Nos anos mais recentes tem sido com intenso orgulho que os portugueses vivem alguns dos jogos decisivos do futebol europeu em sua casa. Tivemos as fases finais do Europeu de 2004 e a da Liga das Nações de 2019. Na época passada, e por causa da maldição deste vírus insuportável registado como covid, houve uma fase final da Liga dos Campeões, com jogos em Alvalade e na Luz e com o estádio do Benfica a receber a final entre Bayern de Munique e PSG.
O mesmo Estádio da Luz recebera a final da Liga dos Campeões de 2014, com a vitória do Real Madrid sobre o Atlético após prolongamento (4-1). Em 2005, o Sporting jogou em casa a final da Liga Europa, perdendo-a ingloriamente para o CSKA Moscovo (1-3). Em 1983 tivemos, na Luz, a segunda mão da final da Taça UEFA, com o Benfica a empatar com o Anderlecht (1-1) e não sendo capaz de contornar o resultado de Bruxelas (0-1). Recuamos ainda mais no tempo e falamos de outra final terrível na Luz, a da Taça das Taças entre o Werder Bremen e o Mónaco (2-0), numa noite de chuva de maio de 1992 que deixou o recinto angustiantemente vazio.
Passaram-se anos a fio em que a UEFA se esqueceu de Portugal. E, por aqui, recordava-se com gosto a final da Taça dos Campeões Europeus de 1967, na qual o Celtic se tornou a primeira equipa não latina a conquistar o troféu, batendo o Inter de Milão, no Estádio Nacional, no Jamor, por 2-1. Dezassete anos antes, aconteceu o primeiro grande momento do futebol internacional recebido em Lisboa, também no Estádio Nacional, a Taça Latina que o Benfica venceu após dois jogos e dois prolongamentos (3-3 e 2-1) face aoBordéus, com Lazio e Atlético de Madrid a ficarem-se pelas meias-finais. Depois há aqueloutra Taça Latina que teve lugar em Lisboa e toda a gente esqueceu…
1953! Das oito finais da velha Taça Latina, que punha em confronto os campeões de França, Espanha, Itália e Portugal, duas foram decididas no Jamor, que teve, à época, o mesmo destaque do que Chamartín (recebeu as de 1949 e 1957) e do que o Parque dos Príncipes (1952 e 1955).
Ainda se ouviam os ecos da final de 1950, com o Benfica a tomar posse da primeira competição internacional de clubes ganha por uma equipa portuguesa, quando o Estádio Nacional foi outra vez escolhido para receber a final. No dia 5 de junho, nas Antas, o Stade de Reims bateu o Valência por 2-1 e, no Jamor, o Sporting bateu-se leoninamente com o campeão de Itália, o Milan, vindo a perder por 3-4 com a equipa que se orgulhava do seu trio sueco, Gre-No-Li, Gren, Nordhal e Liedholm. Infelizmente para os portugueses, que estiveram na frente do marcador com um golo de Vasques aos 20 minutos, Joaquim Pacheco lesionou-se e jogaram mais de uma hora com um a menos. Nordhal empatou aos 66 e fez o 2-1 aos 72 minutos.
João Martins ainda conseguiu um empate sofrido sobre o minuto 89, depois de Carlos Gomes ter defendido um penálti apontado por Nils Liedholm (78), mas o prolongamento foi penoso para o Sporting. O Milan entrou em vantagem através de Liedholm aos 96. Num esforço tremendo, Martins repôs a igualdade a três golos dez minutos mais tarde. Fisicamente de rastos, os leões jogavam como se cada conquista da bola valesse uma vida. Pairava sobre o Vale do Jamor a crença de que seria obrigatório recorrer a um jogo de desempate para decidir o finalista. O destino assim não quis.
Amleto Frignani, a dois minutos do fim, pôs o Milan na final, uma final que o Sporting já disputara na primeira edição do torneio, em 1949, perdendo com o Barcelona (1-2). Vingar-se-ia face ao Valência, no jogo para os terceiro e quarto lugares, esmagando os espanhóis por 4-1. A final esquecida do Jamor disputou-se entre o campeão de Itália e o campeão de França. O Reims do grande Kopa (marcou dois golos) foi melhor e ganhou por 3-0. Os leões tinham deixado os milaneses demasiado feridos…