1961 De um berço de ouro até ao palácio
O destino da família de Lady Diana Spencer sempre se entrelaçou com o da monarquia. De um lado era filha do visconde de Althorp, uma dinastia próxima da realeza desde o séc. XV, do outro neta do barão de Fermoy, herdeiro de uma fortuna americana e amigo do Rei Jorge VI, sendo ambas as suas avós damas de companhia da mãe da Rainha Isabel II. Diana sofreu com o divórcio conturbado dos pais, enquanto gravitava na mesma órbita que o seu futuro marido, Carlos. Uma das suas biografas, Tina Brown, escreveria que Carlos, com 17 anos, certa vez interrompeu uma festa de chá de Diana, então com cinco anos, com o pequeno príncipe André. Aproximaram-se em 1977 quando Carlos namorava com a irmã de Diana, Sarah, mas o carinho entre os dois só surgiria três anos depois, enquanto o príncipe chorava o seu tio-avô, o almirante Louis Mountbatten, assassinado por uma bomba do IRA.
1981 Um casamento desastroso, entre lágrimas e inveja
O casamento de Diana e Carlos, que deixou o público ao rubro, com 600 mil pessoas a saírem à rua, e outros 750 milhões assistir na televisão, pelo mundo fora, foi um desastre. Em segredo, na noite anterior, Carlos chorava, desolado, dividido pelos seus sentimentos pela sua ex-namorada, Camila, escreveria a biografa Sally Bedell Smith, e Diana debatia-se com a bulimia. Desde a primeira visita oficial dos recém-casados, ao País de Gales, em 1981, que se notavam as tensões que assombrariam todo o matrimónio, com Carlos – “um príncipe com energia sem fim, que apesar disso parecia estar a alcançar muito pouco”, descreveria o Guardian, no obituário de Diana – espantado, a aproximar-se da multidão e a ver-se repelido, com cânticos de: “Queremos Diana!”. O furor até seria comparado à Beatlemania, mas, em privado, o casamento real desintegrava-se. Carlos reataria a relação com Camila em 1986, o mesmo ano em que Diana dizia ter-se envolvido com o capitão James Hewitt – que tem incríveis parecenças físicas com o segundo filho da princesa, Harry, nascido dois anos antes, levando muitos a especular se a relação não teria começado mais cedo.
1981 As pernas de uma “virgem sacrificada”
A obsessão dos media por Diana pode ser traçada a uma manhã de setembro de 1980, quando um repórter do Sun visitou o jardim-de-infância onde trabalhava a então pouco conhecida namorada de Carlos. Diana aceitou tirar uma foto no relvado, com duas crianças ao colo, quando um raio de sol atravessou as suas calças de pano, deixando a longa silhueta das suas pernas visível. “Sabia que as tuas pernas eram boas”, terá dito Carlos. “Mas não me apercebi que eram tão espetaculares”. O fascínio do príncipe esfumar-se-ia – uns meses depois, quando estavam noivos, após o príncipe Filipe pressionar Carlos, Diana ficaria furiosa ao encontrar uma bracelete destinada a Camila Parker-Bowles – mas a do público britânico não. A partir de então, os paparazzi seriam uma presença constante na sua vida, que, debaixo da superfície reluzente, seria marcada por depressões, bulimia, e até uma tentativa de suicídio, contaria Diana, que se atirou de umas escadas em 1982, quando estava grávida do seu filho mais velho, William. Tudo isso só alimentava o frenesim, construía uma aura que ainda hoje dura. “A fama é um dragão. Nós alimentamo-la com o sacrifícios de virgens”, lia-se na Vox, mais de duas décadas após a sua morte, comparando-a a Marilyn Monroe ou Britney Spears. “E alguma vez houve uma virgem sacrificada como a princesa Diana?”.
1992 Perseguida e atacada em todas as frentes após o divórcio
Após se separar de Carlos, em 1992, Diana viveu um inferno. Mas ao menos já não estava presa num casamento falhado, onde vivia uma infelicidade palpável, comentada em público. “Ela é objeto do amor de todos neste mundo, exceto do marido dela”, estranhara uma repórter da Vanity Fair, três anos antes. “Nos seus vinte anos, ela enfrenta algo que considera arrepiante contemplar: um casamento de conto de fadas que arrefeceu até se tornar num arranjo”. Diana estava farta, acabando por colaborar em segredo com o jornalista Andrew Morton, que lançou o livro Diana: Her True Story, contando toda a história. Contudo, meses depois, quando o primeiro-ministro John Major comunicou ao Parlamento que o príncipe e a princesa de Gales se iam separar, boa parte da simpatia tornou-se em raiva e um aumento da perseguição dos tabloides. Nem a dedicação de Diana à filantropia, nos anos seguintes, seria poupada. Se hoje é impossível esquecer as imagens da princesa a caminhar em campos de minas em Angola, de viseira e colete protetor, ou quando deu a mão a um jovem seropositivo no Reino Unido, quando poucos o faziam, na altura nem todos gostaram – em Londres, multiplicavam-se ataques a Diana, de comentadores e políticos conservadores, acusando-a de indiscrição e de querer dar nas vistas.
1997 Do racismo, aos paparazzi e à tragédia
Quando Diana, divorciada e com 36 anos, começou a namorar com Emad “Dodi” Al Fayed, um realizador de cinema egípcio, filho do multimilionário dono do hotel Ritz em Paris e da luxuosa loja Harrods em Londres, as primeiras fotos de um beijo do casal foram vendidas por mais de um milhão de libras, lembrou o Independent. A ideia da princesa namorar um muçulmano, parecia chocar todos – recentemente, Harry compararia os ataques racistas contra a sua mulher, Meghan, ao sofrido pela mãe – e alimentar ainda mais o já enorme frenesim mediático. A 30 de agosto de 1997, seria a fugir dos paparazzi que o motorista de Diana e Al Fayed entraria a mais de 110 km/h num túnel em Pont de l’Alma, em Paris, onde o limite de velocidade era 50 km/h. O Mercedes Benz despenhou-se contra um pilar, acabando Diana por ser levada para o hospital de Pitie-Salpetriere, falecendo às 4:53 da madrugada.
2021 Um fantasma que assombra a realeza
Mais de duas décadas depois, o legado da princesa de Gales continua a assombrar a Casa de Windsor. Ambos os seus filhos, futuros herdeiros do trono, viram as suas juventudes marcadas pelas dificuldades que esta enfrentou, bem como pela dor da sua perda, enquanto o atual herdeiro, Carlos, viu a sua popularidade quebrar, de um modo do qual nunca recuperaria. Aliás, esta quinta-feira, na inauguração da estátua de Diana no jardim do Palácio de Kensington, para marcar o seu 60.º aniversário, Carlos nem sequer estará presente, para não “reabrir velhas feridas”, contou uma fonte próxima do príncipe ao Times. Já William e Harry – que estão desavindos devido ao afastamento deste último da família real, e em particular com a entrevista crítica do palácio que deu com a sua mulher a Oprah Winfrey – terão concordado em fazer as pazes por um dia. Contudo, mais importante que as marcas que Diana deixou na realeza, talvez seja como mudou a perceção desta entre os britânicos, para o bem e para o mal. Afinal, por algum motivo toda a gente ainda fala da “princesa do povo” tantos anos depois, acompanhando com atenção tudo o que tenha a ver com ela, desde documentários à mais recente temporada de The Crown.