Sensible Soccers. “Manoel funciona muito bem como uma súmula da nossa carreira”

Sensible Soccers. “Manoel funciona muito bem como uma súmula da nossa carreira”


O quarto disco dos Sensible Soccers, Manoel, imagina o que seria a banda sonora dos filmes de Manoel de Oliveira em 2021. Passagens ambientais, melancolia e um certo tropicalismo são a fórmula para mais um disco apaixonante e emocional.


“O David Lynch tem uma frase”, recorda Hugo Gomes, “onde diz que, para ele, o cinema são imagens e música num tempo e num espaço, portanto, pensar em cinema é muitas vezes pensar nas bandas sonoras”.

Esperamos não estar a pôr a carroça à frente dos bois. O leitor pode perguntar-se: Porque estamos a falar com Hugo Gomes e Manuel Justo, membros da banda portuguesa, Sensible Soccers (apenas ficou a faltar André Simão), sobre bandas sonoras de cinema?

Simples. O quarto disco do conjunto, Manoel, editado na passada sexta-feira, surgiu da vontade da banda musicar dois filmes do maior realizador português, Manoel de Oliveira, Douro, Fauna Fluvial (1931) e Pintor e a Cidade (1956).

Durante a criação deste projeto, o grupo percebeu que estas músicas eram muito mais do que uma simples banda-sonora, este era o quarto disco dos Sensible Soccers, o sucessor de Aurora (2019).

Aliado a um espetáculo que consiste nas exibições dos filmes enquanto os músicos interpretam a banda-sonora ao vivo, Manoel é um projeto especial para o grupo, que sente que conseguiu agrupar todos os elementos que tornam o som dos Sensible Soccers especial dentro da duração deste disco. 

“Este disco funciona muito bem como uma súmula da nossa carreira”, disse Manuel Justo. “Existe uma melancolia que estava presente no 8. É um disco que vive menos de artifícios, nesse aspeto, é mais parecido com o Villa Soledade. Está melhor timbrado, cada elemento tem o seu espaço e o seu lugar, e conserva alguns laivos de tropicalismo do Aurora”.

Mas como chegaram os Sensible Soccers a este conceito? Bom, a banda explica.

 

De onde surgiu a ideia para criar Manoel?

Manuel Justo: A ideia nasceu em 2017, quando recebemos um convite do Vitor Ribeiro, o programador da Casa de Artes de Famalicão para musicarmos o Man With A Movie Camera [filme de Dziga Vertov de 1929], como parte do festival Close-Up, organizado pelo próprio. Nessa altura chegámos a falar sobre musicar o Douro, Faina Fluvial porque são filmes com linguagens muito semelhantes, mas foi um projeto que ficou em águas de bacalhau. Ainda para mais porque coincidiu com um período contubado, com a saída do Filipe [Azevedo, em 2019] do grupo, que nos levou inclusivé a ponderar acabar com os Sensible Soccers. Pusemos esta ideia de parte e acabámos por criar o Aurora. Só quando estávamos a acabar esse disco é que falámos com mais seriedade sobre este projeto e de como tinha potencial para nos candidatarmos ao Criatório, um programa de apoio à criação artística da Câmara Municipal do Porto que prossupõe que esse objeto seja feito e sobre o Porto. Percebemos que existiam uma série de fatores que se estavam a conjugar, mas existia um problema: os 18 minutos do filme eram muito pouco para criarmos um disco. Estudámos mais esta ideia até esbarrarmos com o Pintor e a Cidade. Pensámos que seria uma ótima ideia criar um espetáculo onde musicaríamos os dois filmes, uma vez que estes funcionam como uma negação um do outro. Depois de surgir este conceito, foi uma questão de desenvolvermos um projeto, que consistia em fazer um cine-concerto onde musicássemos os dois filmes, que estavam a ser projetados, enquanto fazíamos a banda sonora ao vivo. Por outro lado, queríamos também que esse trabalho resultasse no nosso quarto disco. Algo que se confirmou quando começámos a ver o andamento do disco e as suas caraterísticas. Estávamos a sentir que não era algo paralelo à nossa carreira, mas sim um disco dos Sensible Soccers.

Em que sentido é que estes filmes se completam?

Hugo Gomes: São dois poemas-visuais que funcionam como contraponto e que são completamente diferentes, portanto, a nossa abordagem também foi completamente diferente para ambos os filmes. O Douro, Faina Fluvial é muito acelerado, ritmado, o realizador coloca-te dentro da cena, quase que parece que és mais um trabalhador da Faina do Douro. Por outro lado, o Pintor e a Cidade é mais contemplativo, afasta-te e põem-te a ver a cidade de fora através das Aguarelas do António Cruz. Acredito que a nossa abordagem aos dois filmes respeitou estas suas caraterísticas. Com o primeiro filme fizemos um trabalho onde existe um grande sincronismo, fomos ao encontro do que estava a acontecer e tentámos musicar especificamente aquilo que se via na tela, enquanto no Pintor, sendo mais contemplativo, teve este efeito de nos puxar um pouco mais para trás.

Como é que foi a preparação para compor este disco, suponho que tenha sido muito diferente dos vossos trabalhos anteriores?

HG: Uma parte das músicas foi feita, inclusivé, antes de vermos os filmes. Tínhamos algumas ideias, mas não sabíamos se iam resultar com as imagens, por isso, alguns destes trechos tiveram de ser adaptados, mas os esboços iniciais já estavam desenhados.

MJ: Mais do que as caraterísticas das músicas serem diferentes, realmente, foi um trabalho diferente para nós na medida que as músicas nascem para musicar um filme. Segmentámos os filmes e fomos atribuindo alguns sons que achávamos que casavam bem. Mas o trabalhar das músicas para o disco foi um processo semelhante aos álbuns anteriores. Quando nos desligámos dos filmes foi como fazer um álbum normal.

HG: Numa primeira fase deste projeto, sentámo-nos a fazer a banda-sonora dos filmes e a pensar no cine-concerto. Fechámos essa parte e começámos a trabalhar sem imagens, a pegar em cada música, decidir se devia ir para o disco. Começámos a trabalhar as faixas e a tentar que estas valessem por si só apenas como música. No cine-concerto existem músicas que funcionam por causa das imagens. A terceira música que tocamos no espetáculo não vai para o disco precisamente por isso: é um objeto feito para aquele filme e só funciona enquanto estiveres a ver as imagens. Não fazia sentido ouvi-la isolada.

Não sentem que ao trabalhar especificamente para estas imagens o vosso processo criativo fica limitado?

HG: É uma limitação boa.

MJ: As limitações são boas quando estamos a criar música.

HG: Elas estabelecem regras e começamos a funcionar em função delas. Acaba por se tornar um jogo que, se alinhares nele, pode dar um bom resultado.

MJ: Às vezes, em vez de prisão, torna-se libertador ao indicar-nos este caminho. Quando temos um mundo de opções pode ser tudo aquilo que imaginarmos. Se alguma coisa der um mote ou estabelecermos regras existem logo mil coisas que têm de ficar de fora. Claro que pode ser encarado como uma prisão, mas, naquilo que fica, existe um mundo de opções interessantes.

HG: Posso dar-te um exemplo muito específico, nunca teríamos feito uma música como a Avenida Brasil se não estivéssemos a fazer a banda-sonora do Pintor e a Cidade. Começámos a ver o filme, chegámos ao momento em que o comboio chega a São Bento e entrámos na cidade. Pensámos: isto precisa de um “mood” e “feeling” urbano, precisa de um determinado ritmo e tempo. Ou seja, estabelecemos logo uma quantidade de pressupostos que definiram o modo como íamos avançar e criar a música. Quando estás a fazer um disco sem imagens, este exercício não existe, o que existem são ideias que são trabalhadas, e que podem ser um pouco de tudo, mas, neste caso, trabalhar com as imagens proporcionou-nos esta concentração e fizemos músicas que nunca teríamos feito se não estivéssemos a trabalhar com filmes. A Avenida Brasil, inspirada no Dave Brubeck, é um caso muito feliz, porque é tocada na integra no cine-concerto e tal como está no disco.

Pelo rumo que a conversa está a levar, dá para perceber que vocês tem uma relação muito próxima com o cinema, houve alguma banda sonora que vos tenha inspirado?

HG: Não acredito que tenha existido uma banda sonora em particular que nos tenha inspirado, mas, naturalmente, durante o processo criativo, prestamos mais atenção a compositores e aos temas que aparecem nas músicas dos filmes, e um caso clássico e que acho que é unânime, é o trabalho do Angelo Badalamenti com o David Lynch, principalmente em Twin Peaks. Lembro-me de, nos primeiros ensaios do Manuel, falar sobre um vídeo no YouTube onde o compositor explica como criou o Theme From Twin Peaks. Mas este foi um tipo de trabalho que não tivemos oportunidade de realizar, uma vez que existe uma ligação direta com o realizador. O compositor sugere ideias ao realizador e este indica-lhes caminhos. No nosso caso, esse trabalho teve de ser imaginado. Tínhamos de pensar no que é que o Manoel de Oliveira podia querer que acontecesse nesse filme se as bandas sonoras fossem feitas em 2021. Foi um exercício de imaginação.

Vocês tem uma relação próxima com a obra do Manoel de Oliveira?

MJ: Confesso que não devo conhecer sequer um décimo da obra do realizador, mas, quanto às coisas dele que conheço, sou fã. Houve um filme que me tocou muito, A Caixa (1994). Era miúdo quando o vi. E agora também desenvolvi uma relação de grande carinho com o Douro, Faina Fluvial e o Pintor e a Cidade. Mas é engraçado porque, sendo o maior cineasta português de todos os tempos, agora está muito distante das nossas gerações. É muito pouco cool. A dada altura parece que ele foi “engolido” por ser um senhor com muita idade a fazer cinema, tornou-se quase um caso de Guiness, e só se falava de ele ser o realizador mais velho no ativo e não na qualidade dos filmes dele. 

HG: É um caso interessante de estudar: Como de repente o maior realizador do cinema português deixa de ser visto por gerações inteiras. Da minha geração e mais novas, as pessoas gostam do João César Monteiro, do Pedro Costa ou de realizadores mais jovens como o Miguel Gomes, mas o Manoel de Oliveira é completamente posto de parte. Durante este processo, quando explicávamos às pessoas que estávamos a fazer um trabalho baseado nos filmes do realizador, era muito frequentemente dizerem-nos que os seus filmes eram uma seca. Isso surge, estando aqui a generalizar, porque esta geração foi educada com trabalhos mais acelerados, foi educada com o cinema americano e o cinema do Oliveira exige um bocado do espetador. A maior parte dos filmes que vi do Oliveira vi-os tardiamente e durante um longo período também senti um grande distanciamento dele. Agora, quando os vejo, sinto que estou no momento certo para os apreciar. Houve um que vi recentemente, que até foi um dos últimos dele, Singularidades de uma Rapariga Loura (2009), e desconfio que, nos próximos tempos, vai fazer um “regresso”, vai ser moda novamente.

Estávamos a falar das bandas sonoras que vos inspiraram… Quais é que consideram ser as vossas favoritas?

HG: Uma banda sonora pode ser muita coisa, pode ser esse trabalho feito entre compositor e realizador, ou pode ser um conjunto de canções que funcionam muito bem num filme. Existe um caso clássico que é o da Sofia Coppola, que faz autênticos videoclips com músicas de que sempre gostámos. Ela é muito forte a detetar que canções funcionam em determinados momentos de um filme. O Lost in Translation (2003) tem vários desses momentos, por exemplo, a cena final com a Just Like Honey dos Jesus and the Mary Chain. Ainda nos filmes desta realizadora, também há o caso do The Virgin Suicides (1999) com uma banda sonora dos Air que ficou eternizada e que, inclusivamente, tem um single, Playground Love. Funciona muito bem com o filme, pode aconchegar as imagens, mas também sabe ser apenas ruído de fundo. Também existe o caso de filmes maus com boas bandas sonoras, como é o caso do Bloodsport (1988) do Jean-Claude Van Damme. O Lynch tem uma frase em que diz que para ele o cinema são imagens e música num tempo e num espaço, portanto, pensar em cinema é muitas vezes pensar nas bandas sonoras. 

Queria agora regressar à vossa discografia. Manoel é o vosso quarto disco e representa uma nova viagem por um estilo musical diferente. Como é que a banda se adapta a estas mudanças?

MJ: É algo que nos acontece naturalmente, até porque alguns dos elementos da banda se foram alterando. Quando um músico sai da banda este deixa de oferecer o seu input. Também tivemos uma nova adição, o André Simão, para o baixo, que trouxe ideias diferentes. Nós não escolhemos como é que vai ser a nossa música, é algo que acontece fruto de todos estes fatores. Por exemplo, o  Aurora, é um disco muito mais tropical: tem percussões, o baixo foi trabalhado de uma forma inusitada, mas não quisemos forçar nada, foi aquilo que foi nascendo. Estávamos num momento de transição, queríamos respeitar a decisão de fazer um disco sem guitarra, que era a nossa segunda voz, e tivemos que substituir esse instrumento por mais sintetizadores, percussão e um baixo com mais peso nas composições. E foi graças a todas estas opções que surgiu o Aurora. Agora, naturalmente, também induzidos pelas imagens, surgiu um disco muito menos tropical. 

HG: O que vai acontecendo connosco, em todos os passos que damos é que existe sempre uma certa rejeição do último passo que demos.

MJ: Este disco funciona muito bem como uma súmula da nossa carreira. Existe uma certa melancolia que estava presente no 8. É um disco que vive menos de artifícios, e, nesse aspeto, é mais parecido com o Villa Soledade. E ainda temos alguns laivos de tropicalismo, por isso, acredito que o disco funcione como uma súmula para o que já fizemos enquanto aponta o dedo a um futuro e a um presente que é relativamente diferente daquilo que tínhamos feito até aqui. É um disco com menos emulação de instrumentos; utilizámos sons mais analógicos, como o saxofone, as flautas, o baixo, que antes aparecia mais processado, e isto é algo que já não acontece tanto.

HG: Acredito que existem elementos que estão sempre presentes no nosso disco e, como estamos conscientes disso, temos que encontrar estratégias para que não soe sempre ao mesmo e para não nos estarmos a repetir. 

Suponho que seja importante para o processo criativo do vosso grupo experimentar coisas diferentes.

HG: Não é um processo que seja pensado, não nos sentamos a pensar no que vamos fazer de diferente, apenas constatamos estes pequenos detalhes, mas é engraçado ver que existe algo que se vai repetindo ao longo da nossa carreira, que é o facto de nos agarrarmos a um elemento que consideramos ser bonito ou que pensamos que possa dar uma boa música, mesmo que seja algo muito curto, e repetimos ao longo de toda a música. Isso cria o desafio de não tornarmos a música chata e é algo que existe desde o início da nossa carreira.

Em Manoel, é possível distinguir duas partes bastante diferentes do álbum: uma primeira com umas passagens mais ambientais, enquanto a segunda parte é muito mais animada.

MJ: Organizámos o alinhamento do disco para abrir com sons mais ambiente, enquanto na segunda parte, já com a Bali Hai e a Karamu, temos um colorido e qualquer coisa que trazemos do Aurora. 

HG: Muitas vezes, isto também depende da imagem que queres dar do disco. Claro que quem se envolver intimamente com o disco vai perceber esses lados todos. Quem ouvir o disco e conhecer a carreira da banda vai detetar todas estas coisas que estamos aqui a dizer. Numa fase inicial, estamos apenas a dar o disco a conhecer,  mas, desta vez, também houve uma intenção de mostrar que havia um lado que fomos buscar que sentimos que tinha ficado de parte no Aurora, o sentimento de melancolia e de introspeção, e se calhar é por isso que essa parte inicial e a primeira impressão que temos do disco está preenchida por músicas que favorecem mais essas ideias. 

Os vossos fãs foram surpreendidos por esta novo e inesperado passo, uma vez que contavam que voltassem a fazer um disco efusivo e repleto de energia… Apesar de terem acabado de lançar Manoel, já fazem ideia do que possa vir a seguir?

MJ: O que vem depois de Manoel? Não fazemos a mínima ideia. Quando acabamos um disco a última coisa em que pensamos é no próximo passo a dar. Neste momento, estamos interessados em defender este disco e promovê-lo. Só depois é que vamos perceber em que ponto estamos e que ideias é que estão a germinar. Aí as ideias encontram-se numa plataforma comum de entendimento onde, sem falar e sem combinar nada, direcionamo-nos até um lugar. Acho que somos bons a fazer isso. Quando começámos a banda, tínhamos muita ambição e energia, mas não fazíamos a mínima ideia onde é que as coisas nos iam levar. Queríamos fazer tudo bem, mas, de repente, o nosso trabalho começou a ter repercussões. A primeira música que lançámos, a Fernanda, começou logo a bater e a fazer o seu caminho. Começámos a ser solicitados de fora, a evoluir pessoalmente e a responder a todos os nossos pedidos, porque era essa a nossa vontade. Mas nunca existe uma conversa sobre a nossa direção. É algo que nos surge muito naturalmente. Nunca pesámos muito a nossa responsabilidade. Quando lançámos o 8, que foi um disco, para a dimensão que tínhamos, muito bem recebido, pela crítica e pelos nossos fãs, não senti qualquer tipo de pressão para criarmos um trabalho novo. Sempre senti essas coisas a surgirem naturalmente. 

HG: Numa fase inicial, nas nossas conversas, quando fazemos o ponto da situação da nossa carreira, lembro-me de ter bem presente a ideia e a vontade de fazer uma carreira, uma carreira a sério, como quando era puto via muitas outras bandas a ter, com imensos discos, e ter uma carreira longa para, ao fim de algum tempo, poder ser analisada e discutida. 

MJ: As caraterísticas do que estamos a fazer também pedem isso. Sinto que ainda estamos a surgir e que, desde o nosso início, continuamos numa curva ascendente. Estamos num ponto, fruto do acumular da nossa carreira, que nos deixa numa dimensão ainda maior do que quando lançámos o Aurora. 

HG: Cada passo que temos dado tem sido um degrau.

MJ: A nossa música não vive do imediatismo. Não temos canções que se ouvem agora, mas que depois caem no esquecimento. Acredito que é algo que não vai acontecer connosco. A nossa música tem de ser vista ao longo dos anos e, a posteriori, tentar perceber o que foi o nosso corpo de trabalho. Estamos com 10 anos de carreira e continuamos com esta sensação de querer continuar a trabalhar e a crescer. Vamos ver onde isso nos leva. Eventualmente vamos entrar numa fase… não quero dizer descendente da nossa carreira, mas não seremos sempre jovens e prósperos… Pretendemos que a nossa música perdure e que o nosso desaparecimento seja lento ou que, pelo menos, deixemos um legado que não desapareça.

MJ: A essência desta banda vive muito do quanto gostamos de fazer música nova. Somos três cabeças muito diferentes, mas temos isso em comum: somos completamente viciados em fazer música nova e não menos viciados, nem um bocadinho, agora, do que quando começámos. É a melhor sensação que existe.

Gostava de aproveitar, já que fizeram o primeiro concerto de apresentação do Manoel, para vos pedir que fizessem um balanço de como correu e que explicassem aos vossos fãs o que é que eles podem esperar dos próximos espetáculos.

HG: Depois do concerto, caí num vazio enorme. Foi um ano de trabalho muito intenso, um projeto em que trabalhámos minuciosamente e que apresentámos em Serralves para uma sala cheia de pessoas que gostam de Sensible Soccers e outras que gostam de Manoel de Oliveira.

MJ: Era uma plateia lindíssima, quase dos 8 aos 80 (risos). Era uma fauna muito diversa.

HG: Tínhamos uma grande responsabilidade, não só por respeito à nossa carreira e trabalho, mas também pela vontade de entregar uma coisa boa, pertinente e de que todas as pessoas gostassem. Trabalhámos durante um ano sem retorno, não tínhamos ninguém a dizer se as músicas estavam boas ou não. Tínhamos que confiar na nossa intuição, na opinião dos nossos colegas, acreditar no processo e que a soma das decisões tomadas iria ter o resultado desejado. Felizmente, correu lindamente, com uma ovação de pé no final e muitos elogios.

MJ: Relatos de pessoas que se emocionaram com os filmes. Se para nós os filmes já têm impacto, para as pessoas que viveram naquela altura no Porto deve trazer muitas recordações. É um processo muito emocional e acredito que a nossa música também o é. No domingo, foi o constatar de que todas essas pequenas decisões e tudo aquilo que pensámos que poderia funcionar na sala de ensaio resultou.

HG: E foi também perceber que chegámos ao fim do processo, o fim do filme, a apresentação ao vivo depois de um ano de trabalho. Agora vamos repetir aquilo que fizemos em Serralves, em Braga, Famalicão. Mas o culminar do trabalho aconteceu em Serralves e no dia 1 de outubro, com o lançamento do disco. Foi importante ter caído neste vazio, um vazio muito bonito. E o que interessa ter e esperamos ter é a sensação de que deixámos tudo neste projeto.