Exma. Senhora Arlete Soeiro
3ª subsecretária da secretária-adjunta
Programa de auxílio aos povos indolentes e falidos
Gabinete do secretário-geral Ban Ky-moon
Sede da ONU – NY- EUA
Dr.ª Arlete Soeiro,
Resolvi, finalmente, o mistério: o que levou Cavaco Silva às Selvagens em plena crise política estival do ano passado? Obtive as últimas confirmações de que necessitava aqui no Luxemburgo e é tempo do Secretário-geral tomar conhecimento dos factos antes da próxima sexta-feira, Dia Internacional Contra os Testes Nucleares.
A minha presença no Luxemburgo deve-se a esta trapalhada dos Espírito Santo, da ESFIL, da ESI, da Rioforte, da ESFG e dos pedidos de proteção contra credores. Soterradas pela catadupa de bancarrotas, as autoridades têm procurado nas ruas contratar portugueses que as ajudem. Mas todos respondem deitando a língua de fora e bramando: “Bah, Espírito Santo? Nah, não conheço e não sou da família!”. Procurando evitar crispações fui enviado para cooperar com os luxemburgueses. Vim por um fim-de-semana, mas já percebi que vou ficar, pelo menos, até ao fim da década…
Além dos ativos tóxicos não descobri outra relação dos Espírito Santo com o nuclear, mas investigações autónomas mostraram a importância decisiva do nuclear na remodelação governamental de há um ano. Explico-me e resolvo o mistério: Cavaco foi de supetão às Selvagens para impedir o Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia (e de mais não sei quantas pastas que para aqui não vêm ao caso), de alugar as Selvagens aos chineses para estes ali realizarem testes nucleares.
É verdade! – O Vancouver boy, o ministro que mais subsolo português vendeu a estrangeiros, tinha tudo negociado e fechado com o exército vermelho da RPC. A cerimónia de assinatura (secreta) decorreu num submarino submerso a 30 pés e emprestado pelo Paulo Portas. O Álvaro brindou: “Se nos anos cinquenta os americanos tiveram o seu atol de Bikini, por que raio os chineses não podem ter as suas Selvagens do séc. XXI? Há aqui alguma questão de pudor entre bikinis e selvagens? Caros amigos: transformem as Selvagens em Desertas que nós depois entregamo-las aos espanhóis! E nem temos micronésios para deslocar para outra ilha, apenas uma meia dúzia de cagarras!…”
Este homem que não acerta nos títulos dos livros que escreve – “O Medo do Insucesso Nacional” era obviamente para ser batizado “O Medo Nacional do Insucesso”, – contou, neste arranjinho que prometia mil milhões de euros para Portugal, com a ajuda da improvável dupla Mira Amaral-Veiga Simão, mais conhecidos como os doidinhos do nuclear. O último já morreu e o primeiro anda desaparecido, mas, dizem-me, de boa saúde.
Cavaco – sei-o agora – foi posto ao ocorrente da negociata pelo inefável Dias Loureiro, o conselheiro de Estado completamente enrolado nas trafulhices do BPN, que o Presidente ajudou a safar em 2009 quando comunicou ao país a demissão do cargo apresentada pelo Dias, exibindo aquele ar contrafeito, contrito e tristonho que tão bem compõe sempre que nos vem dizer que nada pode fazer, embora… A mais das vezes parece-me que este “embora” esconde um resto de frase do género: “…embora também nada quisesse fazer!”. Mas com sorriso e bolos…
Anos passados, como paga da anterior ajuda, quando os chineses escolheram o Loureiro para os representar no negócio com o Pereira, aquele arranjou modo de avisar o Silva. Mas só depois de ter encaixado a percentagem devida pelos clientes de Pequim. Precipitação total: a visita presidencial às Selvagens desenhada à pressa, em cima do joelho, com uma remodelação governamental a correr entre contactos para um compromisso de Salvação Nacional. Como é sabido, a nação ficou por salvar, o Pereira saltou do Governo, os chineses ficaram desertos, as cagarras continuam selvagens e o Dias voltou a deixar crescer a barba para não ser apanhado pela secreta militar chinesa. Um trabalho dos diabos!
Inclino-me e retiro-me,
Ricardo Barata de Leão
ricardobarataleao@gmail.com
