Na hora da despedida, António Costa parece ser um primeiro-ministro feliz. A avaliar pela quantidade e diversidade de despedidas, nem parece que Costa é o primeiro-ministro que em novembro teve de se demitir, envolvido num caso de justiça, interrompendo a menos de metade uma legislatura para a qual tinha obtido uma maioria absoluta.
O facto levanta interrogações e deixa antever que este ainda não é o tempo para António Costa meter os papeis da reforma. E o que estará nos planos do homem que até agora ocupou o Palácio de São Bento? É a pergunta que muitos fazem por estes dias, que muito provavelmente terá resposta depois das eleições europeias de junho e que deverá mesmo passar pelo lugar de sonho de Presidente do Conselho Europeu.
A vida está «a correr muito bem» a António Costa em matéria europeia, diz-nos uma fonte que conhece bem os corredores e os processos de decisão da União Europeia.
«Se até à hora da decisão não houver desenvolvimentos do processo judicial, António Costa está a um passo de ser escolhido para Presidente do Conselho», acrescentando. A garantia foi-nos dada nos últimos dias, já depois do périplo de Costa pela Europa. O chefe de Governo que deixa agora funções usou os últimos dias para despedidas prolongadas dos parceiros europeus, num roteiro que mais parecia uma operação de charme. De Von der Leyen a Macron, António Costa esteve com toda a gente que interessa nas instâncias europeias.
Sai de Bruxelas pela porta grande
Certezas só as haverá depois de apurado o resultado das eleições europeias, porque as decisões vão depender do equilíbrio de forças que sair do sufrágio. A dúvida, neste momento, reside essencialmente em saber qual vai ser o peso que os partidos de extrema direita vão ter no futuro Parlamento Europeu. Mesmo que seja grande, a verdade é que estes partidos não fazem todos parte do mesmo agrupamento partidário e só poderão alterar o xadrez se se juntarem. Se o grupo Europa das Nações, de que faz parte Marine le Pen e o grupo Independência e Democracia, a que pertence Giorgia Meloni, optarem por continuar separados, é mais do que certo que caberá aos socialistas europeus a indicação do nome para suceder a Charles Michel como Presidente do Conselho Europeu.
É neste cenário, ao dia de hoje muito provável, que António Costa está a apostar e «é o candidato mais bem colocado, a não ser que seja escolhido um homem para a Comissão e nesse caso tem que ser uma mulher a escolhida para o Conselho», diz-nos a nossa fonte.
PR e PM apostados em ajudar Costa
Agora que já não é primeiro-ministro, António Costa tem em Luís Montenegro e em Marcelo Rebelo de Sousa apoios garantidos para o ajudarem na missão de conquistar um lugar em Bruxelas.
«Um país como Portugal não pode nunca desperdiçar a oportunidade de ter um português num lugar como este e por isso é normal que as divergências políticas não contem num tema como este», garante ao Nascer do SOL fonte diplomática, que confirma que a máquina já está a funcionar ao mais alto nível.
O novo primeiro-ministro, mais do que o Presidente da República, é uma peça essencial para levar a bom porto a missão de colocar António Costa num dos principais lugares políticos de Bruxelas e, ao que garantiram ao nosso jornal, este terá sido um dos temas das conversas que Montenegro manteve com Costa nos últimos dias.
Apesar de tudo estar bem encaminhado, ainda nada está garantido e nem todas as movimentações europeias favorecem o candidato português à presidência do Conselho Europeu. Um dos obstáculos que Costa enfrentou nos últimos tempos foi a publicação de um artigo no prestigiado jornal Politico que acompanha as movimentações em Bruxelas. «A referência a Macron e Orban, como dois dos principais apoios, só pode ser uma armadilha para prejudicar a candidatura», refere-nos a nossa fonte.
Numa altura em que as movimentações políticas estão ao rubro nos corredores europeus, todos os minutos contam para o ex-primeiro-ministro português . E se o projeto europeu falhar, ainda sobra um plano B para António Costa, embora com menos hipóteses de sucesso. «Na semana a seguir à tomada de decisão dos três lugares de topo da União Europeia (Presidente da Comissão, Presidente do Conselho e Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança), a grande maioria dos primeiros ministros europeus junta-se em Washington para escolher o novo secretãrio-geral da NATO». Caso tudo falhe em Bruxelas, o nome de António Costa não é uma carta completamente fora do baralho. É certo que o nome de Mark Rutte, ex primeiro-ministro holandês, é o mais falado para o lugar, mas como estas decisões são normalmente tomadas em conjunto, ao que nos dizem, não é completamente impossível que haja novidades até ao último minuto.
É sabido que António Costa ganhou muito prestígio internacional ao longo dos oito anos em que ocupou a chefia do Governo português, é conhecido por ser alguém que encontra soluções nos momentos em que parece haver um impasse inultrapassável e os parceiros europeus querem continuar a contar com ele. Tudo a favor para voos mais altos.