O PAN de companhia e a evidência das más escolhas do passado


A convergência evidencia o erro das convergências do PS com um PAN fundamentalista, desfocado do essencial e desequilibrado na ponderação dos valores.


A ocasião faz o ladrão. A sobrevivência política tende a trazer à tona a evidência do oportunismo desestruturado que vigora no espaço público e mediático, em jeito de vale tudo ou de posicionamento indiferenciado só focado em nichos de causas ou eleitorais, como acontece com o bem-estar animal, exercitado amiúde com um fundamentalismo sem nexo com a realidade do país como um todo.

É assim que o PAN, dos animais e da natureza, se entregou ao decisivo papel de muleta de viabilização da manutenção do poder nas Regiões Autónomas da Madeira, depois do fracasso da coligação PSD/CDS em conquistar a ambicionada maioria absoluta. O PAN viabilizou o governo da “PANDIREITA” de Miguel Albuquerque, que prolonga a agonia do exercício político num território de cartas marcadas, conveniências e dependências doentias. O PAN, com total legitimidade democrática, mas duvidoso sentido de afirmação de um projeto focado nos animais e na natureza, é levado a juntar-se à matilha de quase meio século de poder regional.

Tantos anos de embeiço e afago do Partido Socialista com o PAN, por vezes com grande desprezo da liderança socialista por quem estava no terreno, junto das comunidades rurais e dos espaços de acolhimento das tradições como a caça ou a tauromaquia, para agora se entregarem nos braços do desvalido Albuquerque, que assegurara a demissão se o voto do povo não lhe conferisse a maioria absoluta. Não a obteve, mas contou com um PAN de companhia para continuar a ter poder. A convergência evidencia o erro das convergências do PS com um PAN fundamentalista, desfocado do essencial e desequilibrado na ponderação dos valores das dinâmicas e necessidades da sociedade portuguesa, numa espiral intolerante de impor a terceiros opções de gosto e um quadro de referência em que o ser humano está ao nível ou abaixo de outros seres.

Um erro que, em boa parte, está na origem da implantação da extrema-direita em muitos territórios rurais do interior, gerou diversas dificuldades de relacionamento dos socialistas com o Mundo Rural, as suas instituições, os produtores e os residentes comprometidos com dinâmicas que fazem parte das marcas de identidade desses territórios. Esse erro político por conveniência da sobrevivência política no Poder Central ou por fútil aparência de uma ideia de abertura democrática a ideias e propostas diferentes além das quatro paredes partidárias, teve agora a adequada correspondência política do PAN ao viabilizar um governo de direita na Madeira. Será coisa pouca se tivermos em conta que as Regiões estão nos rodapés da relevância de quem nos governa (e dos media), mas a gelatinosa opção sublinhará sempre que não vale a pena pagar o preço do irracionalismo fundamentalista de terceiros quando de forma sensata se podem concretizar respostas equilibradas na promoção do bem-estar animal, sem colocar em causa quem pense diferente, as dinâmicas rurais e a imperativa concretização de respostas essenciais para os cidadãos, em todo o território nacional e na diáspora. Essa quebra de elo com as comunidades rurais, que soma às assimetrias regionais, ao Portugal dual e à insuficiente resposta para questões fundamentais para as pessoas e os territórios, projeta-se agora no PSD, a partir do casamento de conveniência na Madeira.

Aqueles que, sob uma determinada perspetiva, poderiam ser a réstia de esperança de alternativa nacional, aliaram-se aos maiores adversários simbólicos do Mundo Rural e das tradições, o PAN. O PSD casou e o CDS-PP, o que resta dele depois de não ter ido a votos de forma autónoma na Madeira, vai viver lá em casa, sob o mesmo teto. Um e outro serão concubinos do PAN para poderem continuar a ter poder. Depois da solução nacional de governo de 2015 (PS, PCP e BE) e da solução açoriana de poder (PSD, CDS, PPM, IL e CHEGA), chegamos a uma nova expressão de vale tudo que mobiliza o PSD, o CDS e o PAN.

De mão beijada, o PS tem agora uma oportunidade de definir e concretizar uma estratégia de resgate da relação com as comunidades rurais irritadas no passado com as cedências aos fundamentalismos do PAN, aditivadas por alguns representantes socialistas urbanos sem noção do país e sem nexo com as realidades das cidades que, entretanto, lhes viraram as costas em eleições locais. A dúvida é saber se esta reabertura do mercado rural levará o PS a um esforço de recuperação desses eleitorados ou se continuará a colocar todas as fichas no conforto eleitoral conjugado dos funcionários públicos, dos pensionistas e dos beneficiários das disponibilidades orçamentais da conjuntura.

O PSD esse tem um imbróglio maior na conjugação dos gatos escondidos com rabo de fora. Quer o eleitorado tradicional rural, mas tem o apoio do PAN na Madeira. Não quer nada com o CHEGA no governo do país, mas conta com ele no governo dos Açores como pão para a boca da manutenção do poder. Não é possível ter sol na eira e chuva no nabal. Mesmo com alterações climáticas, a indiferença mediática em relação às Autonomias e a tradicional memória curta, algum dia todos saberão que a manta é curta e a coerência nula. Tem tudo para correr mal.

 

NOTAS FINAIS

AS SEMENTES DE INTOLERÂNCIA A MEDRAR. A afirmação de uma ideia, argumento ou posição passam não podem passar pela violência ou pela tentativa de anulação do outro. À esquerda e à direita emergem preocupantes fenómenos de intolerância com a diferença, de ajustes de contas com o passado aos olhos do presente e de construção de uma sociedade assética. Somar a tudo isto o laxismo no cumprimento da lei é desastroso.

 

NÃO SERÁ EMBAIXADA A MAIS AO VATICANO? A embaixada oficial do Estado ao Consistório que consagrou D. Américo Aguiar como Cardeal é um exagero. Para além dos políticos, com o SNS em risco de ainda maior fragilização nas respostas, nem o Diretor Executivo se inibiu de zarpar do país. O sentido de Estado e o serviço público já tiveram melhores dias.

O PAN de companhia e a evidência das más escolhas do passado


A convergência evidencia o erro das convergências do PS com um PAN fundamentalista, desfocado do essencial e desequilibrado na ponderação dos valores.


A ocasião faz o ladrão. A sobrevivência política tende a trazer à tona a evidência do oportunismo desestruturado que vigora no espaço público e mediático, em jeito de vale tudo ou de posicionamento indiferenciado só focado em nichos de causas ou eleitorais, como acontece com o bem-estar animal, exercitado amiúde com um fundamentalismo sem nexo com a realidade do país como um todo.

É assim que o PAN, dos animais e da natureza, se entregou ao decisivo papel de muleta de viabilização da manutenção do poder nas Regiões Autónomas da Madeira, depois do fracasso da coligação PSD/CDS em conquistar a ambicionada maioria absoluta. O PAN viabilizou o governo da “PANDIREITA” de Miguel Albuquerque, que prolonga a agonia do exercício político num território de cartas marcadas, conveniências e dependências doentias. O PAN, com total legitimidade democrática, mas duvidoso sentido de afirmação de um projeto focado nos animais e na natureza, é levado a juntar-se à matilha de quase meio século de poder regional.

Tantos anos de embeiço e afago do Partido Socialista com o PAN, por vezes com grande desprezo da liderança socialista por quem estava no terreno, junto das comunidades rurais e dos espaços de acolhimento das tradições como a caça ou a tauromaquia, para agora se entregarem nos braços do desvalido Albuquerque, que assegurara a demissão se o voto do povo não lhe conferisse a maioria absoluta. Não a obteve, mas contou com um PAN de companhia para continuar a ter poder. A convergência evidencia o erro das convergências do PS com um PAN fundamentalista, desfocado do essencial e desequilibrado na ponderação dos valores das dinâmicas e necessidades da sociedade portuguesa, numa espiral intolerante de impor a terceiros opções de gosto e um quadro de referência em que o ser humano está ao nível ou abaixo de outros seres.

Um erro que, em boa parte, está na origem da implantação da extrema-direita em muitos territórios rurais do interior, gerou diversas dificuldades de relacionamento dos socialistas com o Mundo Rural, as suas instituições, os produtores e os residentes comprometidos com dinâmicas que fazem parte das marcas de identidade desses territórios. Esse erro político por conveniência da sobrevivência política no Poder Central ou por fútil aparência de uma ideia de abertura democrática a ideias e propostas diferentes além das quatro paredes partidárias, teve agora a adequada correspondência política do PAN ao viabilizar um governo de direita na Madeira. Será coisa pouca se tivermos em conta que as Regiões estão nos rodapés da relevância de quem nos governa (e dos media), mas a gelatinosa opção sublinhará sempre que não vale a pena pagar o preço do irracionalismo fundamentalista de terceiros quando de forma sensata se podem concretizar respostas equilibradas na promoção do bem-estar animal, sem colocar em causa quem pense diferente, as dinâmicas rurais e a imperativa concretização de respostas essenciais para os cidadãos, em todo o território nacional e na diáspora. Essa quebra de elo com as comunidades rurais, que soma às assimetrias regionais, ao Portugal dual e à insuficiente resposta para questões fundamentais para as pessoas e os territórios, projeta-se agora no PSD, a partir do casamento de conveniência na Madeira.

Aqueles que, sob uma determinada perspetiva, poderiam ser a réstia de esperança de alternativa nacional, aliaram-se aos maiores adversários simbólicos do Mundo Rural e das tradições, o PAN. O PSD casou e o CDS-PP, o que resta dele depois de não ter ido a votos de forma autónoma na Madeira, vai viver lá em casa, sob o mesmo teto. Um e outro serão concubinos do PAN para poderem continuar a ter poder. Depois da solução nacional de governo de 2015 (PS, PCP e BE) e da solução açoriana de poder (PSD, CDS, PPM, IL e CHEGA), chegamos a uma nova expressão de vale tudo que mobiliza o PSD, o CDS e o PAN.

De mão beijada, o PS tem agora uma oportunidade de definir e concretizar uma estratégia de resgate da relação com as comunidades rurais irritadas no passado com as cedências aos fundamentalismos do PAN, aditivadas por alguns representantes socialistas urbanos sem noção do país e sem nexo com as realidades das cidades que, entretanto, lhes viraram as costas em eleições locais. A dúvida é saber se esta reabertura do mercado rural levará o PS a um esforço de recuperação desses eleitorados ou se continuará a colocar todas as fichas no conforto eleitoral conjugado dos funcionários públicos, dos pensionistas e dos beneficiários das disponibilidades orçamentais da conjuntura.

O PSD esse tem um imbróglio maior na conjugação dos gatos escondidos com rabo de fora. Quer o eleitorado tradicional rural, mas tem o apoio do PAN na Madeira. Não quer nada com o CHEGA no governo do país, mas conta com ele no governo dos Açores como pão para a boca da manutenção do poder. Não é possível ter sol na eira e chuva no nabal. Mesmo com alterações climáticas, a indiferença mediática em relação às Autonomias e a tradicional memória curta, algum dia todos saberão que a manta é curta e a coerência nula. Tem tudo para correr mal.

 

NOTAS FINAIS

AS SEMENTES DE INTOLERÂNCIA A MEDRAR. A afirmação de uma ideia, argumento ou posição passam não podem passar pela violência ou pela tentativa de anulação do outro. À esquerda e à direita emergem preocupantes fenómenos de intolerância com a diferença, de ajustes de contas com o passado aos olhos do presente e de construção de uma sociedade assética. Somar a tudo isto o laxismo no cumprimento da lei é desastroso.

 

NÃO SERÁ EMBAIXADA A MAIS AO VATICANO? A embaixada oficial do Estado ao Consistório que consagrou D. Américo Aguiar como Cardeal é um exagero. Para além dos políticos, com o SNS em risco de ainda maior fragilização nas respostas, nem o Diretor Executivo se inibiu de zarpar do país. O sentido de Estado e o serviço público já tiveram melhores dias.