Um herói português


Gouveia e Melo vestiu a sua farda, e avançou para o terreno. E não faltaram as vozes críticas pelo facto de aparecer sempre fardado, esquecendo que o militar estava envolvido numa missão e que aquele era o seu fato de trabalho.


“Os heróis são os que pacificam e constroem”.
Nelson Mandela

Como é comum por cá, levantou-se um alarido mediático à volta de um cidadão que, ao que tudo indica, resolveu de vez um problema que parecia intrincado: a campanha de vacinação contra a covid-19.

Falo, obviamente, do vice-almirante Gouveia e Melo, nomeado em fevereiro deste ano para chefiar a task force que coordena a campanha de vacinação, substituindo Francisco Ramos, que se demitiu por terem existido irregularidades na vacinação de profissionais de saúde na Cruz Vermelha, onde o próprio acumulava o cargo de presidente da Comissão Executiva.

E o que fez realmente Gouveia e Melo? Deitou mãos à obra, sem espavento e alarde, cumprindo o que afirmou logo aos jornalistas: “Gostamos de prestar serviço de forma silenciosa”. Montou a sua equipa com a experiência de logística que acumulara ao longo dos anos e foi resolvendo os problemas, montando um sistema que funcionou até hoje.

É bom recordar que Gouveia e Melo já integrava a task force e que dirigia, antes da nomeação, uma pequena equipa de militares que ajudava os hospitais públicos de Lisboa na gestão das camas dedicadas à covid. 

Gouveia e Melo vestiu a sua farda, e avançou para o terreno. E não faltaram as vozes críticas pelo facto de aparecer sempre fardado, esquecendo que o militar estava envolvido numa missão e que aquele era o seu fato de trabalho.
Mas, rapidamente, as dúvidas suscitadas por aquele ridículo pormenor, se transformaram em loas à óbvia capacidade de organização e de resolução de problemas.

E, como é típico, passou a ser um verdadeiro herói. Não posso afirmar com certeza absoluta, mas quase garanto que, entre a maioria dos países da União Europeia, por exemplo, o vice-almirante é um dos mais mediáticos coordenadores da campanha de vacinação.

E porquê? Sem querer desvalorizar o seu trabalho e, sobretudo, a sua óbvia competência, o problema é que estamos cada vez menos habituados à competência no exercício do serviço público. E, associado a isto, a discrição. Apesar de já ter dado algumas entrevistas, o que é natural, Gouveia e Melo não tem necessidade de se colocar em bicos de pés, à espreita de qualquer cargo que venha a seguir.

E esta é uma vantagem real. Não estando na cabeça do vice-almirante, parece-me natural que, uma vez terminada a sua missão, queira regressar calmamente à sua vida anterior.

No entanto, já se erguem vozes que o projetam para a Presidência da República. Veremos o que acontece. A verdade é que, para se ser herói, em Portugal, basta cumprir com competência e honestidade uma missão. E não é pouco, infelizmente, nos conturbados dias que correm. 

Um herói português


Gouveia e Melo vestiu a sua farda, e avançou para o terreno. E não faltaram as vozes críticas pelo facto de aparecer sempre fardado, esquecendo que o militar estava envolvido numa missão e que aquele era o seu fato de trabalho.


“Os heróis são os que pacificam e constroem”.
Nelson Mandela

Como é comum por cá, levantou-se um alarido mediático à volta de um cidadão que, ao que tudo indica, resolveu de vez um problema que parecia intrincado: a campanha de vacinação contra a covid-19.

Falo, obviamente, do vice-almirante Gouveia e Melo, nomeado em fevereiro deste ano para chefiar a task force que coordena a campanha de vacinação, substituindo Francisco Ramos, que se demitiu por terem existido irregularidades na vacinação de profissionais de saúde na Cruz Vermelha, onde o próprio acumulava o cargo de presidente da Comissão Executiva.

E o que fez realmente Gouveia e Melo? Deitou mãos à obra, sem espavento e alarde, cumprindo o que afirmou logo aos jornalistas: “Gostamos de prestar serviço de forma silenciosa”. Montou a sua equipa com a experiência de logística que acumulara ao longo dos anos e foi resolvendo os problemas, montando um sistema que funcionou até hoje.

É bom recordar que Gouveia e Melo já integrava a task force e que dirigia, antes da nomeação, uma pequena equipa de militares que ajudava os hospitais públicos de Lisboa na gestão das camas dedicadas à covid. 

Gouveia e Melo vestiu a sua farda, e avançou para o terreno. E não faltaram as vozes críticas pelo facto de aparecer sempre fardado, esquecendo que o militar estava envolvido numa missão e que aquele era o seu fato de trabalho.
Mas, rapidamente, as dúvidas suscitadas por aquele ridículo pormenor, se transformaram em loas à óbvia capacidade de organização e de resolução de problemas.

E, como é típico, passou a ser um verdadeiro herói. Não posso afirmar com certeza absoluta, mas quase garanto que, entre a maioria dos países da União Europeia, por exemplo, o vice-almirante é um dos mais mediáticos coordenadores da campanha de vacinação.

E porquê? Sem querer desvalorizar o seu trabalho e, sobretudo, a sua óbvia competência, o problema é que estamos cada vez menos habituados à competência no exercício do serviço público. E, associado a isto, a discrição. Apesar de já ter dado algumas entrevistas, o que é natural, Gouveia e Melo não tem necessidade de se colocar em bicos de pés, à espreita de qualquer cargo que venha a seguir.

E esta é uma vantagem real. Não estando na cabeça do vice-almirante, parece-me natural que, uma vez terminada a sua missão, queira regressar calmamente à sua vida anterior.

No entanto, já se erguem vozes que o projetam para a Presidência da República. Veremos o que acontece. A verdade é que, para se ser herói, em Portugal, basta cumprir com competência e honestidade uma missão. E não é pouco, infelizmente, nos conturbados dias que correm.