Food Compass. E se bastasse um número para saber quão saudável é cada alimento?

Food Compass. E se bastasse um número para saber quão saudável é cada alimento?


O Food Compass foi desenvolvido ao logo de três anos e é o mais recente e inovador sistema de classificação nutricional. Autores querem as empresas, os restaurantes, os cafés, as escolas e os decisores políticos a produzir e recomendar uma alimentação mais saudável de forma mais intuitiva.


E se existisse uma forma mais simples e prática de escolher os alimentos e produzir uma refeição saudável sem ter de andar a descodificar rótulos nas embalagens? Uma maneira de conseguir medir as suas refeições e saber quais os pratos que deveria fazer menos vezes – por serem maus para a saúde – e os que pode consumir de forma mais regular? Tudo isto (apenas) com um sistema de classificação de 1 a 100?

É a proposta de uma equipa de cientistas da Universidade de Tufts, em Massachusetts, que faz parte do projeto Food-PRICE (Policy Review and Intervention Cost-Effectiveness) – uma colaboração de investigação financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA que tem por objetivo identificar estratégias nutricionais rentáveis para melhorar a saúde dos habitantes do país. E criaram isso mesmo: um novo sistema de qualificação nutricional que traduz os impactos (bons ou maus) que os alimentos têm na saúde das pessoas numa pontuação, com um algoritmo a processar várias dimensões de cada produto ou alimento. O Food Compass, assim de chama, apresenta um conjunto de características inovadoras no que toca à classificação da comida. Ao contrário de outros sistemas já existentes, este dá aos alimentos uma pontuação com base em nove fatores: vitaminas, minerais, proporções de nutrientes, ingredientes alimentares, aditivos, processamento, fibra e proteína, lípidos específicos e ainda fotoquímicos. A pontuação também pode ser dada a bebidas e pratos já confecionados, o que permite ao consumidor guiar-se de forma mais simples pelas refeições mais saudáveis.

“Quando se tenta ir para além de comer os legumes e evitar os refrigerantes, o público fica bastante confuso sobre como identificar escolhas mais saudáveis nas mercearias, nos cafés e nos restaurantes”, explicou Dariush Mozaffarian, coordenador do estudo, publicado nesta semana na revista Nature Food. “Os consumidores, políticos e mesmo a indústria estão à procura de ferramentas simples para orientar todos para que haja escolhas mais saudáveis”, apontou.

Como funciona o Food Compass? Cada alimento, bebida ou prato recebe uma pontuação final que varia entre 1 (menos saudável) e 100 (mais saudável). Um prato considerado bom – tem de ter uma pontuação acima de 70, propõem os autores. Os que forem classificados com uma pontuação entre 31 e 69 devem ser consumidos de forma moderada. Uma pontuação igual ou inferior a 30 significa que deve ser consumido só de vez em quando.

Esta nova forma de entender e escolher os alimentos foi testada e utilizada com base em dados dos EUA que reuniram 8.032 alimentos e bebidas consumidas pelos norte-americanos. As atribuições das características foram concebidas em função da saúde e bem-estar das pessoas, com especial atenção aos atributos nutricionais ligados a doenças crónicas – como a obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, cancro e também risco de subnutrição. E não esquecendo os mais vulneráveis, como as crianças, mães e pessoas mais velhas.

E ganham as framboesas A categoria que recebeu a pontuação mais baixa no estudo foram snacks e sobremesas doces, com 16.4. Em oposição, a maior e melhor pontuação foi para os vegetais (69.1), para as frutas (73.9 e quase todos os frutos crus, a somar a pontuação de 100) e para as leguminosas, frutos secos e sementes (78.6). Já nas bebidas, os refrigerantes açucarados e bebidas energéticas ficaram em último (27.6). Sumos de fruta natural ou de legumes obtiveram quase 100. A pontuação média para a carne de vaca foi de 24.9, para as aves de capoeira 42.67 e para pescado 67.0. Para já a equipa não divulgou a pontuação dos mais de 8 mil itens avaliados, mas dá alguns exemplos: framboesas, 100 pontos; amêndoas salteadas, 91 pontos. Pizza com carne extra e massa grossa, 25 pontos (isto na base de uma porção). Um pequeno cheeseburguer, 8 pontos. Um pudim instantâneo de compra, “fat free” (sem gordura), 1 ponto.

“Com o seu algoritmo de pontuação publicamente disponível, o Food Compass pode fornecer uma abordagem matizada para promover escolhas alimentares saudáveis – ajudando a orientar o comportamento do consumidor, política nutricional, investigação científica, práticas da indústria alimentar, e decisões de investimento de base social”, disse Renata Micha, uma das autoras da investigação, num comunicado da universidade.

Dariush Mozaffarian, autor do estudo, explicou ao i que o que os motivou foi as pessoas ficarem confusas com os dados nutricionais e os anúncios feitos pela indústria, defendendo que este algoritmo poderá orientar consumidores mas também decisores políticos e reformulações por parte das empresas. E houve alguma surpresa quando puseram um algoritmo a processar a informação nutricional? “O algoritmo funcionou bastante bem e deu resultados consistentes com a ciência de nutrição moderna. O consumidor normal pode ficar de facto surpreendido. Por exemplo, muitos evitam a gordura e pensam que hidratos de carbono complexos está bem. O Food Compass mostra-nos que alimentos como frutos secos podem ter pontuações elevadas (tendo gordura), enquanto produtos fat free, sugar free, mesmo pão ou massas, têm resultados baixos”, diz.

Com esta nova forma de pensar a alimentação, acreditam que é possível incentivar as pessoas a comprar alimentos saudáveis não só para casa, mas também nos restaurantes, nos refeitórios das escolas, nas empresas e nos hospitais, e chamar a atenção para políticas públicas que invistam numa alimentação equilibrada. Algum plano para o testar na vida real? “São os próximos passos”, diz.