Mesmo depois de já ter marcado presença em Portugal no presente ano, era de esperar que os fãs estivessem saturados ou pelo menos a contar com um previsível concerto de Nick Cave. No entanto, com uma atitude mais descomprometida e energética (era o último concerto da tour, três meses depois, avisou o australiano durante o concerto), o artista ofereceu um dos melhores e mais memoráveis concertos da primeira edição do Kalorama, entregando-se aos seus fãs de braços bem abertos num concerto que teve quase duas horas e meia de duração.
Com a sua magnética personalidade, Cave passou a maior parte do concerto junto aos fãs que se encontravam nas grades, graças a uma plataforma que o permitia deslocar-se junto aos seus fãs, que esticavam os seus braços sempre que o músico passava por estes, e o próprio respondia ora agarrando as suas mãos ora cantando em direções a estes.
Em todo o lado ao mesmo tempo, para quem veio de uma tour de três meses, Cave apresentou-se com uma grande pujança, correndo pelo palco e vociferando algumas das ferozes canções do seu arsenal, como Get Ready for Love ou From Her To Eternity, ou em “perigosos” momentos ao piano, como foi o caso do “triunvirato” de Bright Horses, I Need You e Waiting for You, que proporcionou alguns dos minutos mais emocionais do mais recente festival de verão português.
Ao contrário deste emotivo concerto que marcou o terceiro e último dia do Kalorama, que contou também com uma apaixonada performance por parte dos Ornatos Violeta, ainda a sorrir com os seus concertos de reunião, com inúmeros fãs que continuam prontos para berrar músicas como Ouvi Dizer ou Chaga, ou a eletrónica dos Disclousure, o segundo dia do certame ficou marcado pelo concerto dos Arctic Monkeys, onde a banda nunca colocou os pés no acelerador, oferece um concerto que pode ser descrito como competente.
Com uma legião de fãs já pronta para se entregar ao concerto ainda a banda de Alex Turner não tinha subido ao palco, o grupo arrancou ao som de alguns dos seus maiores “hits”, como Do I Wanna Know?, Brianstorm, Crying Lightning, e, mesmo com alguns problemas técnicos, que impediam que se ouvisse a banda no centro da plateia do Parque da Bela Vista, a audiência acompanhou as canções (com o volume da voz do público a superiorizar-se ao de Turner) e com danças efusivas.
Os britânicos não tiveram de se esforçar para contagiar a audiência portuguesa, que tratou o grupo como uma autêntica banda de culto e o vocalista (que chegou a Portugal com a cara lavada e sem barba, tal e qual como quando surgiu pela primeira vez) como um rei.
Mesmo optando por não interagir com grande entusiasmo e euforia com a audiência, o seu carisma e presença são a moeda de troca para conquistar as massas que ouviam o seu indie rock.
Mas o festival não se fez apenas de Arctic Monkeys. Duas mulheres britânicas trataram de abrir a pista de dança e procuraram ressuscitar a euforia da época da disco. No palco Colina, a inglesa Jessie Ware, acompanhada por dançarinos e cantores de coro, apresentou a sua música eletrónica com influências como a soul, assim como a irlandesa Róisín Murphy, com os seus diferentes “outfits” e contagiantes faixas.
No Palco Futura, durante um belo por do sol, a cantautora sul-africana, Alice Phoebe Lou, esteve a encantar a audiência, com a sua poderosa voz de sereia, uma plateia onde estavam reunidos inúmeros fãs fiéis, que se deleitavam com a sua intensa performance.
A encerrar a noite, enquanto o produtor britânico, Bonobo, estava no Palco Colina, o português Bruno Pernadas subiu ao Palco Futura com a sua banda a apresentar as suas músicas inspiradas numa bela mistura de estilos como jazz, rock alternativa ou música clássica.
Para além destes artistas, atuaram ainda músicos como o português, The Legendary Tigerman, a banda inglesa Blossoms ou os The Lathums.
O Kalorama encerrou este sábado, mas já foi prometida uma nova e segunda edição no próximo ano, com a organização a colocar os bilhetes à venda exclusivamente neste derradeiro dia do festival.