Com que Lorca Dancei. Uma valsa fotográfica que vai muito além das imagens

Com que Lorca Dancei. Uma valsa fotográfica que vai muito além das imagens


Até ao dia 28 de outubro, os amantes de fotografia (e não só), poderão visitar a exposição ‘Com que Lorca Dancei’, fixada no espaço Prosa Cultural e que, a partir de um poema de Federico García Lorca, convida os visitantes a  “entrar na área da expressão e não só da representação de alguma coisa que…


“Em Viena há dez meninas,/ um ombro onde soluça a morte / e uma floresta de pombos empalhados. / Há um fragmento da manhã / no Museu da geada. / Há um salão com mil janelas. / Ai, ai, ai, ai! / Toma esta valsa com a boca fechada…”, escreveu Federico García Lorca, considerado o mais influente e popular poeta espanhol do século XX, no poema “Pequeño Vals Vienés”, em português, “Pequena Valsa Vienense”. E, porque a poesia “é tudo o que há de íntimo em tudo” (como defendia Victor Hugo), esta transforma-se, viaja, inspira, dói e pode ser o centro de diferentes manifestações artísticas, que mergulham nos sentires dos seus criadores. É exatamente isso que acontece atualmente em Lisboa, na Prosa Cultura, espaço que desenvolve experiências educativas através do “poder transformador das artes visuais e narrativas”. Desde dia 7 de outubro que está patente a exposição intitulada, Com que Lorca Dancei. Uma exposição em forma de instalação, com uma forte abordagem experimental em torno do poema do autor espanhol.

O projeto desenvolve-se no âmbito do Grupo de Estudos Artísticos, coordenado pelos fotógrafos e formadores do Instituto Português de Fotografia (IPF): Carla Fragata, Luís Carvalhal e João de Goes, e estará disponível até dia 28 de Outubro (a entrada é livre).

 

Uma exposição com vários caminhos

“Esta exposição surge na sequência do trabalho realizado pelo grupo de estudos artísticos dos alunos do Instituto. Tivemos um curso de fotografia artística e depois os alunos quiseram continuar… Continuámos a formação em grupos semanais, eles foram desenvolvendo trabalho e no final de tudo, achámos por bem dar expressão aos trabalhos finais através de uma exposição realizada num espaço cultural”, explicou ao i Carla Fragata. Segundo a professora, o espaço foi escolhido por ser “suficientemente elástico em termos de pensamento”, já que a exposição “não é estática”. “Temos muitas instalações, muita escultura… O objetivo é sempre convidar as pessoas a sentir”, contou, acrescentando que, neste exposição, “entramos na área da expressão e não só da representação de alguma coisa que existe”.

Tal como acima referido, o mote para o trabalho foi o poema “Pequena Valsa Vienense” e, segundo Carla Fragata, “com base nas sensações que cada um dos autores sentiu, interpretou o poema à sua maneira”. “Temos, por isso, uma multiplicidade de linguagens que se cruzam: a linguagem da literatura, a da música, a da escultura… Depois é codificada através de um código que é o fotográfico. Ou seja, a exposição é de base fotográfica mas vai muito para além disso”, explicou, sublinhando a importância da “transversalidade dos universos” e “como cada área contagia as outras, inspirando a criação”. Ou seja, o grupo partiu de uma “base comum” – o poema e música –, e depois cada escolheu o seu caminho: “Há tantos caminhos diferentes… Vão desde a colagem artística a instalações com cordas de guitarra, fios de cobre, temos buracos negros”, exemplifica.

A inauguração teve direito a “sala cheia”, explica a organizadora. “Mas o mais engraçado é que são alunos que só conhecemos fisicamente agora. As aulas eram online. Eles estão super felizes de se poder conhecer pessoalmente entre si, de poderem criar laços mais firmes”, contou. Para alguns foi a primeira exposição, para outros não, “mas havia muito ânimo”. “É um momento muito importante para eles porque puderam expressar-se de uma forma um bocadinho mais livre do que habitualmente, sem os grilhões daquilo que os olhos veem”, frisou, reforçando ainda que estamos a falar de uma área que “ainda precisa de muito trabalho e muito reconhecimento”. “As pessoas associam sempre esta área aos processos físicos, no fundo, à linguagem final. Mas é muito mais do que isso! É um processo criativo que antecede a produção das imagens. É também muito interessante se falar sobre isso”, remata Carla Fragata.