Herr Costa und Herr Rio betreten eine Bar


Para melhor tirar a moral da história e para aproveitar a conveniência linguística, dá-se Rui Rio como sobrevivendo ao dia 4 de Dezembro, coisa menos difícil por estes dias, quando surgiu pelo PSD um outro homem do Norte.


A ordem pela qual entram no bar não deixa de ter consequências. Quem primeiro entra teria, teoricamente, o direito a escolher a bebida. Volvida a geringonça, chegar em primeiro lugar já não confere direito de pernada perante o poder. Tal vale para todas as geringonças, também para as que não sejam de esquerda. 

Nas eleições de 2022 os portugueses estariam limitados à escolha de um menu gerigonceiro: à esquerda, repetindo o prato único dos últimos 6 anos ou, à direita, com a novidade de todos os lados do triângulo gerigonçal se sentarem no Governo.

Conscientes das limitações do geringonçado exercício, quer à direita quer à esquerda, há quem deseje a morte da conceptura geringonça de direita e quem ateste a impossibilidade de ressuscitar a geringonça de esquerda. Que fazer? Almas generosas perscrutam o horizonte e encontram além-Reno a solução para os problemas lusitanos. Faça-se uma grande coligação como na terra dos godos, em modo pós-eleitoral, com negociações sérias e pactos escritos, miudamente detalhando o que se pode e não pode fazer entre coligados. Fica a crítica à folha de couve que a geringonça de esquerda minutou displicentemente para calar a boca às exigências de Cavaco. E fica a fé numa capacidade de entendimento e de negociação que não têm tradição em Portugal. Mais uma razão para apostar nesta solução, proclamam os crentes.

Sejamos cépticos e, se possível, metódicos. A não ser que haja uma débâcle eleitoral, António Costa continuará a liderar o PS no dia seguinte ao das eleições. Acontecendo a débâcle, o sucessor anunciado de Costa quererá uma geringonça de esquerda, de papel passado e com cinto de castidade. De acordo com a hagiografia do Largo do Rato o maior feito em vida de Costa teria sido a geringonça. Como é que se opera a transição para um Governo de bloco central sem que o hagiografado soçobre?

Do lado do PSD, Rio tem a seu favor a coerência de, contra ventos laranja e marés de direita, ter sempre defendido a necessidade de entendimento com o PS para “reformar” o país. Há mais dificuldade em identificar o objecto das ditas reformas, sendo tarefa impossível imaginá-las a sair de um qualquer programa eleitoral.
No PS o programa político esgotou-se na contra-reforma, no destroikar de algumas das medidas de amputação de rendimentos decididas pelo Governo de Passos.

Um governo de bloco central terá de superar esta enorme dificuldade: a construção de um denominador comum programático que tenha uma componente reformista. Uma grande coligação lusitana pode surgir com naturalidade enquanto mecanismo de partilha do poder mas não durará muito se não tiver capacidade de concretização de políticas reformistas. Identificá-las e pactuá-las não será possível durante estes quase quatro meses de campanha eleitoral. Nenhum dos dois maiores partidos quererá correr o risco de perder votos pré-anunciando a união. Às suas actuais lideranças não terá escapado a falta de apetite dos portugueses por Governos que sejam permanentemente perturbados pelos extremismos, quer de esquerda, quer de direita ou pela vacuidade de agendas políticas animalistas.
Para uma grande coligação em Portugal a maior dificuldade está no encontrar de uma agenda reformista, seja ou não comum aos partidos. Revisitemos Moretti: “Diz qualquer coisa de reformista!”

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990

Herr Costa und Herr Rio betreten eine Bar


Para melhor tirar a moral da história e para aproveitar a conveniência linguística, dá-se Rui Rio como sobrevivendo ao dia 4 de Dezembro, coisa menos difícil por estes dias, quando surgiu pelo PSD um outro homem do Norte.


A ordem pela qual entram no bar não deixa de ter consequências. Quem primeiro entra teria, teoricamente, o direito a escolher a bebida. Volvida a geringonça, chegar em primeiro lugar já não confere direito de pernada perante o poder. Tal vale para todas as geringonças, também para as que não sejam de esquerda. 

Nas eleições de 2022 os portugueses estariam limitados à escolha de um menu gerigonceiro: à esquerda, repetindo o prato único dos últimos 6 anos ou, à direita, com a novidade de todos os lados do triângulo gerigonçal se sentarem no Governo.

Conscientes das limitações do geringonçado exercício, quer à direita quer à esquerda, há quem deseje a morte da conceptura geringonça de direita e quem ateste a impossibilidade de ressuscitar a geringonça de esquerda. Que fazer? Almas generosas perscrutam o horizonte e encontram além-Reno a solução para os problemas lusitanos. Faça-se uma grande coligação como na terra dos godos, em modo pós-eleitoral, com negociações sérias e pactos escritos, miudamente detalhando o que se pode e não pode fazer entre coligados. Fica a crítica à folha de couve que a geringonça de esquerda minutou displicentemente para calar a boca às exigências de Cavaco. E fica a fé numa capacidade de entendimento e de negociação que não têm tradição em Portugal. Mais uma razão para apostar nesta solução, proclamam os crentes.

Sejamos cépticos e, se possível, metódicos. A não ser que haja uma débâcle eleitoral, António Costa continuará a liderar o PS no dia seguinte ao das eleições. Acontecendo a débâcle, o sucessor anunciado de Costa quererá uma geringonça de esquerda, de papel passado e com cinto de castidade. De acordo com a hagiografia do Largo do Rato o maior feito em vida de Costa teria sido a geringonça. Como é que se opera a transição para um Governo de bloco central sem que o hagiografado soçobre?

Do lado do PSD, Rio tem a seu favor a coerência de, contra ventos laranja e marés de direita, ter sempre defendido a necessidade de entendimento com o PS para “reformar” o país. Há mais dificuldade em identificar o objecto das ditas reformas, sendo tarefa impossível imaginá-las a sair de um qualquer programa eleitoral.
No PS o programa político esgotou-se na contra-reforma, no destroikar de algumas das medidas de amputação de rendimentos decididas pelo Governo de Passos.

Um governo de bloco central terá de superar esta enorme dificuldade: a construção de um denominador comum programático que tenha uma componente reformista. Uma grande coligação lusitana pode surgir com naturalidade enquanto mecanismo de partilha do poder mas não durará muito se não tiver capacidade de concretização de políticas reformistas. Identificá-las e pactuá-las não será possível durante estes quase quatro meses de campanha eleitoral. Nenhum dos dois maiores partidos quererá correr o risco de perder votos pré-anunciando a união. Às suas actuais lideranças não terá escapado a falta de apetite dos portugueses por Governos que sejam permanentemente perturbados pelos extremismos, quer de esquerda, quer de direita ou pela vacuidade de agendas políticas animalistas.
Para uma grande coligação em Portugal a maior dificuldade está no encontrar de uma agenda reformista, seja ou não comum aos partidos. Revisitemos Moretti: “Diz qualquer coisa de reformista!”

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990