É reconhecida mundialmente a sub-representação das mulheres nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM) [1]. As razões que levam a esta situação são múltiplas, sendo uma das mais importantes a perceção ainda prevalecente na sociedade de que a engenharia é para homens. No entanto, a maioria dos estudos acerca desta temática indica que a capacidade para as áreas CTEM é independente do género [2]. Para além disso, o maior envolvimento das mulheres em CTEM é essencial para abordar os desafios complexos atuais da nossa sociedade através de maior diversidade de talento e maior equilíbrio na identificação das necessidades globais. Os possíveis benefícios da CTEM para a sociedade só serão inteiramente realizados quando se garantir a participação de todos os profissionais qualificados, independentemente do género.
O preconceito de que a engenharia é para homens é incutido nas raparigas desde os primeiros anos de vida, quer ao nível familiar, quer escolar, através da segregação de brinquedos e brincadeiras, elogios, críticas, formas de tratamento e expectativas comportamentais. Consequentemente, as raparigas vão se distanciando gradualmente das áreas de CTEM ao longo da sua vida [3], contribuindo para que, quer nas universidades, quer na vida profissional, a quantidade de mulheres existentes esteja bastante abaixo do que seria expectável. Este facto reduz ainda mais a atratividade destas áreas pois é difícil para uma rapariga imaginar-se a estudar ou a trabalhar numa área onde tem poucas referências [4].
Naturalmente, a evolução da sociedade tem vindo a promover a integração da mulher nas atividades tradicionalmente dominadas pelos homens, pelo que o aumento das mulheres nas áreas de CTEM tem vindo a aumentar de modo muito gradual. No entanto, sem medidas ativas para acelerar este processo, a mitigação total do estereótipo de género levará ainda muitas gerações [5].
O Técnico, desde 2016, com a criação do seu grupo de Gender Balance, tem realizado diversas atividades para alargar as perspetivas de futuro das raparigas nas áreas de CTEM. Uma das ações pioneiras, e inovadoras a nível nacional, foi o estabelecimento do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo em 2016. Maria de Lourdes Pintasilgo, graduada pelo Técnico em Engenharia Química, foi até hoje a única mulher que desempenhou o cargo de primeira-ministra em Portugal, e a segunda na Europa.
O Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo destina-se a galardoar anualmente duas alumnas do Técnico de duas gerações diferentes: uma antiga aluna que tenha completado o seu ciclo de estudos no Técnico há mais de 15 anos (Role Model) e que se tenha destacado pelas suas contribuições profissionais e/ou sociais, e uma recém-graduada do Técnico (Young Alumna) com menos de 27 anos que se tenha destacado pela qualidade científica da dissertação de Mestrado e pelo seu percurso académico no Técnico.
O prémio para a Young Alumna é monetário e reflete a preocupação do Técnico em dar às suas alunas as melhores condições e reconhecimento pela sua dedicação às áreas CTEM, que tanto beneficiam a excelência da Escola. Nas cinco edições do prémio foram distinguidas alunas com percursos académicos diferentes, desde Eng. Biológica, Matemática, Eng. Física, Eng. Informática até à Eng. Biomédica. Desde a quinta edição, o prémio para a Young Alumna conta com o patrocínio da empresa Filstone – Comércio de Rochas, SA, empresa reconhecida internacionalmente e que tem colaborado com o Técnico em diversas ações de promoção do ensino.
O prémio para a categoria alumna Role Model tem como objetivo distinguir profissionais das áreas de STEM que são exemplos de sucesso na nossa sociedade. Nas cinco edições do prémio foram distinguidas personalidades nas áreas da Política, Saúde, Educação, Tecnologias de Informação e Comunicação, e Investigação Científica.
É muito importante haver referências femininas exemplares na nossa sociedade que escolheram estudar as áreas de CTEM. É fundamental que as jovens saibam que as áreas de CTEM abrem muitas possibilidades de carreira e possibilidades de sucesso mesmo em áreas tradicionalmente vistas como fechadas às mulheres. E a missão do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo será cumprida quando as futuras engenheiras puderem ambicionar a concretização dos seus sonhos sem limites nem preconceitos.
Os prémios Maria de Lourdes Pintasilgo deste ano serão entregues no dia 6 de dezembro, no Técnico, às antigas alunas Helena Pereira (role model) e Maria Teresa Parreira ( Young Alumna).
Para mais informação consultar: http://genderbalance.tecnico.ulisboa.pt
Professores do Instituto Superior Técnico e coordenadores do grupo gender balance
Referências:
[1] She Figures 2021, The path towards gender equality in research and innovation (R&I),
https://op.europa.eu/en/web/eu-law-and-publications/publication-detail/-/publication/61564e1f-d55e-11eb-895a-01aa75ed71a1
[2] E. Makarova, B. Aeschlimann, W. Herzog, The Gender Gap in STEM Fields: The Impact of the Gender Stereotype of Math and Science on Secondary Students’ Career Aspirations, Frontiers in Education, 2019.
[3] R. E. O’Dea, M. Lagisz, M. D. Jennions, S. Nakagawa, Gender differences in individual variation in academic grades fail to fit expected patterns for STEM, Nature Communications, 2018.
[4] J. Steinke, P. Tavarez, Cultural Representations of Gender and STEM: Portrayals of Female STEM Characters in Popular Films 2002-2014, International Journal of Gender, Science and Technology, 2017.
[5] World Economic Forum, Global Gender Gap Report 2021
https://www.weforum.org/reports/ab6795a1-960c-42b2-b3d5-587eccda6023