Nos finais dos anos setenta do século vinte o movimento ambientalista começou a afirmar-se nos meios de comunicação pelas suas acções públicas contra actividades e projectos que considerava ambientalmente danosos.
Acontece que muitos desses projectos eram económica e socialmente interessantes – e nada irresponsáveis em termos ambientais – (foi o caso de aeroportos e outras infraestruturas, até hospitais) mas para os ambientalistas eles “eram aceitáveis… desde que não naquele sítio”…
Resultou daí que essa atitude tenha passado a ser conhecida, nos países anglo-saxónicos e mais tarde por todo o lado, pela abreviatura oral de NIMBY – Not In My Back Yard (ou seja, “não no meu quintal”).
A COP26 – cujo acordo final de “Coisa Nenhuma” confirmou todas as reservas que este formato político-circense tem revestido – foi a ocasião e o pretexto para o reaparecimento em força dos protestos NIMBY (incluindo em Portugal):
– Quer-se acabar com a electricidade produzida a partir do carvão mas não se revela qual a solução economicamente viável para a produção dessa electricidade nos períodos da inexorável intermitência das renováveis;
– Insiste-se na urgência de banir mesmo o carvão mas importa-se energia de países que a produzem a partir desse mesmo carvão (caso de Portugal, cujo Governo se “orgulha” de ser o primeiro da Europa a banir o carvão na produção de electricidade) e compram-se milhões e milhões de dólares de peças e produtos fabricados em países que não dispensam o carvão (caso da China, maior fornecedor externo da União Europeia);
– Anunciaram-se – como se fez em Paris, em 2015 – milhões e milhões de dólares para apoiar a transição energética nos países mais pobres mas não foi possível um acordo simples, firme e calendarizado dessas ajudas, quedando-se as promessas, outra vez, pelas NDC (“contribuições não determinadas”… e, por isso mesmo, não vinculativas);
– Para cúmulo todos “lamentaram” – mesmo os países ricos – que não se tenham atingido os níveis de apoio prometidos em Paris mas ninguém revelou quem contribuiu para as Nações Unidas, quanto recolheu a Organização e onde tal dinheiro foi gasto;
– Depois do bloqueio atávico da investigação no domínio do nuclear sem resíduos nucleares (a fusão), começa a desenhar-se a luta contra o gás natural (cuja prospecção em Portugal foi “corajosamente” – nas palavras da coordenadora do Bloco de Esquerda – proibida pela Assembleia da República) mas o Governo (do partido maioritário que viabilizou aquela proibição naquele Parlamento) diz que “vê com muita preocupação e acompanha com atenção” (cito de cor o comunicado do MNE) o encerramento do pipeline da Argélia que abastece parcialmente o país, “confiando” que a Nigéria nos vai continuar a fornecer aquele “maldito” gás;
– Os media deram eco (positivo) ao acordo que em Glasgow prometeu o termo da desflorestação mas, nomeadamente em Portugal, condenam-se as novas (e antigas) plantações que são e serão capazes de satisfazer uma procura nacional e mundial crescente de matérias primas florestais, ora finalmente consideradas como “amigas do ambiente” (por oposição aos plásticos e a muitos polímeros);
– Faz-se o elogio do papel, por ser “reutilizável, reciclável e produzido a partir de fontes renováveis” mas…com a condição de ele não ser produzido em Portugal!;
– Festeja-se o recurso rápido e maciço à mobilidade eléctrica mas todos os activistas que se prezam são contra as minas da exploração do lítio (e afins) nos seus territórios, nada dizendo sobre o facto de as baterias que se encontram debaixo dos assentos dos seus Tesla e outros, provirem da Austrália, da América do Sul, do Zimbabué e, obviamente, da China;
– Ouvem-se, sem crítica, os apelos à liderança mundial deste assunto pelos jovens, em nome do Ecossocialismo – que com mais propriedade se deveria chamar Ecofascismo – e toleram-se (e ampliam-se mesmo) os apelos à “revolta armada” contra o capitalismo e o consumismo, sem cuidar de procurar saber quem enquadra e financia essas massas reivindicativas e os seus líderes, na óbvia busca de novos poderes políticos (as personalidades mais visíveis do chamado Climáximo em Portugal são disso um bom exemplo…);
– Disfarça-se (mais) um falhanço rotundo da COP26 mas já se preparam as COP27 e 28, no Egipto e nos Emirados Árabes Unidos, em 2022 e 2023, respectivamente, mas continuam a fluir dinheiros para os “universitários activistas” da causa;
– Não se confronta o secretário geral das Nações Unidas por, a propósito da COP26, usar e abusar das expressões “a última oportunidade para salvar o planeta”, “o desastre climático” e “a catástrofe climática”, quando o mais recente relatório científico (não as súmulas oficial e oficiosas) das Nações Unidas sobre o tema das Alterações Climáticas apenas uma só vez (!) usa a expressão “crise climática” (segundo Steven E. Koonin, Professor e Doutorado no MIT, publicado no AEI – American Enterprise Institute).
Parece óbvio, para todos, que num mundo que quadruplicou (!) a sua população no século XX mas cuja temperatura “apenas” terá subido, nesse período, 1,1ºC, importa, cautelarmente, melhorar as medidas de adaptação ao fenómeno e mudar – de facto – bastantes coisas, nomeadamente melhorar a eficiência do uso dos recursos, estimular a Investigação & Desenvolvimento Tecnológico, dotando-o de coordenação mundial e de abundantes recursos financeiros e evitar populismos, através de uma informação séria.
Mas essas mudanças têm de ocorrer de forma progressiva, internacionalmente concertada e coordenada, de forma a não gerarem danos sociais maiores dos que aqueles que se apontam às Alterações Climáticas, elas próprias.