EUA. A semana de Trump

EUA. A semana de Trump


Se dúvidas houvesse, ficaram dissipadas na ‘Super terça-feira’. Nikki Haley saiu de cena, deixando caminho aberto para Trump voltar a disputar a Casa Branca com Biden.


A semana que hoje termina foi a mais importante para a nomeação presidencial do Partido Republicano. A disputa, que já estava apenas entre o ex-Presidente Donald Trump e a ex-embaixadora na ONU Nikki Haley, ficou decidida na Super terça-feira, se duvidas houvesse. O quadragésimo quinto Presidente dos EUA somou à vitória esmagadora de terça-feira – venceu catorze dos quinze Estados em disputa – uma vitória ainda mais importante: levou a melhor sobre o Tribunal do Colorado, que o tentou impedir de concorrer, alegando o seu envolvimento na insurreição de 6 de janeiro de 2021. A decisão unânime do Supremo Tribunal de Justiça a favor de Trump foi o empurrão final de que o candidato precisava, até pelo timing em que foi anunciada. Nikki Haley ainda somou a primeira vitória também no início da semana, em Washington DC, mas continuou a anos luz de Trump. Um fosso que viria a acentuar-se na terça-feira, culminando na desistência da candidata.

A reedição de 2020 fica assim oficialmente confirmada e os cidadãos americanos terão de optar entre Joe Biden, o incumbente, e Trump, ainda que exista uma candidatura independente relativamente mediática: a de Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do icónico John F. Kennedy e filho de Bobby Kennedy.

A vitória no Supremo

Donald Trump conseguiu a sua maior vitória na segunda-feira, quando o Supremo decidiu que o nome do ex-Presidente constará nos boletins de voto no Colorado, Estado que invocou a terceira cláusula da décima quarta emenda, que prevê que alguém que esteja envolvido numa insurreição não poderá voltar a candidatar-se. Este ponto ficou assente após a Guerra Civil Americana e raramente foi usada, como avançou o The Washington Post. Os juízes chegaram à conclusão de que um Estado não tem o poder de eliminar um candidato do boletim de voto, referiu ainda a mesma fonte.

Trump classificou, em vários momentos e bem ao seu estilo, que se tratava de uma «caça às bruxas», mas a questão central que dominava o círculo jurídico recaía sobre a delimitação dos poderes dos Estados face aos poderes do Governo Federal. A conclusão foi que a décima quarta emenda «expande o poder federal em detrimento da autonomia dos Estados», e permitir esta ação do Colorado «inverteria o equilibro de poder estatal e federal, previsto na décima quarta emenda», notou também o principal jornal da capital americana.

O ex-Presidente agradeceu ao Supremo Tribunal de Justiça pela decisão unânime e acredita que o veredito «será muito benéfico para unir o país, que é o que o país precisa». «Trabalharam muito, de forma árdua, e francamente de forma bastante rápida em algo que será falado daqui a cem ou duzentos anos. Foi extremamente importante», acrescentou o agora candidato republicano.

A decisão não podia chegar num timing melhor para Trump, que, mesmo liderando com uma vantagem confortável, colocou-se na rampa de lançamento definitiva para a corrida à Casa Branca.

A ‘Super terça-feira’

O dia decisivo, ou pelo menos revelador, das eleições primárias americanas é a chamada ‘Super terça feira’. Quinze Estados vão às urnas para escolher o líder do partido que disputará a presidência. Do lado dos democratas, mesmo com a clara e esperada vitória de Joe Biden, soaram alguns alarmes, uma vez que o atual Presidente não venceu no território da Samoa Americana. Ainda assim, não há motivos para nervosismo, já que não terá passado de um pequeno contratempo para o candidato do Partido Democrata.

Já no lado republicano, a tendência confirmou-se: vitória esmagadora de Donald Trump, que arrecadou catorze dos quinze Estados em jogo, dando assim a machadada final nas esperanças de Haley – e de todos os republicanos fora da esfera de influência MAGA – de oferecer luta até ao final. Matematicamente, ainda seria possível para a candidata chegar à vitória, mas consciente da ‘missão impossível’ que teria pela frente, Nikki Haley tomou a decisão esperada e abandonou a corrida.

Após serem apurados os resultados de terça-feira, Donald Trump lidera por 942 delegados, contando na totalidade com 1031, o que o deixou a menos de 200 para conseguir, de forma matemática, a nomeação. A sua oponente venceu apenas no Estado de Vermont, que, por sinal, é o Estado de entre este leque de quinze que aporta menos delegados. A ex-candidata dirigiu-se aos seus apoiantes, anunciando a retirada: «Acabo a minha campanha com as mesmas palavras com que a comecei (…) Sejam fortes e corajosos, não tenham medo, não se deixem desencorajar. (…). Nesta campanha vi a grandeza do nosso país. Do fundo do coração, obrigado América».

Donald Trump, mais uma vez no estilo a que nos habituou, declarou: «Nunca houve uma [Super terça feira] como esta, nunca houve nada tão conclusivo. Foi uma noite incrível». «Vamos fazer algo que, francamente, ninguém consegue fazer há muito tempo».

Joe Biden também reagiu à vitória esclarecedora do adversário e alertou para os perigos do grupo trumpista: «Não têm de concordar em tudo para saber que o extremismo do MAGA é uma ameaça a este país. Precisamos do apoio de todos».

Consumada a reedição de 2020, e ainda que com a questão da imunidade presidencial – que Trump tem reforçado recentemente – pendente, facto é que o ex-Presidente foi o grande vencedor desta semana.