Junta militar sudanesa expulsa comissão de inquérito à repressão de 2019

Junta militar sudanesa expulsa comissão de inquérito à repressão de 2019


Desde o golpe militar de 25 de outubro, o novo poder atacou várias comissões que investigam os 30 anos de ditadura militar e islâmica de Omar al-Bashir, bem como a violência que provocou mais de 250 mortos durante a revolta popular que o derrubou e as manifestações que continuaram depois.


As forças de segurança sudanesas ocuparam as instalações da comissão que investiga a morte de cerca de 100 manifestantes em 2019, denunciou hoje o chefe deste órgão independente.

Desde o golpe militar de 25 de outubro, o novo poder atacou várias comissões que investigam os 30 anos de ditadura militar e islâmica de Omar al-Bashir, bem como a violência que provocou mais de 250 mortos durante a revolta popular que o derrubou e as manifestações que continuaram depois.

"As forças de segurança ordenaram a evacuação do prédio e proibiram a entrada dos membros da comissão", que não conseguiram "recuperar nenhum documento", disse o advogado Nabil Adib em comunicado à imprensa.

As forças de segurança trouxeram consigo "civis para trabalhar nas instalações da comissão", acrescentou.

Al-Bashir foi deposto em abril de 2019 pelo exército sob pressão de manifestações populares.

Os manifestantes, no entanto, continuaram a protestar para que os militares partilhassem o poder com civis.

Em 03 de junho de 2019, a dispersão de uma manifestação popular por homens armados em uniforme militar provocou 128 mortos.

Uma primeira investigação, ordenada pelo exército, incriminou os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FSR), liderados pelo general Mohammed Hamdane Daglo, atual "número dois" do regime militar que governa o Sudão.

Uma segunda investigação foi aberta no final de 2019 pela comissão independente, hoje impedida de entrar nas suas instalações e nomeada pelo então primeiro-ministro civil Abdallah Hamdok – com o objetivo de avaliar as indemnizações a pagar às famílias das vítimas.

Os membros da comissão, que ainda não emitiram quaisquer conclusões, só retomarão os seus trabalhos quando as suas instalações forem "esvaziadas" dos novos ocupantes e apenas se puderem "garantir que nenhum documento foi falsificado ou utilizado para revelar os segredos da investigação", alertou no comunicado o advogado Nabil Adib.

Antes desta comissão, o responsável pela recuperação dos bens saqueados pelo regime de Al-Bashir encontrava-se na mira do novo poder militar, que ativistas pró-democracia acusam de procurar reinstalar o aparelho político e de segurança do antigo regime.

Dois de seus membros, que são também ministros, aguardam na prisão serem notificados das acusações.

O líder da junta militar, general Abddel-Fattah al-Burhan, foi recentemente citado na imprensa a acusar os dois de suspeita de peculato.

Milhares de manifestantes ainda protestam regularmente no Sudão para exigir justiça não só para as vítimas da repressão de 2019, mas também para os 85 manifestantes mortos em protestos contra o golpe militar de outubro.