A ‘marcelofobia’


Trata-se de uma fobia que atinge a bolha político-mediática, mas pouco afeta as pessoas comuns.


Nota prévia: Claramente inspirado pela invasão russa da Ucrânia, o Azerbaijão invadiu o enclave arménio de Nagorno-Karabakh, expulsando e matando os seus habitantes. É mais um ataque de muçulmanos contra cristãos, entre os muitos que ocorrem e de que pouco se fala. Por cá, não há nota de o Governo estar a desenvolver unilateralmente apoios aos refugiados, apesar de Portugal tanto dever ao arménio Calouste Gulbenkian e à fundação que tem sido o nosso verdadeiro ministério da cultura. Precisamente por isso era importante saber o que a própria fundação está a fazer para apoiar os refugiados arménios.

 

1. A “marcelofobia” é viral. Transmite-se dentro do que se define de bolha político-mediática e salta cá para fora, infetando alguma gente comum. Já existia residualmente, mas agravou-se depois de um surto de “galambite” aguda, que causou estragos estruturais graves. Desde aí, expandiu-se fulgurantemente. Contamina gente da direita à esquerda, especialmente os que aparecem nos grandes meios de comunicação audiovisuais. Não escolhe idades. Porém, afeta mais a classe BCBG, para usar o acrónimo francês. Há uma tese consistente, segundo a qual a “marcelofobia” foi desenvolvida em Lisboa a partir de um laboratório conspirativo situado num largo que já foi do Brasil. Uma definição comummente aceite refere que as fobias geram um medo e uma ansiedade desproporcionais à ameaça real. Tendem a desaparecer com o tempo. Sucedeu com o surto de “cavacofobia” (ainda persiste nalguns casos) e no de “passosfobia”, este em acelerada remissão. Fora de ironias, o facto é que está a desenvolver-se uma campanha permanente de hostilização mediática ao Presidente da República. A democracia permite-o, mas não é saudável qundo é sistemática. É verdade que o Chefe de Estado às vezes se põe a jeito. No entanto, o que está em curso é um assassinato de caráter que vai acentuar-se à medida que se aproxima o fim do mandato, que a situação do país se degrada e que os interesses e os casos de corrupção político-económica se multiplicam, preparando o futuro. Há uma coisa, porém, que os criadores do vírus desta fobia ainda não conseguiram. É transmiti-la à generalidade da população, como mostram as sondagens e a popularidade, apesar dos esforços permanentes de umas certas rádios,

TVs e jornais. A bolha não é a voz do povo. Muitas vezes é apenas conversa por incapacidade de abordar e perceber as coisas verdadeiramente importantes.

 

2. Precisamente por causa da “marcelofobia” e de um tempo em que se acumulam problemas, as palavras ou omissões dos oradores das cerimónias do 5 de Outubro, designadamente do Presidente da República, terão especial relevância. Cada uma há de ter sido judiciosamente pensada, dando indicações sobre a relação Belém-S. Bento. Outro protagonista é sempre o presidente da Câmara de Lisboa. Moedas é visto por alguns como um futuro líder do PSD e há uma certa instabilidade à volta de Luís Montenegro, embora esteja à vontade até às eleições europeias.

 

3. As escutas reveladas pela investigação do caso “Tempestade Perfeita”, envolvendo altos quadros, na altura ligados à Defesa, mostram a degradação da nossa administração pública. O que nelas é dito, a forma como se preparam planos para depois ocupar lugares e gerir negócios corruptos, desacredita a nossa democracia. Tudo aquilo é o retrato escarrapachado de situações que se contam às dezenas. O facto de se passar na Defesa (embora sem o aparente envolvimento de militares, o que se saúda) é circunstancial, porque o mal está enraizado em muitos setores e também nos decisores principais, que são políticos. A “Tempestade Perfeita” investiga o consulado de João Gomes Cravinho na Defesa. A criatura estar Ministro dos Negócios Estrangeiros afeta obviamente a imagem de Portugal, que já não é brilhante. Desde logo, porque se sabe que tinha um secretário de Estado que o alertou regularmente para o que se passava. Nada disso implica envolvimento do ministro em negociatas. Mostra, no mínimo, desleixo e incapacidade política. Cravinho há muito que não tem condições para ser governante. Galamba também não. O mais provável é que ambos permaneçam por mais uns meses, ou até anos. Para nossa vergonha coletiva.

 

4. Está a degradar-se a situação concorrencial de Portugal para captar grandes eventos, por causa da inoperacionalidade e falta de estratégia pública, em concreto do Governo. As empresas organizadoras de eventos, por exemplo, costumam alugar (bem caro, diga-se) espaços emblemáticos do Estado para os utilizarem nas suas iniciativas. Para isso, têm de os mostrar aos clientes em visitas de inspeção e obviamente garantir, à distância, a disponibilidade. Mas, por todo o país, sucedem-se confusões. Várias delas têm a ver com obras que se pretende fazer em alguns dos espaços mais simbólicos, onde naturalmente os estrangeiros gostam de ser recebidos e conviver. Com a desorganização que nos governa, é frequente não se poder garantir datas. Tudo porque o Estado, nas suas diversas facetas, é incapaz de calendarizar e de executar atempadamente trabalhos previstos em carteira. Em Portugal nada se faz a tempo e horas, a menos que se gastem milhares de milhões à pressa, como se viu na Jornada Mundial da Juventude. É por essas e por outras, como a ausência de visão estratégica, que o nosso país, considerado um paraíso do Golfe, conseguiu perder a realização do Portugal Masters, por falta de um milhão de euros de financiamento do Governo (umas duas horas de prejuízo da CP). Tudo isto acontece no momento em que se pretende recuperar a tragédia da pandemia, desenvolvendo eventos fora da época estival. Atentos, os andaluzes fizeram uma frente público/privada que está a funcionar em pleno. Estão a promover dezenas de eventos, contando com o apoio ativo da casa real. Num recente artigo, o presidente da Federação Portuguesa de Golfe explica tudo muito bem. Senhores governantes, leiam-no, ouçam-no e aprendam que há eventos que valem muitas “web summits”, não custam um décimo e não servem apenas para negócios das pastelarias e hamburguerias.

 

5. A agência Lusa é o verdadeiro pulmão da nossa comunicação social. Pela cobertura nacional, pela rede internacional e pelo rigor que, normalmente, caracteriza o seu noticiário. Nesta altura, o detentor privado de cerca de 45% da empresa está vendedor. É improvável que surjam compradores. Por outro lado, a agência voltar a ser totalmente pública traz problemas de independência, de credibilidade e, porventura, legais no espaço europeu. É importante estudar a situação, ponderar soluções e sobretudo defender a instituição e os seus funcionários, a bem de uma informação fiável.

 

6. Um grupo de editores e de radicais decretou um boicote à presença de Jaime Nogueira Pinto num encontro para discutir banda desenhada com Pacheco Pereira, na freguesia de Arroios. Alegavam, extremistas de esquerda, que Nogueira Pinto é um extremista de direita. E que fosse (?), o que nem sequer é o caso. É por causa de parvoíces “woke” deste género que, nos Estados Unidos, Trump ganha força e pode mesmo regressar à Casa Branca e que, por cá, o Chega soma e segue.

A ‘marcelofobia’


Trata-se de uma fobia que atinge a bolha político-mediática, mas pouco afeta as pessoas comuns.


Nota prévia: Claramente inspirado pela invasão russa da Ucrânia, o Azerbaijão invadiu o enclave arménio de Nagorno-Karabakh, expulsando e matando os seus habitantes. É mais um ataque de muçulmanos contra cristãos, entre os muitos que ocorrem e de que pouco se fala. Por cá, não há nota de o Governo estar a desenvolver unilateralmente apoios aos refugiados, apesar de Portugal tanto dever ao arménio Calouste Gulbenkian e à fundação que tem sido o nosso verdadeiro ministério da cultura. Precisamente por isso era importante saber o que a própria fundação está a fazer para apoiar os refugiados arménios.

 

1. A “marcelofobia” é viral. Transmite-se dentro do que se define de bolha político-mediática e salta cá para fora, infetando alguma gente comum. Já existia residualmente, mas agravou-se depois de um surto de “galambite” aguda, que causou estragos estruturais graves. Desde aí, expandiu-se fulgurantemente. Contamina gente da direita à esquerda, especialmente os que aparecem nos grandes meios de comunicação audiovisuais. Não escolhe idades. Porém, afeta mais a classe BCBG, para usar o acrónimo francês. Há uma tese consistente, segundo a qual a “marcelofobia” foi desenvolvida em Lisboa a partir de um laboratório conspirativo situado num largo que já foi do Brasil. Uma definição comummente aceite refere que as fobias geram um medo e uma ansiedade desproporcionais à ameaça real. Tendem a desaparecer com o tempo. Sucedeu com o surto de “cavacofobia” (ainda persiste nalguns casos) e no de “passosfobia”, este em acelerada remissão. Fora de ironias, o facto é que está a desenvolver-se uma campanha permanente de hostilização mediática ao Presidente da República. A democracia permite-o, mas não é saudável qundo é sistemática. É verdade que o Chefe de Estado às vezes se põe a jeito. No entanto, o que está em curso é um assassinato de caráter que vai acentuar-se à medida que se aproxima o fim do mandato, que a situação do país se degrada e que os interesses e os casos de corrupção político-económica se multiplicam, preparando o futuro. Há uma coisa, porém, que os criadores do vírus desta fobia ainda não conseguiram. É transmiti-la à generalidade da população, como mostram as sondagens e a popularidade, apesar dos esforços permanentes de umas certas rádios,

TVs e jornais. A bolha não é a voz do povo. Muitas vezes é apenas conversa por incapacidade de abordar e perceber as coisas verdadeiramente importantes.

 

2. Precisamente por causa da “marcelofobia” e de um tempo em que se acumulam problemas, as palavras ou omissões dos oradores das cerimónias do 5 de Outubro, designadamente do Presidente da República, terão especial relevância. Cada uma há de ter sido judiciosamente pensada, dando indicações sobre a relação Belém-S. Bento. Outro protagonista é sempre o presidente da Câmara de Lisboa. Moedas é visto por alguns como um futuro líder do PSD e há uma certa instabilidade à volta de Luís Montenegro, embora esteja à vontade até às eleições europeias.

 

3. As escutas reveladas pela investigação do caso “Tempestade Perfeita”, envolvendo altos quadros, na altura ligados à Defesa, mostram a degradação da nossa administração pública. O que nelas é dito, a forma como se preparam planos para depois ocupar lugares e gerir negócios corruptos, desacredita a nossa democracia. Tudo aquilo é o retrato escarrapachado de situações que se contam às dezenas. O facto de se passar na Defesa (embora sem o aparente envolvimento de militares, o que se saúda) é circunstancial, porque o mal está enraizado em muitos setores e também nos decisores principais, que são políticos. A “Tempestade Perfeita” investiga o consulado de João Gomes Cravinho na Defesa. A criatura estar Ministro dos Negócios Estrangeiros afeta obviamente a imagem de Portugal, que já não é brilhante. Desde logo, porque se sabe que tinha um secretário de Estado que o alertou regularmente para o que se passava. Nada disso implica envolvimento do ministro em negociatas. Mostra, no mínimo, desleixo e incapacidade política. Cravinho há muito que não tem condições para ser governante. Galamba também não. O mais provável é que ambos permaneçam por mais uns meses, ou até anos. Para nossa vergonha coletiva.

 

4. Está a degradar-se a situação concorrencial de Portugal para captar grandes eventos, por causa da inoperacionalidade e falta de estratégia pública, em concreto do Governo. As empresas organizadoras de eventos, por exemplo, costumam alugar (bem caro, diga-se) espaços emblemáticos do Estado para os utilizarem nas suas iniciativas. Para isso, têm de os mostrar aos clientes em visitas de inspeção e obviamente garantir, à distância, a disponibilidade. Mas, por todo o país, sucedem-se confusões. Várias delas têm a ver com obras que se pretende fazer em alguns dos espaços mais simbólicos, onde naturalmente os estrangeiros gostam de ser recebidos e conviver. Com a desorganização que nos governa, é frequente não se poder garantir datas. Tudo porque o Estado, nas suas diversas facetas, é incapaz de calendarizar e de executar atempadamente trabalhos previstos em carteira. Em Portugal nada se faz a tempo e horas, a menos que se gastem milhares de milhões à pressa, como se viu na Jornada Mundial da Juventude. É por essas e por outras, como a ausência de visão estratégica, que o nosso país, considerado um paraíso do Golfe, conseguiu perder a realização do Portugal Masters, por falta de um milhão de euros de financiamento do Governo (umas duas horas de prejuízo da CP). Tudo isto acontece no momento em que se pretende recuperar a tragédia da pandemia, desenvolvendo eventos fora da época estival. Atentos, os andaluzes fizeram uma frente público/privada que está a funcionar em pleno. Estão a promover dezenas de eventos, contando com o apoio ativo da casa real. Num recente artigo, o presidente da Federação Portuguesa de Golfe explica tudo muito bem. Senhores governantes, leiam-no, ouçam-no e aprendam que há eventos que valem muitas “web summits”, não custam um décimo e não servem apenas para negócios das pastelarias e hamburguerias.

 

5. A agência Lusa é o verdadeiro pulmão da nossa comunicação social. Pela cobertura nacional, pela rede internacional e pelo rigor que, normalmente, caracteriza o seu noticiário. Nesta altura, o detentor privado de cerca de 45% da empresa está vendedor. É improvável que surjam compradores. Por outro lado, a agência voltar a ser totalmente pública traz problemas de independência, de credibilidade e, porventura, legais no espaço europeu. É importante estudar a situação, ponderar soluções e sobretudo defender a instituição e os seus funcionários, a bem de uma informação fiável.

 

6. Um grupo de editores e de radicais decretou um boicote à presença de Jaime Nogueira Pinto num encontro para discutir banda desenhada com Pacheco Pereira, na freguesia de Arroios. Alegavam, extremistas de esquerda, que Nogueira Pinto é um extremista de direita. E que fosse (?), o que nem sequer é o caso. É por causa de parvoíces “woke” deste género que, nos Estados Unidos, Trump ganha força e pode mesmo regressar à Casa Branca e que, por cá, o Chega soma e segue.