Páscoa. Sem circulação nem viagens, turismo fica em stand by

Páscoa. Sem circulação nem viagens, turismo fica em stand by


Primeiro soube-se que os turistas estrangeiros poderiam circular entre concelhos apenas para se deslocarem de e para o alojamento. Depois, o Governo proibiu as viagens para Portugal na semana da Páscoa. Entidades turísticas já tinham dado esta época como perdida. Agora, confirma-se.


O ministro da Administração Interna trocou as voltas à secretária de Estado do Turismo. Cerca de 24 horas depois, Eduardo Cabrita afastou a garantia dada por Rita Marques de que “todos os cidadãos que não possuam residência no território nacional continental, nomeadamente os cidadãos estrangeiros, emigrantes e residentes das regiões autónomas que pretendessem deslocar-se ao respetivo empreendimento turístico ou estabelecimento de alojamento local, sendo forçados a circular por vários concelhos, de modo a poderem chegar aos referidos estabelecimentos”, poderiam fazê-lo.

Em 24 horas, como se vê, tudo mudou. Estão proibidas as viagens turísticas para Portugal na semana da Páscoa. “Na próxima semana, para Portugal não haverá viagens turísticas, só serão admitidos os que para aqui se deslocam em deslocações essenciais. São essas as formas de garantir a nossa segurança sanitária, tal como o reforço acrescido de manutenção nas fronteiras terrestres”, afirmou o ministro no debate de encerramento sobre a renovação do estado de emergência.

Eduardo Cabrita garantiu ainda que se mantêm suspensos os voos para o Brasil e para o Reino Unido e que estão a ser verificados os que chegam a Portugal “por via indireta” desses países, bem como da África do Sul.

Esta é a segunda Páscoa que não dá motivos para sorrir ao turismo nacional, mas as notícias não chegam com surpresa e a época era já dada como perdida pelos vários responsáveis turísticos.

Antes de se saber a decisão do Governo de proibir as viagens turísticas, o i falou com alguns responsáveis das entidades do setor. Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo disse que, neste momento, “é muito difícil conseguir um equilíbrio entre duas situações”. E explicou: “Por um lado, a necessidade que os hotéis e os alojamentos possam, neste momento, retomar alguma atividade. Há neste momento uma vontade enorme que os hoteleiros e donos de alojamentos têm de abrir e poderem fazer negócio porque a situação é muito complicada”.

No entanto, no outro prato da balança está a situação sanitária e Vítor Silva não tem dúvidas que o Governo tem receio que possamos enfrentar nesta Páscoa um outro Natal “uma situação que nenhum de nós quer que aconteça outra vez porque não sei o que será um terceiro confinamento”, refere.

Por isso, conseguir um equilíbrio entre estas duas coisas é, para o responsável, “mais difícil que fazer a quadratura do círculo”. E questiona: “Como é que se atinge um equilíbrio entre a necessidade de conseguirmos ter atividade económica na área do turismo e conseguir que a pandemia não alastre outra vez? É um equilíbrio muito difícil. Eu não gostava de estar no papel do Governo”.

O responsável pelo turismo do Alentejo já não acreditava na possibilidade de turistas em Portugal neste período. “Tenho muitas dúvidas que neste momento haja estrangeiros em número significativo a vir para Portugal”. Até pelas restrições de voos e de viagens em outros países. O responsável deixa exemplos: “Ninguém pode vir dos EUA, ninguém pode vir do Brasil, que eram dois mercados importantíssimos. O Governo alemão não proíbe mas desaconselha fortemente as deslocações. O Governo inglês diz que quem sair leva uma multa de cinco mil euros”.

Das conversas que tem tido com empresários locais, Vítor Silva diz não ver reservas de estrangeiros para este período. Mas é algo que compreende, até porque, “é preferível fazermos agora um sacrifício e depois quando reabrirmos já podemos ter a atividade turística a fluir, ainda que não normalmente”. “Há uma coisa que eu tenho muito clara. Portugal é um país que tem uma economia débil comparado com França, Espanha ou Alemanha e não sei se aguentaríamos um terceiro confinamento”, finaliza.

Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal diz ao i que o país não pode voltar a repetir os erros do Natal. “É difícil podermos alterar esta regra, sobretudo na Páscoa de 2021. Esta Páscoa de 2021 ensinou-nos que, por consequência do que se passou na época do Natal houve, de facto, um aligeiramento do cumprimento das regras que pôs em causa vidas humanas e que levou a que tivéssemos um número extraordinário no impacto daquilo que era previsível no controlo da pandemia e agora há que o evitar”.

Esta Páscoa está, assim, perdida. “Dificilmente teremos condições para economicamente salvar a Páscoa de 2021, essa está fora de causa”. Por isso, agora o importante é procurar sobreviver a este período para “acreditar na proximidade do verão, em particular no verão e no outono de 2021 para podermos, de alguma forma, desenvolver o nosso negócio sendo certo que, cada dia e cada noite que não se venda cama ou não se sirva uma refeição, essas ficam irrecuperáveis”, remata Pedro Machado.

Pessimismo de fevereiro confirmado agora A verdade é que a partir do momento em que o primeiro-ministro garantiu que o país não ia ter Carnaval nem Páscoa como os conhecemos, os responsáveis do turismo um pouco por todo o país deram logo a Páscoa por perdida.

O i já tinha falado com os responsáveis do setor. A título de exemplo, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve lembrou que a Páscoa se trata de “um período de oportunidade relevante para a procura turística no Algarve”. A Páscoa na região é, aliás, “um período em que a procura dos mercados de proximidade é mais expressiva”. No entanto, este ano será diferente.

Um pouco mais acima, no Alentejo, as perspetivas – que agora se confirmam – eram mais ou menos as mesmas, com Vítor Silva a garantir que “em relação à Páscoa, as coisas neste momento não estão muito simpáticas”. Não estavam e não ficaram. As restrições continuam e, com a circulação proibida entre concelhos, não se perspetiva uma grande taxa de ocupação.

O facto de o turismo estar dependente de uma série de fatores como a vacina, o mercado externo, a confiança das pessoas ou a aviação deixa muitas incertezas futuras, principalmente numa altura em que se pensaria que a Páscoa já pudesse trazer alguns frutos. “Tínhamos a previsão de que a Páscoa fosse o começo da recuperação em relação ao turismo interno, não em relação ao turismo externo”, disse Vítor Silva, lembrando que foi este mercado que “aguentou um pedacinho do turismo no ano de 2020”. No entanto, era com “muita dificuldade” que via a recuperação do turismo interno já na Páscoa, até por causa do confinamento. Confirma-se.

No caso do centro do país, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal dizia não ser esperado que o processo de desconfinamento fosse imediato, “tendo em consideração o impacto que a última vaga teve no país”, diz Pedro Machado.

Mesmo que neste momento a situação fosse menos grave que na altura do Carnaval, Pedro Machado já antevia que o processo de desconfinamento fosse “gradual, mantendo-se algumas restrições com impacto na atividade do setor turístico”. E acrescentou: “Independentemente do nível das restrições, outra batalha a ser ganha é a da recuperação da confiança por parte dos consumidores, que não será um processo imediato, como é natural”.