Se nenhuma altura é boa para se jogar no campo do Bayern de Munique, é difícil imaginar uma pior para este Benfica pobrezinho de ideias, lento, desleixado e trapalhão, que voltou aos tiques da época passada e não mete medo a ninguém. Se o início ainda deixou no ar a ideia de que algo havia mudado (para melhor, claro está!) no futebol dos encarnados, já serão, neste momento, muito poucos os que alimentarão esperanças numa época de sucessos.
Apesar das significativas melhorias no plantel, sobretudo na linha da frente, onde abunda qualidade, o movimento do conjunto é obtuso. Não se vê nenhum tipo de mecânica que substitua aquela necessidade de pontapé para a frente, de forma a tirar partido da disponibilidade física de Darwin e da forma como Yaremchuk vai, volta e meia, conseguindo aguentar a bola nos pés à espera de apoio vindo da retaguarda, apoio esse que nunca chega porque, quando Rafa recua um pouco para a zona de recuperação, sai sempre com a bola controlada e não se entende com os dois pontas-de-lança.
Somemos a este rol de desgraças uma defesa de papel vegetal que nem mesmo com três calmeirões como Veríssimo, Otamendi e Vertongen, consente golos simplicíssimos pelo ar, tal como aconteceu em Guimarães e no Estoril.
Podem os mais empedernidos benfiquistas, ainda com o entusiasmo à flor da pele, recordar que ainda há muito para jogar e a época tem vários meses pela frente. Como negar verdade tão lapalissiana?
Mas, ao mesmo tempo, se virmos o que se passa como num jogo de espelhos, encontramos uma cópia quase perfeita, no tempo certo, do que aconteceu há um ano, com um início prometedor e a liderança do campeonato conquistada cedo (apesar do fracasso europeu face ao PAOK) e a consequente queda num abismo tão profundo ao qual, aqui para nós, só mesmo Jorge Jesus conseguiria (como conseguiu) sobreviver sem lhe ver apontada a porta de saída.
Por mais voltas que se lhe dê, esta nova versão de Jesus não tem comparação possível com a original e que devolveu o Benfica aos títulos consecutivos. O tempo passou – e já lá vão cinco anos e meio desde que o treinador saiu para o Sporting – o jogo evoluiu e não vemos nada de novo na sua conceção de um conjunto que, de semana para semana, parece cada vez mais ao Deus-dará.
Quatro pontos perdidos nas últimas três jornadas (não foram seis por milagre), em jogos contra adversários incomparavelmente inferiores, deviam fazer soar campainhas na Luz. Ultrapassado na classificação pelo seus rivais, o Benfica não revela nenhuma qualidade especial para que se lhe possa atribuir o mínimo de favoritismo na corrida para o título. Pelo contrário. A menos que falemos apenas do plantel que, na opinião de quem se assina, é o melhor dos três. Só que não parece. E o que não parece… não é.
Munique. “Ave, Caesar, morituri te salutant”, gritavam os antigos gladiadores no Circo Máximo de Roma perante o imperador na hora de lutar pelas suas vidas. Sabiam que a morte, velhaca e sinistra, estava à sua espera. “Os que vão morrer te saúdam!” Morte é um termo excessivo quando se fala de futebol, a despeito de Sir Matt Busby ter dito, in illo tempore, que o futebol não é uma questão de vida ou de morte, é muito mais do que isso.
Não se vê maneiras, nem ninguém apostará dez réis de mel coado, noutro resultado que não seja a vitória do Bayern no jogo desta noite (20h00) em Munique. Haverá, isso sim, muita gente a apostar em quantos golos marcará o ataque fulminante dos bávaros que já deram a sua barraca da época no recente 0-5 que sofreram do Borussia de Moenchengladbach para a Taça da Alemanha.
Se depois de ter lutado com todas as suas forças e ter conseguido manter-se arrumado durante 75 minutos no jogo contra o Bayern na Luz o Benfica, ainda assim, saiu vergado ao peso de um bruto 0-4, é absolutamente natural que se preveja que uma desgraça se ergue no horizonte próximo das velhas águias que há muitos, muitos anos, dominavam os céus da Europa.
Jorge Jesus lá saberá, calculamos nós, como montar uma equipa abúlica, molenga e sem sangue nas veias, capaz de evitar uma goleada das antigas que só serviria para manchar ainda mais o pobre registo europeu de uma equipa que ainda há meia-dúzia de anos se bateu para ganhar a Liga Europa.
A questão é que, neste momento, e basta estar atento ao discurso dos adeptos, Jesus já não arrasta ninguém com o seu velho entusiasmo entretanto desvanecido. A forma como tudo se está a repetir e a degradação da estrutura do conjunto, que se desfaz como um castelo de areia à mínima contrariedade, é tudo menos de uma equipa com alma de campeã e, ainda pior, com vontade de ser campeã.
Convenhamos: este Benfica só tem qualidade individual e não coletiva; tem excesso de jogadores sem força nem garra; comete erros grotescos, tanto ofensivos como defensivos. Ser goleado pelo Bayern será um resultado normal e esperado. Veremos é se a derrota não virá a ser devastadora.