1. Esta crise sublinha um falhanço estratégico do mundo livre. Ao contrário do que se verificou durante décadas, a Rússia e a China são potências aliadas, como se pode constatar pelo memorando de amizade que foi tornado público no início do mês, o qual firma uma amizade sem limites, sem áreas interditas à cooperação. Como revela Fareed Zakaria, no seu programa GPS, altos representantes da administração russa, figuram a China como “ almofada de segurança”. Para a Rússia, um poder largamente em declínio, o apoio da China é uma bênção, a qual pode diminuir o efeito das sanções adotadas pelos EUA e UE, já que os acordos comerciais em vigor entre as partes vão permitir à Rússia escoar o seu gás e, porventura, limitar os condicionalismos impostos ao seu sistema bancário. E esse é o erro. Para as grandes questões de equilíbrio geopolítico a Europa não é um ator, mas sim um território em disputa, enquanto que os EUA não foram capazes de construir uma política que levasse a que as autocracias – a China e a Rússia –, fossem sempre mais distantes uma da outra do que os EUA em relação a uma delas. É importante notar que esta amizade entre as duas potências encerra um ciclo de mais de 70 anos, marcado pelas rivalidades ideológicas que nasceram por Estaline e Mao e prosseguiram até ao não-reconhecimento da anexação da Crimeia pela China. Estamos em guerra. A Rússia ataca os nossos sistemas informáticos e destrói poderosos centros de informação essenciais para as nossas vidas, mata diplomatas e aniquila povos que deseja transformar em Estados-fantoche.
2. Há uma decisão que o mundo livre terá que tomar nos próximos dias. Se aceita ou não a submissão a que a Ucrânia está a ser sujeita. Se não a aceitar – não a aceitar a sério –, só tem uma solução: adotar as mais duras e implacáveis sanções à Rússia, sanções essas que não se podem ficar pelas meias-tintas e que necessariamente também representarão danos severos para os seus autores, para todos nós. Oiço já vozes de quem se predispõe a sacrificar os princípios em nome do conforto económico. Não o podemos fazer. Fazê-lo significaria condescender perante o mal, promovê-lo e banalizá-lo e mostrar que se os nossos princípios nos causam transtorno então estamos dispostos a substitui-los por outros. Seria uma vergonha, uma indignidade moral. É hora de dizer não.
Acordamos tarde, mas não podemos transigir. Putin tem que saber que não o tememos.
Deputado do PSD