Crónica da Europa e dos bons malandros


O amigo americano está manietado e pode virar-nos as costas. A Europa está sozinha e caminha para a irrelevância. Em Portugal, os flops sucedem-se. Há muito dinheiro da Europa que é preciso gastar.


A Europa posta à prova

Num mundo carregado de nuvens negras no horizonte, a Europa começa a emudecer e a tomar consciência da sua fragilidade. O amigo americano está manietado e pode virar-nos as costas. A Europa está sozinha e caminha para a irrelevância. Amoleceu na sua defesa, perdeu competitividade e, complacente e adormecida, vai deixando minar a nossa sociedade e identidade. As instituições europeias flanam em circuito fechado na sua bolha.

A Europa, sem tecnologias e materiais, elege, praticamente sozinha, a luta contra as alterações climáticas como o seu maior e mais urgente desafio; complacente e adormecida, vai deixando instalar-se a cultura wokista do cancelamento, real e muito preocupante ameaça à nossa liberdade, identidade e estrutura social; velha e precisando de imigrantes, escancara as portas à emigração sem cuidar do sucesso efectivo das políticas de integração e de garantir a dignidade dos acolhidos, permitindo o seu isolamento em ghettos.

Instintivamente, os europeus começam a agitar-se com os sinais dos tempos e perscrutam lideranças confiáveis que, corajosas, interpretem a realidade, hierarquizem prioridades, apontem caminhos. Os europeus vão ter de mudar rapidamente de vida ou a vida deles vai mudar para muito pior. Não sendo boa nenhuma das hipóteses, a primeira é a única digna e que poderá garantir a nossa liberdade e a nossa civilização.

A Ucrânia, nossa frente avançada de defesa, vai, brevemente, pôr à prova a solidez das lideranças, consistência da solidariedade e o cimento da coesão europeias!

 

Portugal e a “malandrice”

Em Portugal, nos últimos anos, também se privilegiou a agenda wokista com alienado e vigoroso entusiasmo, enquanto a malandrice das cativações, pelo seu exagero, levou ao caos o SNS, a Educação e, duma forma geral, a Administração Pública. Gerou muita entropia no sistema.

Num Governo de génese malandra, sem capacidade e competência reformista, a energia foi a tabua de salvação para preencher cerca de 40% do PRR e que lhe permitiu anunciar 60 mil milhões € de investimentos até 2030, essencialmente centrados em torno do aumento da PRE, H2 Verde e REN. Tanto investimento asseguraria a notabilidade europeia na descarbonização, o reconhecimento dos responsáveis e também boas oportunidades de negócio (especialmente gratificantes para os trend setters e as sereias cantoras).

Acontece que a realidade é maçadora e difícil, sendo esse facto do conhecimento de qualquer cidadão ou empresa que tenha que interagir com o território. Na Energia, tal como em qualquer outra área, só se consegue “levar a carta a Garcia” com competência, planeamento e persistência no contexto de uma DGEG respeitada, motivada e com recursos, da existência de uma legislação deliberadamente simples e sem alçapões, de processos de licenciamento transparentes, céleres e eficientes e, finalmente, de trazer e ter junto do Estado (ou tornar independente), a Gestão Global dos Sistemas Energéticos com as capacidades de planeamento e informação. Isto é, o contexto tem que ter capacidade, competência, processos eficientes e com ciclos optimizados.

Nas circunstâncias atuais, o Governo, no antípoda destas condições, tenta compensar essas falhas com voluntarismo, muita decisão, muita energia. Eficácia custe o que custar, independentemente da Eficiência. Simples. Estamos no domínio da física. E do desastre!

Os flops sucedem-se, mas há muito dinheiro da Europa que é preciso gastar. Há três oportunidades que é preciso agarrar. Em 11 de novembro de 2023, já demissionário, o primeiro-ministro vai à televisão e aconselha a Nação a não desperdiçar oportunidades estratégicas para o seu desenvolvimento, a não perder os instrumentos de acção política, a garantir a liberdade da acção política e afirma que compete ao Governo assegurar a articulação das diferentes dimensões do interesse público. Na mesma altura, estava para promulgação pelo Presidente da República uma lei “simplex” que isentaria do licenciamento alguns projectos “especiais”. Um dos seus mentores, especialista costureiro do meio legislativo energético, classificá-la-ia de “lei marota” por conseguir dissimular no seu interior que fosse uma obra feita à medida.

Se os estranhos e intempestivos conselhos televisivos sobre uma acção política, correta e legalmente conformada, são do domínio da normalidade e, portanto, espectáveis, já a proposta do Governo, após deixar degradar os serviços públicos e instalar o caos, me parece ser do domínio da malandrice. Todos os processos devem ser transparentes, escrutináveis e simples e os seus proponentes ser tratados com respeito e equidade. Projetos excecionais e infelizmente raros, como o da AutoEuropa, só precisam de acompanhamento excecional. Nada mais.

Já agora, mantendo o registo malandro, tenho algumas perguntas a colocar:

A Star Campus já conseguiu assegurar o abastecimento contínuo e economicamente viável de energia? Sem custos para as famílias e a economia em geral?

E os projetos do Hidrogénio e o da eólica off-shore? A que preços? Está garantido o escrutínio público?

Sinceramente, adorava que uma resposta clara e realista me surpreendesse.

O teste da Ucrânia vai, brevemente, pôr à prova a confusão wokista, a solidez do PRR, a prioridade e consistência da política energética e o clamor solidário das nações europeias.

A malandrice sobreviverá? Espero que mudemos de vida!

 

Ex- Administrador da GDP e REN; ex-Secretário de Estado da Energia;
Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade e Subscritor do Manifesto Cívico contra o Atraso Económico e Social.

Crónica da Europa e dos bons malandros


O amigo americano está manietado e pode virar-nos as costas. A Europa está sozinha e caminha para a irrelevância. Em Portugal, os flops sucedem-se. Há muito dinheiro da Europa que é preciso gastar.


A Europa posta à prova

Num mundo carregado de nuvens negras no horizonte, a Europa começa a emudecer e a tomar consciência da sua fragilidade. O amigo americano está manietado e pode virar-nos as costas. A Europa está sozinha e caminha para a irrelevância. Amoleceu na sua defesa, perdeu competitividade e, complacente e adormecida, vai deixando minar a nossa sociedade e identidade. As instituições europeias flanam em circuito fechado na sua bolha.

A Europa, sem tecnologias e materiais, elege, praticamente sozinha, a luta contra as alterações climáticas como o seu maior e mais urgente desafio; complacente e adormecida, vai deixando instalar-se a cultura wokista do cancelamento, real e muito preocupante ameaça à nossa liberdade, identidade e estrutura social; velha e precisando de imigrantes, escancara as portas à emigração sem cuidar do sucesso efectivo das políticas de integração e de garantir a dignidade dos acolhidos, permitindo o seu isolamento em ghettos.

Instintivamente, os europeus começam a agitar-se com os sinais dos tempos e perscrutam lideranças confiáveis que, corajosas, interpretem a realidade, hierarquizem prioridades, apontem caminhos. Os europeus vão ter de mudar rapidamente de vida ou a vida deles vai mudar para muito pior. Não sendo boa nenhuma das hipóteses, a primeira é a única digna e que poderá garantir a nossa liberdade e a nossa civilização.

A Ucrânia, nossa frente avançada de defesa, vai, brevemente, pôr à prova a solidez das lideranças, consistência da solidariedade e o cimento da coesão europeias!

 

Portugal e a “malandrice”

Em Portugal, nos últimos anos, também se privilegiou a agenda wokista com alienado e vigoroso entusiasmo, enquanto a malandrice das cativações, pelo seu exagero, levou ao caos o SNS, a Educação e, duma forma geral, a Administração Pública. Gerou muita entropia no sistema.

Num Governo de génese malandra, sem capacidade e competência reformista, a energia foi a tabua de salvação para preencher cerca de 40% do PRR e que lhe permitiu anunciar 60 mil milhões € de investimentos até 2030, essencialmente centrados em torno do aumento da PRE, H2 Verde e REN. Tanto investimento asseguraria a notabilidade europeia na descarbonização, o reconhecimento dos responsáveis e também boas oportunidades de negócio (especialmente gratificantes para os trend setters e as sereias cantoras).

Acontece que a realidade é maçadora e difícil, sendo esse facto do conhecimento de qualquer cidadão ou empresa que tenha que interagir com o território. Na Energia, tal como em qualquer outra área, só se consegue “levar a carta a Garcia” com competência, planeamento e persistência no contexto de uma DGEG respeitada, motivada e com recursos, da existência de uma legislação deliberadamente simples e sem alçapões, de processos de licenciamento transparentes, céleres e eficientes e, finalmente, de trazer e ter junto do Estado (ou tornar independente), a Gestão Global dos Sistemas Energéticos com as capacidades de planeamento e informação. Isto é, o contexto tem que ter capacidade, competência, processos eficientes e com ciclos optimizados.

Nas circunstâncias atuais, o Governo, no antípoda destas condições, tenta compensar essas falhas com voluntarismo, muita decisão, muita energia. Eficácia custe o que custar, independentemente da Eficiência. Simples. Estamos no domínio da física. E do desastre!

Os flops sucedem-se, mas há muito dinheiro da Europa que é preciso gastar. Há três oportunidades que é preciso agarrar. Em 11 de novembro de 2023, já demissionário, o primeiro-ministro vai à televisão e aconselha a Nação a não desperdiçar oportunidades estratégicas para o seu desenvolvimento, a não perder os instrumentos de acção política, a garantir a liberdade da acção política e afirma que compete ao Governo assegurar a articulação das diferentes dimensões do interesse público. Na mesma altura, estava para promulgação pelo Presidente da República uma lei “simplex” que isentaria do licenciamento alguns projectos “especiais”. Um dos seus mentores, especialista costureiro do meio legislativo energético, classificá-la-ia de “lei marota” por conseguir dissimular no seu interior que fosse uma obra feita à medida.

Se os estranhos e intempestivos conselhos televisivos sobre uma acção política, correta e legalmente conformada, são do domínio da normalidade e, portanto, espectáveis, já a proposta do Governo, após deixar degradar os serviços públicos e instalar o caos, me parece ser do domínio da malandrice. Todos os processos devem ser transparentes, escrutináveis e simples e os seus proponentes ser tratados com respeito e equidade. Projetos excecionais e infelizmente raros, como o da AutoEuropa, só precisam de acompanhamento excecional. Nada mais.

Já agora, mantendo o registo malandro, tenho algumas perguntas a colocar:

A Star Campus já conseguiu assegurar o abastecimento contínuo e economicamente viável de energia? Sem custos para as famílias e a economia em geral?

E os projetos do Hidrogénio e o da eólica off-shore? A que preços? Está garantido o escrutínio público?

Sinceramente, adorava que uma resposta clara e realista me surpreendesse.

O teste da Ucrânia vai, brevemente, pôr à prova a confusão wokista, a solidez do PRR, a prioridade e consistência da política energética e o clamor solidário das nações europeias.

A malandrice sobreviverá? Espero que mudemos de vida!

 

Ex- Administrador da GDP e REN; ex-Secretário de Estado da Energia;
Subscritor do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade e Subscritor do Manifesto Cívico contra o Atraso Económico e Social.