Alex Rodriguez. A metamorfose de um mentiroso


Alex Rodríguez sempre teve tudo na vida. Quando acabou o liceu, apesar dos 17 anos, saltou directamente para a MLB (Major League Baseball), tendo sido a primeira escolha do draft – Seattle Mariners – em 1993. A evolução foi abissal. Estreou-se com 18 anos e à terceira época brindou os adeptos com 36 home runs…


Alex Rodríguez sempre teve tudo na vida. Quando acabou o liceu, apesar dos 17 anos, saltou directamente para a MLB (Major League Baseball), tendo sido a primeira escolha do draft – Seattle Mariners – em 1993. A evolução foi abissal. Estreou-se com 18 anos e à terceira época brindou os adeptos com 36 home runs que lhe valeram o segundo lugar na corrida ao troféu de jogador mais valioso da Liga Americana. Em campo era um cocktail explosivo de ingredientes: força, potência, velocidade e agilidade defensiva. Assumiu o papel de ídolo, mas quando o contrato terminou, em 2000, mudou de ares.

Os Texas Rangers deram-lhe um primeiro ambiente do que poderia alcançar, oferecendo-lhe o contrato mais alto da história do basebol: 252 milhões de dólares divididos por um período de dez anos. A ambição era enorme mas, apesar de ser pago a peso de ouro, não conseguiu contribuir para que a equipa atingisse os playoffs uma única vez em três temporadas. O capítulo seguinte levou-o onde está agora, nos New York Yankees. O “Império doMal”, como o presidente dos Boston Red Sox os apelidou em 2002, decidiu chegar-se à frente numa troca em que a equipa texana se comprometeu a pagar 67 dos 179 milhões restantes. Ao lado de jogadores como Mariano Rivera e Derek Jeter, sentiu-se verdadeiramente em casa, não tivesse ele nascido em Nova Iorque. O seu impacto, dentro e fora de campo, cresceu progressivamente e em 2007 bateu novo recorde, novamente com um contrato de dez anos mas com um valor total de 275 milhões de dólares.

As estatísticas aumentavam de época para época. Em 2007 tornou-se o mais jovem jogador a atingir a marca dos 500 home runs e parecia uma ameaça séria ao recorde acabado de bater por Barry Bonds (762). Por outro lado, continuava a faltar-lhe o mais importante: o título. Quando chegou teve um sabor agridoce. Por um lado havia a vitória, por outro foi precisamente na época em que confessou o uso de esteróides no passado, contradizendo a entrevista de dois anos antes. De acordo com A-Rod, a culpa foi da “enorme pressão” que sentiu para justificar os milhões recebidos nos Rangers, entre 2001 e 2003. Mas o público não o desculpou. E quando mais tarde, em 2013, voltou a ver o nome na lama, na sequência de uma longa investigação da liga em 2013, não havia volta a dar. Numa primeira fase foi suspenso por 211 encontros, mas a pena acabou reduzida para 162, o equivalente a uma temporada completa.
O ano afastado da ribalta parece ter feito bem a Alex Rodríguez. Pelo menos é o que tem parecido neste início de pré-época. A 17 de Fevereiro decidiu publicar uma carta escrita à mão a pedir desculpa aos adeptos e a assumir “responsabilidade total pelos erros que levaram à suspensão”. “Arrependo--me das opções que tornaram a minha situação pior do que precisava de ser. À Major League Baseball, aos Yankees, à família Steinbrenner [proprietária da equipa], à Associação de Jogadores e a vocês, os fãs, só posso dizer que lamento.”

Os obstáculos estavam logo previstos na carta. “Aceito que muitos não vão acreditar na minha desculpa nem em nada do que diga neste momento. Compreendo porquê e a culpa é minha”, acrescentou. Mas esta visão pessoal, de quem assinou apenas “Alex”, não era suficiente, pelo que continuou a tentar emendar o passado, aparecendo mais cedo na pré-época da equipa, quando ninguéalem o esperava, uma vez que era uma fase reservada aos mais novos. Os responsáveis não ficaram agradados com a surpresa mas não havia muito que pudessem fazer.

O contrato de Alex Rodríguez só termina daqui a três anos e o jogador tem 61 milhões para receber. Além disso, há um bónus de cerca de 30 milhões de dólares relacionado com questões de marketing, que terá a haver assim que alcance os 660 home runs de Willie Mays. Faltam-lhe quatro. O dinheiro em jogo é tanto que nem sequer é líquido que os Yankees estejam a torcer pelo êxito do jogador. “Não sei, têm de lhes perguntar”, respondeu A-Rod. “Mas criei uma grande dor de cabeça a muita gente.”

A precisar de um período calmo para planificar a época e de forma a não falhar de novo os playoffs, os Yankees não estão satisfeitos por estarem a lidar com uma questão tão complicada. Alex Rodríguez garante estar com a concentração máxima para fazer parte da equipa durante a época e o treinador Joe Girardi já afirmou que o jogador terá de provar que tem nível para isso, especialmente depois de ter estado uma época inteira afastado, naquela que foi a maior suspensão da história de um jogador por ter recorrido a substâncias proibidas.
Os jogos da pré-época começaram esta semana e Alex Rodríguez já foi utilizado. “Tem 39 anos e meio e já fez duas operações à anca. Mas nunca excluo ninguém. Temos de ver onde estará daqui a quatro semanas”, observa Girardi.