Separados, Montenegro e o PSD vivem na mesma casa


      A crise da habitação não poupa os partidos políticos. A perda de rendimentos eleitorais, conjugada com a inflação de pequenos partidos à direita do centro direita, prolongam co-habitações entre lideranças e partidos onde já não há amor e sobram promessas incumpridas.


   As dívidas eleitorais não permitem o desquite entre o líder e o partido, não há capital político que permita arranjar já um novo líder. No entretanto mantêm-se as aparências e sobra o “faire chambre à part”. Líder e partido suspiram por eleições. O líder espera que a 24 de Setembro a Região Autónoma da Madeira lhe ofereça à escala regional uma coligação de direita apresentável e que possa colocar na montra nacional, à semelhança da que já existe na pérola do Atlântico (PSD-CDS/PP), sem ser preciso alargá-la para lá da Iniciativa Liberal e, sobretudo, sem que seja necessário repetir a experiência açoriana de casamento aberto com uma versão local do Chega. Já o PSD anseia por 9 de Junho de 2024, data anunciada pelo Borda d’Água dos passistas como a do regresso do querido líder depois de um resultado poucochinho por parte do PSD nas futuras eleições para o Parlamento Europeu. Para os mais pacientes haverá ainda eleições nos Açores em Outubro de 2024 e autárquicas em Setembro/Outubro de 2025.

            Noutras paragens o desquite foi procedimentalizado, em crescendo, uma noite fora aqui, uma ida ao estrangeiro acolá. Partilha-se a casa, leia-se o Governo, por falta de alternativas. A crise da habitação toca a todos. Costa, que, na imorredoira dedicatória de Hermínia Silva, “anda lá fora a lutar pela vida”, ainda não tem nova casa e sem Costa o PS vai viver para a rua. Com Costa também não haverá nova maioria absoluta, há limites para a repetição dos efeitos de dilatação do voto por via da profilaxia do Chega. Na longa fila dos candidatos a líder socialista já há, como nos melhores momentos fraticidas a que nos habituou o PSD, candidatos a líder de primeira e de segunda. Os de primeira ganharão congressos electivos e farão boa oposição até serem defenestrados pelos candidatos de segunda, aqueles que não serão eleitos à primeira mas que poderão ser os primeiros a regressar ao poder. A eleição em série de líderes é também a eleição do melhor líder para uma temporada na oposição.

            A escolha do momento certo para sair de casa é capital. Os períodos de férias – que   correspondem à multiplicação das angústias dos infindáveis fim-de-semana dos casais desavindos – ajudam à tomada de decisões. No entanto o Verão de 2023 assistiu ao disparar o número dos que não gozam férias ou que passaram a gozar micro-férias, dedicadas quase exclusivamente às operações logísticas de partida e de regresso à casa de morada de família. A crise da habitação traduz-se na ausência de alternativas. Perdeu-se a tradição de ir dormir para o sofá do amigo (o sofá foi vendido ou o amigo passou a dormir no sofá e a arrendar o quarto a um trio de professores deslocados) e muitos já não podem voltar para casa dos pais onde ainda estão os irmãos mais novos, não obstante serem já quarentões. A crise da habitação está no período Peter Pan: a adolescência é infindável. Em 2001 Tanguy, no filme de Étienne Chatiliez, era dado como exemplo de abusivismo filial porque, aos 28 anos, ainda vivia com os pais, beneficiando, ex gratia, do regime casa, cama, comida e roupa lavada. 22 anos depois o desejo parental de emancipação está prestes a incluir os netos.

 

           

 

Separados, Montenegro e o PSD vivem na mesma casa


      A crise da habitação não poupa os partidos políticos. A perda de rendimentos eleitorais, conjugada com a inflação de pequenos partidos à direita do centro direita, prolongam co-habitações entre lideranças e partidos onde já não há amor e sobram promessas incumpridas.


   As dívidas eleitorais não permitem o desquite entre o líder e o partido, não há capital político que permita arranjar já um novo líder. No entretanto mantêm-se as aparências e sobra o “faire chambre à part”. Líder e partido suspiram por eleições. O líder espera que a 24 de Setembro a Região Autónoma da Madeira lhe ofereça à escala regional uma coligação de direita apresentável e que possa colocar na montra nacional, à semelhança da que já existe na pérola do Atlântico (PSD-CDS/PP), sem ser preciso alargá-la para lá da Iniciativa Liberal e, sobretudo, sem que seja necessário repetir a experiência açoriana de casamento aberto com uma versão local do Chega. Já o PSD anseia por 9 de Junho de 2024, data anunciada pelo Borda d’Água dos passistas como a do regresso do querido líder depois de um resultado poucochinho por parte do PSD nas futuras eleições para o Parlamento Europeu. Para os mais pacientes haverá ainda eleições nos Açores em Outubro de 2024 e autárquicas em Setembro/Outubro de 2025.

            Noutras paragens o desquite foi procedimentalizado, em crescendo, uma noite fora aqui, uma ida ao estrangeiro acolá. Partilha-se a casa, leia-se o Governo, por falta de alternativas. A crise da habitação toca a todos. Costa, que, na imorredoira dedicatória de Hermínia Silva, “anda lá fora a lutar pela vida”, ainda não tem nova casa e sem Costa o PS vai viver para a rua. Com Costa também não haverá nova maioria absoluta, há limites para a repetição dos efeitos de dilatação do voto por via da profilaxia do Chega. Na longa fila dos candidatos a líder socialista já há, como nos melhores momentos fraticidas a que nos habituou o PSD, candidatos a líder de primeira e de segunda. Os de primeira ganharão congressos electivos e farão boa oposição até serem defenestrados pelos candidatos de segunda, aqueles que não serão eleitos à primeira mas que poderão ser os primeiros a regressar ao poder. A eleição em série de líderes é também a eleição do melhor líder para uma temporada na oposição.

            A escolha do momento certo para sair de casa é capital. Os períodos de férias – que   correspondem à multiplicação das angústias dos infindáveis fim-de-semana dos casais desavindos – ajudam à tomada de decisões. No entanto o Verão de 2023 assistiu ao disparar o número dos que não gozam férias ou que passaram a gozar micro-férias, dedicadas quase exclusivamente às operações logísticas de partida e de regresso à casa de morada de família. A crise da habitação traduz-se na ausência de alternativas. Perdeu-se a tradição de ir dormir para o sofá do amigo (o sofá foi vendido ou o amigo passou a dormir no sofá e a arrendar o quarto a um trio de professores deslocados) e muitos já não podem voltar para casa dos pais onde ainda estão os irmãos mais novos, não obstante serem já quarentões. A crise da habitação está no período Peter Pan: a adolescência é infindável. Em 2001 Tanguy, no filme de Étienne Chatiliez, era dado como exemplo de abusivismo filial porque, aos 28 anos, ainda vivia com os pais, beneficiando, ex gratia, do regime casa, cama, comida e roupa lavada. 22 anos depois o desejo parental de emancipação está prestes a incluir os netos.