Ténis. Mais rápido se apanha um mentiroso que um tenista?

Ténis. Mais rápido se apanha um mentiroso que um tenista?


Muitos acusaram Novak Djokovic de ‘mentir’ às autoridades australianas, ao afirmar que não tinha viajado nos 14 dias anteriores à chegada ao país. ‘Djoko’ falou num “erro humano”, e admitiu ter quebrado o isolamento para dar uma entrevista.


Dia novo, nova polémica em torno de Novak Djokovic. Desde a sua chegada à Austrália, na quarta-feira da semana passada, o tenista sérvio tem sido o centro das atenções mundiais, por uma lista já longa de polémicas em torno da sua ida para o país.

Fala-se do consequente cancelamento do visto, do recurso deste cancelamento, da sua libertação e, agora, numa altura em que a sua deportação ainda não está descartada, da admissão de “erro humano” do seu agente ao declarar que não tinha viajado nos 14 dias anteriores à chegada a Melbourne – quando passou o ano em Marbella, Espanha.

Ontem, o tenista sérvio, número um mundial, publicou um comunicado, onde culpa o seu agente por um “erro administrativo” no preenchimento da ‘papelada’ que garantia que não tinha viajado nas duas semanas anteriores à sua chegada à Austrália, apesar de o mesmo ter estado em Marbella durante a passagem de ano. E mais, o sérvio admitiu ter cometido um “erro” ao não se ter isolado após testar positivo à covid-19.

O comunicado procurava esclarecer a “contínua desinformação” que, diz, tem circulado, Nele, o tenista explica: “Participei num jogo de basquetebol em Belgrado a 14 de dezembro, após o qual foi relatado que várias pessoas deram positivo à covid-19 Apesar de não ter sintomas, fiz um teste rápido de antigénio a 16 de dezembro, que deu negativo, e em abundância de cautela, também fiz um teste PCR oficial e aprovado no mesmo dia. No dia seguinte participei num evento em Belgrado […] e fiz um teste rápido de antigénio antes de ir ao evento, e deu negativo. Eu estava assintomático e sentia-me bem, não recebi a notificação do resultado positivo do teste de PCR até depois desse evento”.

Altura esta em que tinha marcados vários compromissos, entre eles uma entrevista ao jornal francês L’Équipe, à qual o sérvio decidiu ir à mesma, apesar do resultado positivo do teste.

“Senti-me obrigado a dar a entrevista ao L’Équipe, pois não queria dececionar o jornalista, mas certifiquei-me de me distanciar socialmente e usar uma máscara, exceto quando me estavam a fotografar. Enquanto ia para casa após a entrevista para me isolar pelo período necessário, refletindo, [percebi que] isso foi um erro de julgamento e aceito que deveria ter remarcado esse compromisso”, lê-se no comunicado.

Apesar de confessar não se ter isolado depois de testar positivo, o tenista não fez qualquer referência às acusações do jornal alemão Der Spiegel, que levantam suspeitas sobre o resultado positivo do teste PCR feito por Djokovic a 16 de dezembro. Resultado este que serviu como base da argumentação do sérvio para viajar até à Austrália sem estar vacinado contra o novo coronavírus.

Recorde-se que, apesar de os tribunais australianos terem ordenado a libertação de Djokovic, o seu visto pode ainda ser cancelado pelo ministro da Imigração australiano, Alex Hawke. O mesmo, aliás, já confirmou estar a ponderar um novo cancelamento do visto, apontando a culpa do atraso na sua decisão à chegada de mais “documentação de apoio e mais submissões” de argumentos por parte dos advogados de Djokovic.

Na passada quarta-feira, à chegada à Austrália, Novak Djokovic viu o seu visto ser cancelado, alegadamente por não cumprir os requisitos necessários para poder entrar no país. Seguiram-se cinco dias em detenção, até que um juiz de Melbourne ordenou a sua libertação. Djokovic já treinou em Melbourne Park, mas o seu futuro no Open da Austrália – que venceu nove vezes na sua carreira – é ainda incerto.

Questões diplomáticas O caso polémico de Novak Djokovic levantou poeira a nível internacional, com altos dirigentes sérvios – incluindo o Presidente do país – a apoiar o tenista, e a acusar o tratamento das autoridades australianas. 

Na quarta-feira, ainda assim, foi a própria primeira-ministra sérvia que ‘puxou as orelhas’ a Djokovic. Ana Brnabic deixou um aviso à tripulação: se efetivamente houve desrespeito pelas normas de combate à pandemia de covid-19 – referindo-se ao facto de o tenista dizer que não se isolou após descobrir o resultado positivo do teste à covid-19 – isso constitui uma “violação grave” das leis do seu país natal.

“Se uma pessoa está positiva, tem de se isolar. Não sei quando [Djokovic] recebeu os resultados [do teste] e quando os viu. Trata-se de uma zona cinzenta à qual só Novak pode responder”, explicou Brnabic, em entrevista à BBC, onde defendeu também ser contra a decisão de Djokovic de não se vacinar contra o novo coronavírus.

Gafe jornalística As reviravoltas no caso de Novak Djokovic deram ainda azo a um vergonhoso momento para um canal televisivo australiano. Os jornalistas do programa 7 News Melbourne foram apanhados numa conversa privada em estúdio, gravada pelas câmaras que julgavam estar desligadas e mais tarde publicada nas redes sociais, a criticar e insultar o tenista.

“Não importa a maneira como vês isto, Novak Djokovic é um imbecil mentiroso e manhoso”, começou por criticar a jornalista Rebecca Maddern, ao que o seu colega, Mike Amor, concordou, fazendo questão ainda de continuar: “Ele tinha uma desculpa de treta e caiu nas suas próprias mentiras. Foi o que aconteceu”.

Amor ainda acrescentou acreditar que “ele [Djokovic] se vai safar” e que é concordância geral no país que o tenista “foi um idiota”.