NATO: teremos sempre Madrid


Não deixa de ser irónica a rentabilização da Cimeira por parte de Pedro Sánchez, o líder de um PSOE (OTAN, de entrada no!) a quem Filipe González, a duras penas, fez engolir pelo referendo de 1986 a adesão à NATO.


A pergunta do referendo, votada pela maioria do eleitorado (e com uma maioria contra no País Basco, Catalunha, Navarra e Canárias…) incluía três condições: permanência à margem da estrutura militar integrada da NATO (esquecida por Aznar em 1996), proibição de entrada de armas nucleares no território espanhol (rapidamente olvidada na prática convencional com os EUA) e progressiva redução da presença militar dos EUA em Espanha (durante a Cimeira Sánchez negociou com Biden a presença permanente na base de Rota de mais 2 destroyers, a juntar a 4, integrando a defesa anti-míssil dos EUA na Europa).

Segundo nuestros hermanos a grande vitória da Cimeira teria sido o alargamento da cláusula de legítima defesa do artigo 5º do Tratado de Washington aos territórios de Ceuta e Melilla. Será bom lembrar o conceito estratégico da NATO, aprovado em 2010 na Cimeira de Lisboa e que, ao contrário do Conceito de 1999, já não referia o âmbito geográfico do artigo 6º do Tratado de Washington (territórios na Europa ou América do Norte e ilhas no Atlântico Norte).

Percebemos que a Espanha mudou e o PSOE mudou ainda mais. Mas os pundits de serviço proclamam a mudança da NATO. Será verdade? Tenho o número suficiente de calosidades causadas pelas reuniões no âmbito da “organização que se ocupa da paz e da segurança” para não acreditar numa súbita mudança. Muito antes de 24 de Fevereiro de 2022, e por mérito de Putin, a NATO já estava a conseguir que muitos dos seus membros aumentassem de forma significativa os respectivos orçamentos de defesa, em particular os relativos à compra de equipamentos e dentro destes dos tecnologicamente mais avançados. A invasão da Ucrânia trouxe de volta o programa de Lorde Ismay, o primeiro Secretário Geral da NATO: to keep the Soviet Union out, the Americans in, and the Germans down.

A primeira tarefa vai custar caro a todos, começando por aqueles que, como os portugueses, têm reduzido os efectivos, eliminado as capacidades de projecção e limitado as forças passíveis de serem destacadas ao mínimo absoluto. Para os europeus a melhor garantia de mantermos os EUA interessados na NATO seria a possibilidade de votarmos nas eleições presidenciais de 2024, evitando o comeback de Trump ou de um seu clone. A preocupação de Lorde Ismay com os alemães resultava da história coeva. Ao dia de hoje a Bundeswehr tem um grau de inoperabilidade só superado pela falta de vontade em usá-la por parte da maioria dos alemães e da respectiva classe política.

A árvore Natal dos Aliados mantém-se, como em 2010, pujante: terrorismo, cibercrime, segurança marítima, Médio Oriente, África, “High North”, retoma das negociações em matéria de desarmamento e de não proliferação nuclear, combate às alterações climáticas e manutenção da política de porta aberta a novos candidatos.

Novidades só duas. A cooperação com a ONU deixa de ter parágrafo próprio e passa a ser referida a partir de políticas concretas. A China passa a ser referida pelo nome e com dois parágrafos (o primeiro para o cacete, o segundo prometendo a cenoura) e 21 linhas (a Rússia mantém os tradicionais 2, na mesma lógica maniqueísta, e, merecidamente, 24 linhas). Os russos deixam de ser “parceiros estratégicos” e passam a “mais directa e significativa ameaça”. Já a ambição da China “desafia os nossos interesses, segurança e valores”. O mesmo se poderia dizer de alguns Aliados mas essas coisas não se dizem em família.

NATO: teremos sempre Madrid


Não deixa de ser irónica a rentabilização da Cimeira por parte de Pedro Sánchez, o líder de um PSOE (OTAN, de entrada no!) a quem Filipe González, a duras penas, fez engolir pelo referendo de 1986 a adesão à NATO.


A pergunta do referendo, votada pela maioria do eleitorado (e com uma maioria contra no País Basco, Catalunha, Navarra e Canárias…) incluía três condições: permanência à margem da estrutura militar integrada da NATO (esquecida por Aznar em 1996), proibição de entrada de armas nucleares no território espanhol (rapidamente olvidada na prática convencional com os EUA) e progressiva redução da presença militar dos EUA em Espanha (durante a Cimeira Sánchez negociou com Biden a presença permanente na base de Rota de mais 2 destroyers, a juntar a 4, integrando a defesa anti-míssil dos EUA na Europa).

Segundo nuestros hermanos a grande vitória da Cimeira teria sido o alargamento da cláusula de legítima defesa do artigo 5º do Tratado de Washington aos territórios de Ceuta e Melilla. Será bom lembrar o conceito estratégico da NATO, aprovado em 2010 na Cimeira de Lisboa e que, ao contrário do Conceito de 1999, já não referia o âmbito geográfico do artigo 6º do Tratado de Washington (territórios na Europa ou América do Norte e ilhas no Atlântico Norte).

Percebemos que a Espanha mudou e o PSOE mudou ainda mais. Mas os pundits de serviço proclamam a mudança da NATO. Será verdade? Tenho o número suficiente de calosidades causadas pelas reuniões no âmbito da “organização que se ocupa da paz e da segurança” para não acreditar numa súbita mudança. Muito antes de 24 de Fevereiro de 2022, e por mérito de Putin, a NATO já estava a conseguir que muitos dos seus membros aumentassem de forma significativa os respectivos orçamentos de defesa, em particular os relativos à compra de equipamentos e dentro destes dos tecnologicamente mais avançados. A invasão da Ucrânia trouxe de volta o programa de Lorde Ismay, o primeiro Secretário Geral da NATO: to keep the Soviet Union out, the Americans in, and the Germans down.

A primeira tarefa vai custar caro a todos, começando por aqueles que, como os portugueses, têm reduzido os efectivos, eliminado as capacidades de projecção e limitado as forças passíveis de serem destacadas ao mínimo absoluto. Para os europeus a melhor garantia de mantermos os EUA interessados na NATO seria a possibilidade de votarmos nas eleições presidenciais de 2024, evitando o comeback de Trump ou de um seu clone. A preocupação de Lorde Ismay com os alemães resultava da história coeva. Ao dia de hoje a Bundeswehr tem um grau de inoperabilidade só superado pela falta de vontade em usá-la por parte da maioria dos alemães e da respectiva classe política.

A árvore Natal dos Aliados mantém-se, como em 2010, pujante: terrorismo, cibercrime, segurança marítima, Médio Oriente, África, “High North”, retoma das negociações em matéria de desarmamento e de não proliferação nuclear, combate às alterações climáticas e manutenção da política de porta aberta a novos candidatos.

Novidades só duas. A cooperação com a ONU deixa de ter parágrafo próprio e passa a ser referida a partir de políticas concretas. A China passa a ser referida pelo nome e com dois parágrafos (o primeiro para o cacete, o segundo prometendo a cenoura) e 21 linhas (a Rússia mantém os tradicionais 2, na mesma lógica maniqueísta, e, merecidamente, 24 linhas). Os russos deixam de ser “parceiros estratégicos” e passam a “mais directa e significativa ameaça”. Já a ambição da China “desafia os nossos interesses, segurança e valores”. O mesmo se poderia dizer de alguns Aliados mas essas coisas não se dizem em família.