Foi através do zoom que encontramos Casper Hughes (guitarrista), Jasper Llewellyn (baterista, violinista e vocalista) e Mike O’Malley (guitarrista e vocalista), os três membros fundadores da entusiasmante nova banda inglesa caroline, que editaram o seu primeiro disco, homónimo, na passada sexta-feira.
Apesar do grupo ser composto por oito membros, uma expansão necessária para evoluir o som do conjunto, assim nos explicam os seus fundadores, os caroline apresentam um som minimalista, influenciado por uma série de estilos de nicho, desde o midwestern emo, ao folk dos Apalaches, ao rock psicadélico, que, mais do que explosivas músicas, como parecem sugerir, dado o tamanho do grupo, preferem apostar na experiência comunal, meditativa e paciente com os seus fãs.
Em entrevista ao i, Hughes, Llewellyn e O’Malley, uma das novas “grandes cenas” da música inglesa, falam sobre como a turbulenta política inglesa tem influenciado o som da banda e como se sentem por verem o seu nome ser associado à cena “Post-Brexit Punk”.
As músicas deste disco estavam a ser escritas desde 2017, cinco anos depois, como chegaram à conclusão que este projeto estava terminado?
Mike O’Malley (MO): Quisemos lançar o disco na primeira data disponível depois de o termos concluído. Estivemos a gravar este projeto durante muito tempo, por isso, apenas dependia de nós perceber quando é que ele estava concluído. Não foi fácil colocar esse ponto final, mas eventualmente tivemos que concordar em dar todo esse processo por terminado. O disco acabou por ser lançado um ano depois de estar concluído.
Jasper Llewellyn (JL): Estamos a trabalhar no estúdio cinco horas por dia e em várias músicas ao mesmo tempo. No final, gravamos a faixa hurtle, que é um pequeno interlúdio de 50 segundos, mas, por alguma razão, ficámos tão obcecados que acabámos por regravar esta pequena faixa inúmeras vezes. Isto foi a última coisa que fizemos, pensámos para nós próprios, temos que parar, isto é ridículo.
A pandemia levou a esta demora adicional do lançamento do disco?
JL: Sim, porque também nos obrigou a cancelar uma série de concertos e a editora decidiu que não valia a pena lançar o disco porque ainda não tínhamos apresentado as músicas e éramos algo desconhecidos.
Os caroline começaram por ser uma banda de três membros, mas, atualmente, o grupo é composto por oito membros. Como é que esta expansão ajudou a evoluir o som dos caroline?
Casper Hughes (CH): Antes dos caroline, eu e o Jasper fazíamos música juntos, mas era algo completamente diferente de quando nos juntámos os três. Entretanto, com o passar do tempo, acabámos por ficar aborrecidos por estarmos apenas a fazer música para três pessoas. Começámos a ter várias ideias para adicionar novos elementos e instrumentos ao grupo, como temos muitos amigos que são excelentes músicos pareceu-nos fazer sentido convidá-los para participarem no grupo. Com novos elementos, o nosso som acabou por se tornar mais expansivo e temos mais talento no nosso arsenal que podemos usar para conseguir novas ideias.
JL: Nunca foi uma decisão do grupo sermos uma banda gigante. Fomos apenas adicionando instrumentos e músicos quando era necessário para alguma secção específica de uma música. No início, cada convidado fazia a sua parte, mas depois não tocava nas outras músicas, mas, com o passar do tempo, este processo foi-se tornando mais fluído, com vários artistas a entrarem e a sair do grupo. Tudo se tornou mais estável quando assinámos pela Rough Trade e, basicamente, tivemos que dizer quem é que fazia parte da banda. Foi assim que nos tornámos um grupo de oito pessoas. Fez-nos sentido, são todos pessoas excelentes e muito empenhadas neste projeto.
Os caroline apresentam uma mistura muito diversa e específica de estilos na sua música, como o midwestern emo ou o folk dos Apalaches, ter tantas mentes diferentes a trabalhar neste projeto contribuiu para todas estas diferentes influências?
JL: Definitivamente. Existem vários elementos de folk na composição inicial das músicas, mas, por exemplo, com a introdução dos violinos, tocados por Oliver Hamilton e Magdalena McLean, eles desenvolveram um estilo inspirado pelo country e isso acabou por ter um grande peso no som global deste projeto.
MO: A forma deles tocarem é muito interessante, porque eles não estão a acompanhar-se ou a completar-se, quase que parece que estão a tocar um por cima do outro. Não é como se estivessem a competir, mas acaba por se transformar em algo completamente diferente.
Os caroline surgem num contexto musical que é o Post-Brexit Punk, com várias bandas a surgirem na mesma altura, unidas pela desconstrução do rock e do punk aliada a elementos pouco caraterísticos deste estilo. Sentem que pertencem a este movimento?
CH: Acho que apesar de termos surgido na mesma altura, não diria que fazemos parte dessa cena, que é mais específica de grupos de Brixton que começaram a tocar na sala de espetáculos The Windmill. Além disso, não diria que temos muito a dizer sobre o Brexit na nossa música. Pessoalmente, tenho as minhas opiniões, mas não é algo que transcreva para o nosso som.
Acredito que estes grupos, tal como o vosso, apesar de não fazerem críticas diretas ao estado do país, todos tem algo a dizer na forma tensa como soam. Sei que mencionaram no passado que as eleições de 2017 foram um momento de inspiração para criar canções, mas não acredito que isso se transcreva nas letras, mas sim no ambiente que criam instrumentalmente.
CH: Costumo pensar na nova música independente britânica como uma extensão experimental das gerações anteriores, que não estavam tão interessadas em ideias como a improvisação ou técnicas de gravação. Aceito que podemos ser associados a esta nova vaga de música de guitarra, o que é uma coisa boa, porque somos fãs de alguns grupos e até já trabalhámos com membros dos black midi. Acredito que este som pode estar associado à insatisfação política. Em 2016 e 2017, os jovens ingleses sentiram-se bastante empoderados em relação à sua voz na política, porque parecia que contribuímos para o que estava a acontecer no país, e isso pode ter contribuído para estas novas bandas sentirem-se mais livres para executarem estilos musicais mais experimentais.
MO: Esse é um ponto interessante. Pergunto-me até que ponto é que ambos os elementos estarão ligados.
CH: Penso que terá a ver com o ambiente vivido em Inglaterra, que não é fácil de descrever, assim como em que fase da tua vida estavas quando se deram todas estas ruturas políticas. No nosso caso, estávamos a começar os caroline, o que terá tido algum efeito na nossa música e na que se estava a fazer nessa altura.
JL: Não gosto de pensar que existe uma ligação entre o som da nossa música com política. Quero acreditar que estou na minha própria trajetória, mesmo sendo influenciado por aquilo que me rodeia. Não discordo que por me sentir livre esteja a fazer uma música mais desamarrada, mas não sei se será assim que isso funciona.
Já que estamos a falar sobre política, como é que a banda tem reagido nos últimos meses ao mais recente escândalo do Boris Johnson, com o Partygate?
CH: Não é nenhuma surpresa, nem algo que nos tivesse deixado surpreendidos. Neste momento é quase só barulho de fundo. Fico um bocado zangado comigo por não estar mais frustrado com esta situação, uma vez que ele estava a fazer algo ilegal, mas foi algo que não me surpreendeu nada. Desde que foi eleito que sabíamos que ele era um palhaço e não nos tem surpreendido todos estes acontecimentos.
Acham que é possível ele ter tocado alguma música dos caroline nas suas festas?
CH: Duvido muito (risos). Acho que se alguma vez tocassem as nossas músicas nas conferências dos Torys eu ia dar uma de Johnny Marr dos Smiths e ia publicar um comunicado a pedir para nunca mais usarem as nossas músicas (risos).
JL: Imaginem só ele a entrar triunfalmente numa sala ao som da good morning.