Quando o fogo se aproximou, não houve tempo a perder. Os bombeiros do Parque Nacional da Sequoia, na Califórnia, começaram a embrulhar várias árvores antiquíssimas — incluindo a maior árvore do mundo em volume, uma sequoia-gigante batizada de General Sherman. Nas últimas duas semanas, já foram consumidos perto de 60 mil hectares no parque, mas a imagem das árvores envoltas em alumínio correu o mundo. E aparentemente tem funcionado, apesar de as chamas não darem tréguas.
São ao todo dois mil exemplares de sequoias no parque. A mais célebre e emblemática das sequoias, General Sherman – assim chamada em memoria do general William Tecumseh Sherman (1820-1891) – conta com uma base de 31,3 metros e chega aos 84 metros de altura. Pensa-se que possa ter entre 2300 e 2700 anos. Além da proteção de alumínio, os bombeiros limparam a área para tentar minimizar os riscos e controlar as chamas, que obrigaram à evacuação.
Era esperado que os incêndios que atingiram a região conseguissem chegar à chamada Floresta Gigante, dentro do Parque, onde se encontram as árvores. “Embora tenhamos conseguido circunscrever este fogo e sintamos que o seu comportamento quando lá chegar – se lá chegar – será bastante moderado, queremos fazer tudo o que realmente pudermos para proteger estas árvores de 2.000 e 3.000 anos de idade”, disse Christy Brigham, responsável pela gestão de recursos dos Parques Nacionais Sequoia e Kings Canyon. E, mais tarde, chegaram mesmo: as chamas conseguiram atingir a ponta mais ocidental da Floresta Gigante, atingindo um grupo de sequoias conhecidas como ‘Os Quatro Guardas’ – que marcavam a entrada para o local onde se encontram as 2.000 árvores.
Mas, para surpresa de muitos, o fogo até pode ser um amigo destas espécies, ajudando-as a libertar sementes e criando condições que estimulam o seu crescimento. Porém, a dimensão e a intensidade dos incêndios podem ser letais. E teme-se que, com as alterações climáticas, a ameaça aumente, depois de mais um verão dramático: mais de 7.000 incêndios florestais danificaram este ano a zona, destruindo mais de 3000 casas e outros edifícios. Só este verão, ao todo, as chamas engoliram mais de 9.000 quilómetros quadrados. No ano passado, arderam entre 7.500 e 10.600 árvores gigantes. A saga para salvar a sequoia teve ainda outro desenvolvimento: no LA Times, um artigo sugeriu que a sequoia gigante fosse salva e depois rebatizada, dada a violência dos atos praticados por William Tecumseh Sherman na Guerra de Secessão. Um tema que não é novo: chegou a ser lançada uma petição no site Change.org, que argumentava contra o facto da maior árvore na Terra ter o nome de alguém que declarou guerra total ao Sul. Por agora, a árvore e o nome continuam de pé.
Maior árvore da Europa está em Portugal Com 1487 m3 de volume, esta sequoia é considerada a árvore viva mais volumosa do mundo, pelo menos entre as que estão registadas no Guinness. O título foi-lhe concedido em 2013. Não é a árvore maior que alguma vez existiu – o título histórico é atribuído a uma sequoia com 2550 m3, baptizada de árvore de Lindsey Creek, que viveu junto ao rio Mad, também na Califórnia e que foi derrubada em 1905 numa tempestade.
O que talvez não saiba é que a maior árvore da Europa está em Portugal, situada na Mata Nacional de Vale de Canas, no distrito de Coimbra. É um Eucalyptus diversicolor. Tem 73 metros de altura – o equivalente a um prédio com mais de 20 andares ou à Torre dos Clérigos, no Porto. Faz parte das “Árvores Monumentais de Portugal”, classificada pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e sobreviveu a várias gerações, tendo aproximadamente 140 anos de idade. O nome diversicolor refere-se à diferença de cor da parte superior e inferior das folhas. Esta espécie de eucalipto, originária da Austrália, pode atingir os 85 metros de altura e suspeita-se que tenha vindo para as terras lusitanas por volta do ano de 1854.
O Carvalho mais antigo da Península Ibérica Mais a norte, em Braga, encontra-se outra preciosidade: o carvalho mais antigo da Península Ibérica e o segundo mais antigo da Europa.
O Carvalho de Calvos, assim se chama, tem uma altura de 30 metros e soma mais de 500 anos de idade, mas a idade certa é uma incógnita, porque “a base do tronco do carvalho está apodrecida, devido à idade”, contou ao i Filipa Araújo, do Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos, o que dificulta uma leitura mais rigorosa. A majestosa árvore está inserida num parque, que outrora tinha sido uma zona florestal, e “com o passar dos anos, foi o único sobrevivente”.
O Carvalho de Calvos contém segredos e lendas que continuam a passar de geração em geração. Filipa Araújo explica que a certa altura havia, segundo dizem, um enxame de vespas “bem grandes” e que um senhor, “para as matar, decidiu atear fogo para as paredes do carvalho”, estando agora carbonizadas.
Mas a biodiversidade não fica pelas abelhas: também uma outra história conta que o carvalho seria a casa de “vacas louras” – uma espécie de escaravelho “bem grande e que tem umas mandíbulas bem desenvolvidas”. Esta espécie, que habita em carvalhos antigos é, nos dias de hoje, muito pouco observada e poderá, no futuro, estar em vias de extinção. Mas, se quisermos ser mais obscuros, há lendas que contam que a árvore “era procurada para alguns rituais”. O Carvalho de Calvos está classificado como uma árvore de interesse público desde o dia 22/08/1997. Nem o carvalho nem o eucalipto chegam à altura da grande General Sherman, mas não deixam de ser tesouros portugueses.
*Texto editado por Marta F. Reis