A família portuguesa que vai receber Guterres

A família portuguesa que vai receber Guterres


Segundo o último balanço oficial, trabalham no secretariado das Nações Unidas 120 portugueses. Portugal está entre os 28 países  «sobre-representados» na organização.


Jorge Gonçalves é especialista em finanças e relações comerciais e já esteve destacado na Guiné-Bissau, Cairo ou Congo. Nos últimos anos, foi um dos responsáveis na missão de emergência de resposta ao ébola na África Ocidental. Paulo Oliveira Martins é perito em logística e participou nas missões da Libéria que ajudaram a tornar possíveis as primeiras eleições depois da guerra civil. «Graças aos nossos esforços, 1,8 milhões de liberianos puderam votar», conta num perfil disponível no site de carreiras das Nações Unidas. Hoje está destacado em Nicósia, Chipre.

Manuel Pereira, consultor jurídico, trocou há 15 anos a sociedade de advogados em Portugal pelas missões internacionais depois de ver as imagens de violência após o referendo pela independência em Timor-Leste. Candidatou-se e foi destacado para a ilha. Especializou-se na proteção dos direitos de refugiados e famílias e passou depois pelo Kosovo. Agora está a trabalhar na reabilitação das prisões na Guiné-Bissau.

São três os portugueses em destaque no site da ONU, mas o número de conterrâneos que vai receber António Guterres como secretário-geral é bastante maior. Segundo o último balanço oficial, trabalham nas diferentes programas do secretariado das Nações Unidas 40 mil pessoas, entre as quais 120 portugueses – 53 mulheres e 67 homens. 

Se a maioria são anónimos, há dois portugueses que nos últimos anos têm vindo a ganhar relevo dentro da organização. Miguel Serpa Soares foi nomeado em 2013 secretário-geral adjunto para os Assuntos Jurídicos da Organização das Nações Unidas (ONU) e tem sido um dos consultores jurídicos que trabalham de perto com o secretário-geral Ban Ki-Moon, que termina o mandato no final do ano. Outra portuguesa que tem dado cartas na megaestrutura das Nações Unidas é Marta Santos Pais, nomeada em 2009 Representante Especial sobre Violência contra as Crianças, depois de ter passado pela UNICEF.

Quotas geográficas Embora muito do trabalho aconteça longe do barulho das luzes que agora estão como nunca apontadas a um português, o relatório de recursos humanos divulgado no final de agosto pelo secretariado das Nações Unidas revela que Portugal é hoje considerado um dos 28 Estados-Membros «sobre-representados» nos quadros de pessoal da organização, o que significa que futuros candidatos nacionais a emprego na ONU podem ser preteridos por outros, cujos países de origem estejam menos representados. Se ao lado de Portugal nos países sobre-representados surgem Estados como a Argentina, Filipinas, Suécia ou Quénia, no extremo oposto há 19 Estados membros sem representação e 42 que deveriam ter mais nacionais a trabalhar na ONU.

A regra decorre de um sistema de «quotas geográficas desejáveis» definido em 1948 pela assembleia-geral das Nações Unidas e que visa garantir a maior representatividade possível dentro da organização. Ao início, o número de postos a preencher por país era apenas definido pelo contributo financeiro de cada Estado membro. Desde os anos 60, porém, ser membro das ONU passa a garantir automaticamente postos de trabalho, contando também o número de habitantes de cada país, embora as quotas totais por Estado não estejam publicadas. O relatório revela que o país com maior percentagem de funcionários nas Nações Unidas é o Congo (2684). Seguem-se os Estados Unidos, onde está sediada a ONU (2578). Em terceiro lugar surge o Sudão, com 2470 funcionários. O país europeu mais representado entre o pessoal da ONU é a França, com 1504 funcionários. A maioria do pessoal trabalha nas delegações de Nova Iorque, Genebra e Nairobi.