China sugere manter política covid zero durante cinco anos

China sugere manter política covid zero durante cinco anos


Declarações de um alto dirigente do regime, depois apagadas, causaram ultraje. Cada vitória contra o vírus tem um custo demasiado alto. 


O resto do mundo, com mais sofrimento humano ou não, conseguiu começar a conviver com a covid-19. Mas Pequim, cujas duras restrições – a chamada política “covid zero” – têm garantido que a China escapava ao pior da pandemia, imagina um futuro de confinamentos constantes durante os próximos cinco anos.

Pelo menos foi o que disse o secretário para Pequim do Partido Comunista chinês, Cai Qi, ao Beijing Daily, declarações rapidamente replicadas pelo resto da imprensa estatal, esta segunda-feira. Estranhamente, todas as menções a esse prazo rapidamente desapareceram mal a notícia virou viral nas redes sociais chinesas, avançou o Guardian, causando ultraje.

Nesse mesmo dia, Xangai clamava vitória contra o seu surto de covid-19, com o anúncio de que, pela primeira vez desde março, esta megacidade com mais de 26 milhões de habitantes registou zero novas infeções. No entanto, todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, haverá outra ronda no combate ao covid-19. E que o custo foi elevadíssimo, tendo a política chinesa de covid zero forçado este polo económico e financeiro a estacar o passo, passando meses sob confinamento, desde a altura da introdução na China da variante ómicron, que tem maior taxa de contágio.

O regime chinês, além de montar sucessivas campanhas de testagem maciça, estava a optar por confinamentos localizados em Xangai, forçando bairros inteiros a entrar em quarentena, sem aviso, por vezes chegando a faltar comida e medicamentos aos seus habitantes. Outros cidadãos deram por si trancados nos seus escritórios porque algum colega testou positivo ao vírus, deparando-se com funcionários estatais equipados contra ameaças biológicas a trancar-lhes a porta.

Em Pequim as restrições tinham regressado em maio, com o fecho de escolas e escritórios durante semanas, devido a um surto de covid-19 inicialmente detetado numa discoteca. Este já está controlado, tendo sido anunciado que voltaria a haver aulas presenciais para alunos do ensino primário e básico esta segunda-feira.

Contudo, o regime chinês nem sequer teve tempo para respirar, dado que um dos grandes motores industriais da China, Shenzhen, no sul, enfrenta outro surto. As autoridades desta megacidade com mais de 12 milhões de habitantes, que liga Hong Kong à China continental, ordenaram o fecho de mercados, cinemas e ginásios em vários distritos, este sábado, três dias após serem detetados alguns casos de covid-19.

Entretanto, mesmo no seio do regime chinês, começam a surgir dúvidas quanto à sustentabilidade da política “covid zero”, expressas pela calada. “Qualquer voz que advogue desvios do atual caminho covid zero será punida”, admitiu um dirigente provincial de saúde à Lancet, preferindo, naturalmente, manter-se anónimo. “Isto não é eficiente a nível de custos e todos o sabemos”, lamentou outro, em maio. “Ninguém do topo ouve de facto os peritos”.