Bandiera verde e luta de classes


 Mais tarde ou mais cedo a realidade virtual e as bolhas mediáticas são derrotadas pela dura realidade da correlação de forças nos conflitos sociais.


         Para além da mensagem numa campanha política é preciso definir a forma mais adequada de chegar ao público-alvo. Aqui pela Lusitânia a juventude que se define como “climaticamente ansiosa” é um grupo social que pretende comunicar uma mensagem política com recurso a métodos que se traduzem num conflito imediato com uma classe social que depende da mobilidade automóvel para chegar ao final de cada dia com dinheiro para comer, pagar a renda e educar os filhos. A luta entre a classe social dos sustentados pelas famílias e os que têm de sustentar as suas traduziu-se num grotesco fiasco dos eco-angustiados removidos manu militari por quem precisa de trabalhar todos os dias muitas horas para ganhar o pão. Erro na metodologia da campanha e no alvo imediato da mesma.

            Esta infantilidade metodológica, justificável pela inexperiência dos actores políticos, foi repetida, com a crença acientífica de que a multiplicação da mesma acção conduzirá a resultados diferentes. O folclore propagandístico revela uma das dimensões mais terríveis do processo de mitigação dos e de adaptação aos efeitos das alterações climáticas: o custo da descarbonização da economia não é o mesmo para todos. Tentar reduzir a luta de classes a uma luta entre gerações presentes e gerações futuras é tão inútil quanto a tentativa de transformar a gestão das consequências das alterações climáticas numa luta entre gerações presentes, entre os jovens climaticamente ansiosos e os inconscientes menos jovens que os sustentam.

            Reduzir a utilização de combustíveis fósseis (na escala decrescente do maligno: carvão, petróleo, gás natural) aumentará durante muitos e bons anos o custo da energia. Tal terá as mesmíssimas consequências do aumento da inflação: são os mais pobres que mais sofrem porque o aumento generalizado dos custos dos bens e serviços não tem em linha de conta a diferença de rendimento. A gasolina a dois euros é vendida a todos os consumidores, independentemente do respectivo escalão de IRS. Se o preço nominal do produto é o mesmo para todos os consumidores, já o sacrifício feito para o pagar varia em função do rendimento disponível.

            As alterações climáticas têm um enorme potencial para agravar desigualdades sociais e económicas. Os veículos eléctricos têm um custo várias vezes superior ao de um veículo usado com motor térmico. A escolha entre um e outro não se impõe pela racionalidade ecológica, impõe-se pela realidade económica imediata (para o longo prazo leia-se Keynes que também explicava a importância de políticas públicas ágeis para reagir a conjunturas negativas).

            Enquanto sociedade politicamente organizada vamos ter de incluir no contrato social a protecção dos que são economica e socialmente mais frágeis contra os efeitos negativos da descarbonização. Para tal existem instrumentos fiscais e de redistribuição de rendimento. Mas será precisa muita atenção e maior diligência para evitar a captura por agentes económicos ambiciosos dos benefícios económicos da descarbonização. Em português corrente: não podem ser os consumidores de energia (universo que tende a coincidir com o dos contribuintes e com o dos eleitores) a pagar actividades rentistas não justificadas de agentes económicos privados. Conhecendo a história do sector energético português nas últimas décadas a preocupação é legítima. Avanti o popolo, alla riscossa!

Bandiera verde e luta de classes


 Mais tarde ou mais cedo a realidade virtual e as bolhas mediáticas são derrotadas pela dura realidade da correlação de forças nos conflitos sociais.


         Para além da mensagem numa campanha política é preciso definir a forma mais adequada de chegar ao público-alvo. Aqui pela Lusitânia a juventude que se define como “climaticamente ansiosa” é um grupo social que pretende comunicar uma mensagem política com recurso a métodos que se traduzem num conflito imediato com uma classe social que depende da mobilidade automóvel para chegar ao final de cada dia com dinheiro para comer, pagar a renda e educar os filhos. A luta entre a classe social dos sustentados pelas famílias e os que têm de sustentar as suas traduziu-se num grotesco fiasco dos eco-angustiados removidos manu militari por quem precisa de trabalhar todos os dias muitas horas para ganhar o pão. Erro na metodologia da campanha e no alvo imediato da mesma.

            Esta infantilidade metodológica, justificável pela inexperiência dos actores políticos, foi repetida, com a crença acientífica de que a multiplicação da mesma acção conduzirá a resultados diferentes. O folclore propagandístico revela uma das dimensões mais terríveis do processo de mitigação dos e de adaptação aos efeitos das alterações climáticas: o custo da descarbonização da economia não é o mesmo para todos. Tentar reduzir a luta de classes a uma luta entre gerações presentes e gerações futuras é tão inútil quanto a tentativa de transformar a gestão das consequências das alterações climáticas numa luta entre gerações presentes, entre os jovens climaticamente ansiosos e os inconscientes menos jovens que os sustentam.

            Reduzir a utilização de combustíveis fósseis (na escala decrescente do maligno: carvão, petróleo, gás natural) aumentará durante muitos e bons anos o custo da energia. Tal terá as mesmíssimas consequências do aumento da inflação: são os mais pobres que mais sofrem porque o aumento generalizado dos custos dos bens e serviços não tem em linha de conta a diferença de rendimento. A gasolina a dois euros é vendida a todos os consumidores, independentemente do respectivo escalão de IRS. Se o preço nominal do produto é o mesmo para todos os consumidores, já o sacrifício feito para o pagar varia em função do rendimento disponível.

            As alterações climáticas têm um enorme potencial para agravar desigualdades sociais e económicas. Os veículos eléctricos têm um custo várias vezes superior ao de um veículo usado com motor térmico. A escolha entre um e outro não se impõe pela racionalidade ecológica, impõe-se pela realidade económica imediata (para o longo prazo leia-se Keynes que também explicava a importância de políticas públicas ágeis para reagir a conjunturas negativas).

            Enquanto sociedade politicamente organizada vamos ter de incluir no contrato social a protecção dos que são economica e socialmente mais frágeis contra os efeitos negativos da descarbonização. Para tal existem instrumentos fiscais e de redistribuição de rendimento. Mas será precisa muita atenção e maior diligência para evitar a captura por agentes económicos ambiciosos dos benefícios económicos da descarbonização. Em português corrente: não podem ser os consumidores de energia (universo que tende a coincidir com o dos contribuintes e com o dos eleitores) a pagar actividades rentistas não justificadas de agentes económicos privados. Conhecendo a história do sector energético português nas últimas décadas a preocupação é legítima. Avanti o popolo, alla riscossa!