Boxe. O neto de Muhammad Ali que quer criar o seu próprio legado no ringue

Boxe. O neto de Muhammad Ali que quer criar o seu próprio legado no ringue


Nico Ali Walsh não queria carregar a herança pesada que o avô lhe deixou. Mas na sua estreia como pugilista profissional saltou para o ringue com os calções da maior lenda da história do boxe. Até aqui com um recorde invicto, agora pretende deixar a sua marca. 


Nunca é fácil para um atleta seguir as pisadas de uma lenda. Antes de se estrear no ringue com os profissionais, Nico Ali Walsh costumava tapar a tatuagem no braço direito para não atrair as atenções. A tatuagem em questão não tem nada de mal, exibe apenas a cara do avô, o antigo campeão de pesos pesados e nome incontornável do boxe Muhammad Ali. 

No seu primeiro combate profissional, no ano passado, o neto do The Greatest defrontou Jordan Weeks. Não é certo se foi o sangue que lhe corre nas veias ou a sua destreza natural e treino intensivo que lhe deu a sua primeira vitória – um KO técnico, no primeiro assalto – enquanto pugilista profissional.

No corpo, além da tatuagem, Nico levou uns calções brancos que pertenciam ao avô nos anos 60. Weeks, o seu adversário, caiu no chão e o árbitro deu por encerrado o combate 1 minuto e 49 segundos depois do início do primeiro round.

A essa soma mais cinco vitórias, mantendo para já um recorde invicto na sua curta carreira. A mais recente, frente a Reyes Sanchez, teve lugar na Pechanga Arena, em San Diego, Estados Unidos, a mesma arena onde o avô enfrentou Ken Norton num combate épico de 12 assaltos, em 1973, uma luta na qual o mítico Muhammad Ali sofreu uma fratura no maxilar e saiu derrotado.

“É um lugar especial, é uma honra lutar onde há tanta história”, afirmou o pugilista de 22 anos na antecipação do combate em San Diego, prometendo “quebrar a maldição” do avô. Após vencer a sua sexta luta consecutiva sem nenhuma derrota escreveu no Twitter: “Voltarei em breve. Esta história está longe de terminar.”

A história de Nico começa em Chicago, Illinois, onde cresceu com os pais, Robert Walsh e Rasheda Ali Walsh – uma das filhas de Muhammad Ali -, e com o irmão Biaggio. Quando se inscreveu numa academia de boxe em criança, Muhammad Ali costumava assistir aos treinos do neto por videochamada. E Nico diz que o avô lhe oferecia conselhos, mas nunca tentou moldá-lo como um pugilista.

Ainda que nunca tenha sido seu objetivo dedicar-se ao boxe profissional, subiu ao ringue pela primeira vez aos 10 anos e estreou-se no pugilismo amador passados quatro anos, tendo participado em apenas 30 combates. 

Ninguém na família o empurrou para o boxe profissional, embora tenha também uma tia, Laila Ali, que lutou como profissional de 1998 a 2007 e um tio, Mike Joyce, que é responsável pelo Celtic Boxing Club em Chicago. Em vez disso, Nico diz ter desenvolvido o gosto pela modalidade sozinho, ao mesmo tempo que lidava com a bagagem familiar que o acompanhava.

“Nunca consegui escapar ao legado do meu avô. É muito difícil de o fazer, mas é necessário aprender a aceitar esse legado. Ficamos mais fortes quando abraçamos o nosso destino”, revelou o jovem pugilista numa entrevista.

Quando a tia Laila se reformou do boxe profissional pensava-se que a dinastia Ali tinha chegado ao fim, mas Nico mudaria o rumo do seu futuro, colocando em segundo plano os estudos em Gestão na Universidade do Nevada para começar uma carreira no boxe profissional.

Toda a família está ciente das potenciais receitas que esta modalidade pode gerar, mas também  dos perigos que acarreta. Muhammad Ali, nos seus 21 anos de carreira enquanto pugilista profissional, ganhou pelo menos 60 milhões de dólares (cerca de 60 milhões de euros), mas também sofreu  lesões graves e mostrou sinais de danos neurológicos antes de ser diagnosticado com a doença de Parkinson em 1984, com a qual travou uma longa batalha de 32 anos até morrer em 2016. 

“Claro que os meus pais não querem ver o filho a sofrer dessa forma, mas não me podem proibir de lutar”, revelou Nico Ali Walsh, de acordo com o New York Times.

Agora, o jovem pugilista entra no ringue dos profissionais para tentar encontrar o equilíbrio entre honrar o avô e conseguir estabelecer o seu próprio nome neste desporto, apesar de não ignorar que a sua ligação a Muhammad Ali foi essencial para conseguir uma oportunidade de lutar perante o grande público, ao lado de outros nomes mais conhecidos e com mais experiência.

Nico é orientado por SugarHill Steward, treinador do pugilista britânico e bicampeão mundial dos pesos pesados Tyson Fury, e é agenciado por Bob Arum, fundador da Top Rank, uma promotora de boxe profissional com sede em Las Vegas,  que promoveu 27 das lutas de Muhammad Ali. 

“Quem teria acreditado que 55 anos depois de ter promovido a primeira luta de Muhammad Ali, ainda estaria a promover combates de boxe? Agenciar o neto dele seria a última coisa que me passaria pela cabeça”, declarou Arum ao mesmo jornal norte-americano. 

Segundo a CNN, o treinador SugarHill Steward não revela a Nico a identidade dos adversários que terá de enfrentar até alguns dias antes dos combates, uma estratégia que o jovem considera ser positiva para o seu desempenho.  

Embora ainda esteja no início do seu percurso, acredita que o mais importante é não se adiantar: “O meu maior objetivo é fazer uma luta de cada vez e dar o meu melhor, porque tenho expectativas muito altas e, obviamente, que o público também”.

Por agora o rumo da sua carreira é incerto, mesmo para Bob Arum que reconhece que a conquista de um título mundial está longe de acontecer. Mas para Nico Ali Walsh, o que realmente lhe interessa é fazer o suficiente para sentir que a lenda Muhammad Ali se orgulharia do neto.

“Para mim, sucesso é legado. E pode-se alcançar isso sem títulos e sem qualquer riqueza. Quando me sentir orgulhoso e bem sucedido, vou saber”, explicou ao New York Times.

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