O Flamengo recebe amanhã o Palmeiras, num jogo que põe frente a frente os treinadores portugueses Paulo Sousa e Abel Ferreira, para a quarta jornada do Brasileirão, e que representa uma das grandes e antigas rivalidades entre clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, algo que costuma fazer mais do que simples faísca. Aliás, estarão igualmente cara a cara os dos últimos dois vencedores da Taça Libertadores, neste caso uma para o Flamengo e as duas seguintes para o Palmeiras.
É um jogo antigo, quase a cumprir cem anos de existência. A primeira vez que Flamengo e Palmeiras se defrontaram, ainda nem o Palmeiras se chamava Palmeiras e sim Palestra Itália, o clube da fortíssima comunidade italiana de São Paulo. Estávamos em 1929, e disputou-se em Sorocaba, um município do interior do Estado paulista, no Estádio Coronel Nogueira Padilha, dia 29 de Março. O Flamengo ganhou por 1-0, mas a sua grande marca na história dos adversários palmeirenses ficou guardada para o ano de 1942, dia 25 de Março. Porque foi então que, pela última vez, o Palestra Itália entrou em campo com este nome. Decorria a IIGrande Guerra e o Presidente brasileiro, Getúlio Vargas, decidiu que não queria instituições com nomes referentes aos países do Eixo, Alemanha, Itália e Japão, com os quais o Brasil entrara em guerra. Por isso, nada de Itália! E, assim sendo, o Palestra passou a Palmeiras. Até hoje.
Voltemos ao tal ano de 1929, o que deu início a mais uma das acesas contendas nas quais o futebol do Brasil é fértil como nenhum outro neste planeta redondo e apenas ligeiramente achatado nos polos. Faltava muito, e faltaria muito, para que houvesse uma autêntica competição nacional, o que se entende perfeitamente, tão vasto é o território do país e tão complicadas eram as deslocações de umas cidades para outras. Segundo revela a estatística, daí para cá, Flamengo e Palmeiras defrontaram-se por 121 vezes e o equilíbrio é notório: 47 vitórias para os verdes; 42 vitórias para os vermelhos-e-negros; 32 empates. 198-179 em golos, também favorável aos de São Paulo. E, convenhamos, depois das duas épocas recentes do Palmeiras, sob o comando de Abel Ferreira, e perante o periclitante Flamengo inicial de Paulo Sousa, não há como não atribuir, agora, favoritismos ao Verdão.
A demora Precisamente porque o campeonato do Brasil, todo inteiro, envolvendo equipas de todo o país, demorou muitos anos a ver a luz, só em 1999, imagine-se!, 70 anos após o primeiro jogo entre ambos, é que tivemos um Flamengo-Palmeiras oficial, ainda por cima numa prova internacional, a Copa Mercosul, a segunda mais importante do continente a seguir à Taça Libertadores. A Mercosul, ou Mercado Comum do Sul, era uma organização económica que reunia o Brasil, a Argentina, o Uruguai e Paraguai, e a competição contava com a presença de clubes desses países, sendo que os dois primeiros dos respetivos campeonatos tinham qualificação direta para a Libertadores.
Nem de propósito, a segunda edição da Copa Mercosul teve como finalistas Flamengo e Palmeiras que, depois de ultrapassarem uma fase inicial de grupos, jogaram os quartos-de-final e as meias-finais. A final, disputada a duas mãos, foi emocionante como poucas: vitória do Fla no Maracanã, por 4-3, como golos de Juan, Caio (2) e Reinaldo para os da casa e de Junior Baiano, Asprilla e Paulo Nunes (que chegou a jogar no Benfica) para os forasteiros. Na segunda mão, no Parque Antártica, em São Paulo, meia-dúzia de golos, desta vez divididos num empate por 3-3: Arce (2) e Paulo Nunes; Caio, Rodrigues Mendes e Lê marcaram os golos.
A última grande disputa entre Flamengo e Palmeiras é recente, data de 2021, na final da Taça Libertadores, jogada no Estádio Centenário de Montevidéu. Vitória verde por 2-1 (após prolongamento), com Deyverson a marcar o golo decisivo. Abel fez a festa. Agora, vamos ver…