No próximo dia 21 de abril, às 16 horas, decorrerá a cerimónia da entrega do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo às vencedoras da 4.ª edição. Este prémio integra-se nas iniciativas para promover a estratégia do Instituto Superior Técnico para a igualdade de género e combater a visão polarizada da engenharia. A cerimónia desta edição, prevista para 2020, foi adiada devido à pandemia covid-19. No entanto, tornou-se importante não adiar a sua celebração até que o pudéssemos fazer de uma forma presencial mais normal, precisamente, para alertar também para os efeitos que a pandemia está a ter sobre as mulheres.
Os estudos mais recentes sobre a igualdade de género evidenciam que a pandemia exacerbou as desigualdades existentes entre mulheres e homens em quase todos os domínios da vida, penalizando as mulheres. A 15ª edição do “Global Gender Gap Report” divulgado no fim de março, mostra que, após o início da pandemia, foram despedidas mais mulheres do que homens, o número de mulheres contratadas para posições de liderança sofreu uma descida significativa, e houve um aumento do esforço para equilibrar a vida profissional e pessoal por parte das mulheres. O Fórum Económico Mundial calcula que o tempo necessário para alcançar a paridade de género passou de 99,5 para 135,6 anos, nos últimos 12 meses.
Desde 2016, quando foi criado o grupo GenderBalance@Técnico, que eu tive o privilégio de coordenar durante quatro anos, têm-se promovido no Técnico diversas iniciativas que visam atingir um futuro onde os estereótipos baseados no género deixem de afastar as raparigas das engenharias. Começou por realizar-se um estudo estatístico sobre igualdade de género no Técnico, que forneceu indicadores de apoio à gestão, desenvolveu-se um projeto de comunicação focado em “modelos”, divulgando assim a diversidade de perfis das “mulheres do Técnico”, implementou-se um ciclo de palestras com talentos femininos, participou-se na criação do projeto “Engenheiras por um dia” em que alunas do ensino básico desenvolvem experiências de índole mais tecnológica e criou-se o Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo.
Este Prémio teve na sua génese o objetivo de homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo, líder nacional e ex-aluna do Técnico, e dar espaço e palco a exemplos no feminino em particular da nossa Escola.
Maria de Lourdes Pintasilgo entra na História como a única mulher que, até hoje, desempenhou o cargo de primeiro-ministro em Portugal. Licenciou-se em Engenharia Químico-Industrial, pelo Instituto Superior Técnico em 1953, com 23 anos. Nessa época, o número de mulheres que enveredavam pela área da engenharia era diminuto. No seu curso eram 250 alunos, sendo apenas 3 mulheres.
Maria de Lourdes Pintasilgo foi pioneira no debate da igualdade de género em Portugal, tendo presidido ao Grupo de Trabalho para a Participação da Mulher na Vida Económica e Social. Foi embaixadora junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e embaixadora e membro do Conselho Executivo da UNESCO.
A justiça social, a intervenção das mulheres na sociedade e a dimensão internacional de todas estas questões foram, naturalmente, as suas causas.
Associar o nome desta aluna que desafiou as estruturas da sociedade, impulsionadora do “feminismo de estado”, a um prémio que fizesse parte da estratégia de promoção da igualdade de género no Técnico é uma homenagem merecida.
O Prémio destaca anualmente duas mulheres formadas pelo Técnico:
– uma antiga aluna, role model, com carreira estabelecida e percurso excecional, que se tenha destacado pelas suas contribuições profissionais e/ou sociais;
– e uma recém-graduada, young alumna, já com potencial evidenciado, que se tenha destacado pela qualidade científica da sua dissertação de Mestrado e ainda pelo seu percurso académico no Técnico.
As premiadas representam duas gerações de alunas do Técnico, que ilustram não só a excelência da formação, mas também, a diversidade de percursos que a formação do Técnico proporciona e o papel relevante que as nossas antigas alunas podem desempenhar na sociedade. Com o Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, reconhecemos que há mulheres extraordinárias que marcaram indelevelmente a nossa história e apresentamo-las como modelos para as atuais alunas e para as novas candidatas a uma carreira na engenharia.
O júri da quarta edição do Prémio Maria de Lurdes Pintassilgo decidiu por unanimidade atribuir o prémio role model à Engenheira Paula Panarra, em reconhecimento do seu excecional percurso profissional, valorizando ainda a sua colaboração com a Academia, e o prémio young alumna à Engenheira Catarina Belém, em reconhecimento do seu percurso académico exemplar e do envolvimento em atividades de apoio ao estudante e de divulgação inseridas na comunidade do IST.
Relevar estas mulheres e apresentá-las à sociedade como “mulheres do Técnico”, é mais uma contribuição para aumentar a atratividade das áreas da Engenharia, Ciência e Tecnologia. Trazer talento feminino para estas áreas, que têm vindo a ter globalmente um enorme crescimento e uma enorme procura de profissionais competentes, é um trabalho que tem que ser feito por todos e onde cabem, em pé de igualdade, homens e mulheres.
O Técnico assumiu em 2016 um compromisso pela igualdade entre homens e mulheres porque entende que a diversidade engrandece a sua missão e solidifica a sua identidade. A riqueza da engenharia é também a sua diversidade!
Professora Associada com Agregação
Vice-presidente para a Gestão Administrativa