Os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) estiveram esta quarta-feira nas instalações da PT e em casa de ex-gestores da empresa para recolher “prova complementar” no âmbito da Operação Marquês. Um escritório de advogados também foi alvo de buscas.
A informação foi divulgada ontem, já ao final da tarde, pela Procuradoria-Geral da República (PGR). “No âmbito da designada Operação Marquês, realizaram-se (…) buscas domiciliárias e não domiciliárias em vários pontos do país, designadamente em instalações de diversas sociedades do grupo PT, em residências de antigos gestores da empresa e num escritório de advogados”, refere a PGR num comunicado sobre os mais recentes desenvolvimentos da investigação.
As buscas estarão relacionadas com “eventuais ligações entre circuitos financeiros investigados neste inquérito e os grupos PT e Espírito Santo”. Entre os revistados desta semana poderão estar os antigos administradores da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro – a informação foi avançada pela “SIC Notícias” mas, até ao fecho desta edição, não tinha sido confirmada pelos dois ex-gestores visados. “Não confirmo, não desminto, nem comento”, limitou-se a dizer Henrique Granadeiro ao “Expresso”.
A sociedade LSF será o escritório de advogados que os responsáveis pela investigação visitaram esta semana. A Lima, Serra, Fernandes é detida, entre outros, por João Abrantes Serra, advogado que assessorou a PT no divórcio entre a empresa portuguesa e a brasileira Vivo.
Logo a seguir a esse corte, a PT comprou a também brasileira Oi e mais tarde decidiram uma fusão entre ambas. Mas o negócio haveria de ser reavaliado depois de a empresa de telecomunicações nacional ficar com um buraco de quase 900 milhões de euros por causa de um investimento na Rioforte (do Grupo Espírito Santo), que se perdeu com a falência da participada do GES. A Oi decidiu então vender a PT à Altice.
Em todo este processo, ficou sempre outra dúvida: o que terá levado o acionista Estado a usar a golden share para impedir numa primeira fase a venda das ações que a PT detinha na Vivo à espanhola Telefónica, em 2010.
Além disso, o advogado que agora terá sido alvo de buscas, João Abrantes Serra, foi administrador da construtora Abrantina – empresa comprada pelo Grupo Lena, de que Carlos Santos Silva, que o MP suspeita ser “testa de ferro” de Sócrates, foi administrador. Serra é também amigo de longa data do advogado brasileiro José Dirceu, o antigo ministro de Lula da Silva já condenado por crimes de corrupção nos escândalos brasileiros “Mensalão” e, mais recentemente, “Lava Jato”.
Por outro lado, as “ligações” entre Zeinal Bava e o GES têm levantado algumas dúvidas nos últimos anos. Mas as buscas desta semana foram o primeiro passo claro dado pela investigação para ligar o processo em que o antigo primeiro-ministro José Sócrates é investigado (por fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção) às movimentações de ex-gestores da PT e do GES.
Tornada pública em novembro de 2014, com a prisão de Sócrates, a Operação Marquês já somava 14 arguidos. Esta semana, foram conhecidos mais quatro, todas empresas do Grupo Lena: XLM, LEC SGPS, Lena Engenharia e Construções e Rentlei.