Sabedoria vs palratório


A estagnação do país é fruto de uma falsa sabedoria assente no debate superficial e ilusório protagonizado pela generalidade dos agentes políticos. 


Por Eduardo Baptista Correia, Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

A morte de Gorbachev ganha particular destaque na reflexão quanto ao papel dos líderes políticos. Por contraponto à atualidade de conflito bélico no Leste europeu o tempo político em que Gorbachev atuou foi um tempo de diálogo, debate e entendimento entre visões distintas do mundo e da sociedade pós 2.ª Guerra Mundial. Foi um tempo de mudanças profundas que marcaram de uma forma extraordinária, gerações que tinham nascido e crescido num mundo totalmente dividido.

O conceito cidadania do mundo ganhou espaço, o planeta ficou mais pequeno, menos preconceituoso e acima de tudo menos perigoso. A clareza dos objetivos facilitou o debate e o entendimento entre lideranças com visões da sociedade substancialmente diferentes. A sabedoria e traquejo de Gorbachev fizeram falta no trajeto percorrido desde então. Faz 30 anos foram produzidos resultados absolutamente gloriosos a bem da paz, da cidadania e de um mundo inclusivo e tolerante. A propósito desses tempos aconselho dois filmes absolutamente magníficos: Good Bye Lenin e Mao’s Last Dancer.

O facto desse homem global ter estado afastado grande parte da sua vida política, posterior aos acontecimentos políticos mais importantes do séc. XX, do epicentro da política russa e internacional, é reveladora de um modelo que desaproveita o conhecimento, o debate e acima de tudo a valiosa experiência dos séniores que ao longo da vida executaram funções com impacto extraordinário na sociedade. O papel dessa sabedoria é em muito análogo ao dos avós nas famílias.

Desaproveitá-lo constitui uma arrogância própria da mais vincada ignorância.

Também no nosso sistema político se nota uma total ausência de debate sobre os temas centrais à evolução do país. O excesso de discurso e crítica pela crítica constroem a ideia errada de debate e prejudicam a clarificação do caminho e das reformas necessárias para o efeito. 

A estagnação do país é fruto de uma falsa sabedoria assente no debate superficial e ilusório protagonizado pela generalidade dos agentes políticos. A ausência de um órgão, nomeadamente ao nível dos partidos políticos no processo de decisão e escolha de lideranças que integre um grupo de senadores (os avós) com experiência e conhecimento, constitui indubitavelmente uma forma de resolver a inexperiência e fragilidade política que tem caracterizado as lideranças.

É através do debate que o ser humano cresce, se obriga a estudar mais, que aprende com os outros e onde tem efetivamente a possibilidade de provar as capacidades de defesa e convencimento quanto aos seus argumentos. O debate é efetivamente a plataforma primeira de um sistema meritocrático. O debate é tanto melhor quanto mais se foca em ideias e projetos e menos em casos ou pessoas.

Observo que em Portugal e nos principais partidos políticos se escuta pouco os mais velhos, se promete muito ao povo e ao clã, se debate quase nada internamente e quase nada com os outros partidos, se critica de forma exagerada, se acusa de forma gratuita e que, afinal, este modelo nos tem enchido de maus resultados. 

Apesar da prática de uns e outros se acusarem mutuamente, a essência da imperfeição reside no modelo que promove a acusação no lugar do debate, promove a inexperiência no lugar do conhecimento.

Pessoalmente oiço e debato regularmente com alguns desses mais velhos com provas dadas, com história, conhecimento e sabedoria! Cada vez que converso com essas fontes de conhecimento, a maior riqueza humana, ganho dimensões de sabedoria e experiência que de outra forma dificilmente obteria. Um privilégio! Não temos ideia do desperdício que constitui para o país e para os partidos, para a inovação e evolução da sociedade, o afastamento destas figuras do epicentro do debate e da decisão política.

Por fim, não posso deixar, neste contexto, de relembrar que nas últimas eleições para a presidência do PSD, o atual presidente, então no papel de candidato, se recusou ao debate. Pelos vistos a evolução do país não necessita ser debatida. Basta, ao nível do mais sagrado na religião, acreditar…

Sabedoria vs palratório


A estagnação do país é fruto de uma falsa sabedoria assente no debate superficial e ilusório protagonizado pela generalidade dos agentes políticos. 


Por Eduardo Baptista Correia, Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

A morte de Gorbachev ganha particular destaque na reflexão quanto ao papel dos líderes políticos. Por contraponto à atualidade de conflito bélico no Leste europeu o tempo político em que Gorbachev atuou foi um tempo de diálogo, debate e entendimento entre visões distintas do mundo e da sociedade pós 2.ª Guerra Mundial. Foi um tempo de mudanças profundas que marcaram de uma forma extraordinária, gerações que tinham nascido e crescido num mundo totalmente dividido.

O conceito cidadania do mundo ganhou espaço, o planeta ficou mais pequeno, menos preconceituoso e acima de tudo menos perigoso. A clareza dos objetivos facilitou o debate e o entendimento entre lideranças com visões da sociedade substancialmente diferentes. A sabedoria e traquejo de Gorbachev fizeram falta no trajeto percorrido desde então. Faz 30 anos foram produzidos resultados absolutamente gloriosos a bem da paz, da cidadania e de um mundo inclusivo e tolerante. A propósito desses tempos aconselho dois filmes absolutamente magníficos: Good Bye Lenin e Mao’s Last Dancer.

O facto desse homem global ter estado afastado grande parte da sua vida política, posterior aos acontecimentos políticos mais importantes do séc. XX, do epicentro da política russa e internacional, é reveladora de um modelo que desaproveita o conhecimento, o debate e acima de tudo a valiosa experiência dos séniores que ao longo da vida executaram funções com impacto extraordinário na sociedade. O papel dessa sabedoria é em muito análogo ao dos avós nas famílias.

Desaproveitá-lo constitui uma arrogância própria da mais vincada ignorância.

Também no nosso sistema político se nota uma total ausência de debate sobre os temas centrais à evolução do país. O excesso de discurso e crítica pela crítica constroem a ideia errada de debate e prejudicam a clarificação do caminho e das reformas necessárias para o efeito. 

A estagnação do país é fruto de uma falsa sabedoria assente no debate superficial e ilusório protagonizado pela generalidade dos agentes políticos. A ausência de um órgão, nomeadamente ao nível dos partidos políticos no processo de decisão e escolha de lideranças que integre um grupo de senadores (os avós) com experiência e conhecimento, constitui indubitavelmente uma forma de resolver a inexperiência e fragilidade política que tem caracterizado as lideranças.

É através do debate que o ser humano cresce, se obriga a estudar mais, que aprende com os outros e onde tem efetivamente a possibilidade de provar as capacidades de defesa e convencimento quanto aos seus argumentos. O debate é efetivamente a plataforma primeira de um sistema meritocrático. O debate é tanto melhor quanto mais se foca em ideias e projetos e menos em casos ou pessoas.

Observo que em Portugal e nos principais partidos políticos se escuta pouco os mais velhos, se promete muito ao povo e ao clã, se debate quase nada internamente e quase nada com os outros partidos, se critica de forma exagerada, se acusa de forma gratuita e que, afinal, este modelo nos tem enchido de maus resultados. 

Apesar da prática de uns e outros se acusarem mutuamente, a essência da imperfeição reside no modelo que promove a acusação no lugar do debate, promove a inexperiência no lugar do conhecimento.

Pessoalmente oiço e debato regularmente com alguns desses mais velhos com provas dadas, com história, conhecimento e sabedoria! Cada vez que converso com essas fontes de conhecimento, a maior riqueza humana, ganho dimensões de sabedoria e experiência que de outra forma dificilmente obteria. Um privilégio! Não temos ideia do desperdício que constitui para o país e para os partidos, para a inovação e evolução da sociedade, o afastamento destas figuras do epicentro do debate e da decisão política.

Por fim, não posso deixar, neste contexto, de relembrar que nas últimas eleições para a presidência do PSD, o atual presidente, então no papel de candidato, se recusou ao debate. Pelos vistos a evolução do país não necessita ser debatida. Basta, ao nível do mais sagrado na religião, acreditar…