Realiza-se este fim de semana, a partir da Arena de Portimão, o XXIII Congresso do Partido Socialista. As expectativas mediáticas para o Congresso, que a pandemia obrigou várias vezes a adiar, não são elevadas. A liderança de António Costa está sólida e só nas entrelinhas será possível perscrutar alguns sinais relevantes para uma futura sucessão, mas estarão em debate questões de importância fundamental e que merecem ser valorizadas.
A proximidade das eleições autárquicas fará do conclave um momento de mobilização para a dura batalha a travar, com a consciência que uma boa governação ao nível municipal e intermunicipal será fundamental para que o País aproveite as ferramentas de que dispõe para sair da crise mais forte, mais qualificado e mais coeso.
Prevejo participar num Congresso focado essencial e naturalmente nas eleições autárquicas e na relação entre as políticas locais e as políticas nacionais e europeias, mas é óbvio que nele estarão sempre presentes como pano de fundo e como variáveis chave no desenho das políticas concretas, os grandes temas da atualidade global, designadamente os desafios do combate às alterações climáticas, do uso das ferramentas digitais, do aumento acelerado das desigualdades e da fratura exposta de valores entre o ocidente e os fanatismos que reemergem nalgumas partes do globo.
As eleições autárquicas em Portugal ocorrem no mesmo dia que as eleições gerais alemãs, onde os estudos de opinião vão reportando um braço de ferro apertado entre os social-democratas do SPD, os conservadores da CSU/CDU e os Verdes, todos com uma vitória relativa ao alcance, abrindo espaço para várias combinações na formulação da solução de governo.
A Alemanha pela sua tradição e peso no contexto europeu e global é um importante barómetro das grandes tendências políticas, neste caso amplificado ainda pela ocorrência recente de uma catástrofe climática inusitada no seu território, pelas pressões criadas pela gestão da crise sanitária e dos fluxos migratórios e pela saída de cena da sua carismática chanceler Angela Merkel.
Neste contexto, o resultado eleitoral que se verificar na Alemanha será um sinal importante para compreender se alguma ou algumas das famílias políticas tradicionais da democracia pluralista consegue, respeitando os seus valores, reinventar-se no modelo de resposta e mobilização dos eleitores, ou se, como muitos preconizam, se avizinha uma reinvenção dos sistemas políticos prevalecentes.
A reinvenção, aliás, é inevitável. A dúvida é se será uma reinvenção em continuidade ou em rutura, com a consciência que a rutura abrirá uma caixa de Pandora que pode ser aproveitada pelos populismos de diversa índole.
Voltando ao Congresso de Portimão, nele será certamente realçada a abordagem política do Partido Socialista, quer na governação interna, quer no exercício da Presidência do Conselho da União Europeia e a forma como tem sido inspiradora para a fundamentação de uma social-democracia à altura das grandes questões do nosso tempo.
Espero que uma mensagem moderna e poderosa de compromisso com uma transição justa e um futuro sustentável ecoe de Portimão para o mundo.