O grande desafio que um autarca tem é o de assegurar resposta às necessidades das pessoas.
Costumo dizer frequentemente que as pessoas não querem saber de quem é a responsabilidade, querem é ver o problema resolvido.
Assim afigura-se-me evidente que os autarcas devem ser, primeiro que tudo, solucionadores. Mulheres e Homens capazes do impossível, “mover montanhas” em prol da qualidade de vida e segurança da Comunidade que servem.
Por defeito, um autarca tem de atuar em dois grandes campos: o campo reativo, em resposta às inusitadas solicitações diárias com que somos confrontados; E o campo do planeamento, na antecipação de problemas futuros, contribuindo assim para pensar cidade.
E é pensar cidade que constitui um desafio ao alcance de poucos.
Em Lisboa temos sido governados por visões individuais megalómanas de gestão de resíduos, assentes num conceito da década de oitenta do século passado, que diz que se resolve o acréscimo do lixo nas ruas colocando mais caixotes, quando na realidade esse acréscimo de caixotes bloqueia passeios e promove lixeiras a céu aberto.
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de grandes troços de espaços verdes, quando na realidade não se planeou o investimento em equipas para os manter em qualidade ou para os limpar regularmente.
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de uma revolução na mobilidade, tentando impor mudanças de hábitos e descarbonizando, criando ciclovias pop-up, que são perigosas para os seus utilizadores, e gerando conflitos com uma população que não consegue, efetivamente, mudar de hábitos de mobilidade de um dia para o outro.
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de construção urbanística desenfreada, a custos incomportáveis para a maioria dos jovens lisboetas, colocando torres em pequenas áreas, com o resultado de gerar milhares de fluxos de deslocação diárias, quando não foram pensadas e criadas infraestruturas de transporte público para evitar que esses fluxos sejam maioritariamente de automóveis.
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de construção de bibliotecas e outros equipamentos culturais em jardins e espaços verdes, numa falsa promoção de política cultural, quando na realidade estamos a destruir espaços de excelência para creches e jardins de infância.
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de uma nova rede de centros de saúde, anunciando-se o lançamento de pedra após lançamento de pedra, quando na realidade não existe um plano estruturado de oferta de saúde na cidade de Lisboa (e os centros de saúde continuam apenas nos cartazes).
Temos sido governados por visões individuais megalómanas de grandes eventos internacionais, anunciando Lisboa como um polo de atratividade para o investimento, quando na realidade quem quer investir na cidade vê esse investimento estar pendente para aprovação entre cinco a sete anos.
Em suma, temos sido governados por visões individuais megalómanas de quem pensa mal cidade e executa pior, falhando promessas e objetivos, e descurando que nela vivem pessoas que continuam por ver resolvidos os seus problemas do dia-a-dia.
Todos os autarcas são por natureza visionários, mas os verdadeiramente bons, são os que concretizam o que sonham.
Porque imaginação fértil não recolhe o lixo, não arranja jardins, não cria condições de segurança para ciclistas e não soluciona as filas de trânsito, não fixa jovens na cidade, não constrói creches, jardins de infância e escolas, não constrói centros de saúde, não atrai investimento.
Por isso devemos deixar para trás estes catorze anos de desilusão de uma governação assente em visões individuais megalómanas e abraçar novos tempos.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela