Putin, Medina e José Miguel Júdice


Como jurista que sou, lembro-me de em miúdo haver um núcleo restrito de advogados que eu admirava ver nas televisões e no espaço público. Via neles, muito para lá do que entendia ser a sua capacidade jurídica, uma certa aura de finura pessoal, no trato e na imagem, que pela sua sobriedade e até por…


Como jurista que sou, lembro-me de em miúdo haver um núcleo restrito de advogados que eu admirava ver nas televisões e no espaço público. Via neles, muito para lá do que entendia ser a sua capacidade jurídica, uma certa aura de finura pessoal, no trato e na imagem, que pela sua sobriedade e até por vezes solenidade me impressionava.

José Miguel Júdice foi até certo ponto da minha vida jurídica um elemento desse núcleo muito restrito de personalidades.

Lembro-me de estar perto da universidade com uma amiga, vermos alguém imponentemente vestido, com o seu sobretudo de Inverno, luvas e pasta de cabedal castanho, um distinto chapéu-coco e a minha amiga dizer-me: “Isto é que é estilo. De certeza que é advogado”. Ao olhar, respondi-lhe: “Pudera que não tivesse estilo, aquele é o Júdice, quem nos dera a nós ser um dia como ele”.

Passados alguns anos, os suficientes para a vida me ter substituído a ingenuidade da adolescência pela objectividade da vida adulta, só posso dar graças a Deus por não ser um qualquer José Miguel Júdice.

Só alguém desprovido do mais elementar bom senso pode chegar a uma televisão e, perante o caso em apreço, em vez de criticar o crime que a confirmar-se a situação, representa, preferiu partir para um completamente disparatado ataque ao CHEGA, considerando que, e cito: “O Chega fez serviços mínimos na crítica, é curioso. Há quem diga que é muito próximo de Putin. Putin está muito próximo dos partidos de extrema-direita pela Europa fora. Se é verdade, não sei, mas ele não disse praticamente uma palavra sobre este tema”.

Ou seja, aquilo que Júdice fez, foi um reles exercício de fuga ao que realmente interessa discutir para querer distrair daí as atenções, criando um alvo que em seu entender possa assim substituir a gravidade do sucedido.

Aliás, da mesma forma que Júdice diz que o CHEGA terá apenas cumprido serviços mínimos na crítica a este caso, é o próprio José Miguel Júdice quem acaba por fazer serviços mínimos de crítica à Câmara Municipal de Lisboa e a Fernando Medina.

Pois eu agora vou fazer como ele, utilizando a sua mesma frase, para dizer o seguinte: José Miguel Júdice fez serviços mínimos na crítica, é curioso. Há quem diga que é muito próximo do PS, dos vícios deste sistema e de negociatas manhosas que ao longo dos anos o passaram a obrigar a fazer papel de idiota útil. Se é verdade, não sei, mas ele não disse praticamente uma palavra sobre este tema.

Júdice é apenas mais uma desilusão portuguesa. Um daqueles Santos de pés de barro que forjam o seu nome mais pela passagem do tempo do que pelo que fazem na sua passagem por ele. Um mito, apenas isso.

Não é o Homem que na minha juventude fabulizei e até certo ponto cheguei a admirar. Mas que raio, para todos efeitos não deixa de ser um causídico de renome na nossa praça. Talvez devesse, nem que fosse só por isso, ter as cautelas necessárias antes de proferir alarvidades.

Ou então, faça-se homenzinho, que já tem idade para isso, e se tiver provas da proximidade entre Putin e o CHEGA, sendo que para tê-las teria ele ou alguém de as forjar pela simples razão de que não há proximidade absolutamente nenhuma, mostre-as. Não faça é este papel miserável de insinuação de porteiro de discoteca. (com o devido respeito a todos quantos o sejam)

Rodrigo Alves Taxa