qualquer desmentido por parte do Palácio de Belém.
Peço que me perdoe pela imodéstia com que não hesitei em escrever-lhe, no entanto, tendo em conta a presidência de proximidade que privilegia, achei-o necessário.
Fidel Castro já não é o Chefe-de-Estado cubano. Passou o poder ao seu irmão depois de quase cinquenta anos sem alternância democrática, o que faz dele, muito simplesmente, um ex-ditador comunista.
A visão radical que Castro personifica é similar à seguida hoje na Venezuela, onde morrem mais crianças por dia que na guerra civil síria, onde uma governação de extrema-esquerda – apoiada expressamente por partidos portugueses como o Bloco e o PCP – levou a tanta fome que as famílias comem animais dos jardins zoológicos.
Sua excelência, como bastião da democracia portuguesa e fundador do Partido Social Democrata, não compactuará certamente com tal visão do mundo. Cuba é uma República Popular e Portugal é uma República Democrática; as diferenças de regime passam pela liberdade e pela separação de poderes que sua excelência também fundou como constitucionalista depois do 25 de Abril.
Peço-lhe que não tome esta missiva como fruto de ingenuidade diplomática. É evidente que o Estado português não tem, nem pode ter, apenas relações com democracias. Seria negligente para com os portugueses espalhados por todo o mundo padecer dessa ingenuidade. Como mais alto representante da nação é natural que reúna com o líder do país que o recebe. Mas Fidel Castro já não é esse líder desde 2008.
Escrevo-lhe, senhor Presidente, na crença de que não há ninguém que conheça os portugueses como aquele que os representa na sua máxima instituição: a presidência. A popularidade que mantém desde uma retumbante eleição fazem-me acreditar que sua excelência sabe que país Portugal é. Por maioria de razão, e contrariamente ao que algumas forças minoritárias apreciariam, este país não tem nada a ver com Cuba, onde ainda hoje há uma maioria que vive esfomeada e sem liberdade.
Como católico e seguidor do Papa Francisco que o sei ser, também lhe peço que não esqueça que depois de Sua Santidade patrocinar o reestabelecer de relações entre Cuba e os Estados Unidos da América – uma abertura única que será fundamental na melhoria das condições de vida do povo cubano – Fidel Castro veio criticar publicamente e por escrito essa abertura concretizada pelo governo atual.
Desejo-lhe, senhor Presidente, uma visita segura e produtiva a Cuba, pedindo-lhe novamente que não se reúna com alguém que já não tem responsabilidades institucionais mas que terá para sempre responsabilidades históricas contra a democracia.
Com os mais respeitosos cumprimentos,