Ascenso Simões tem sido o tema principal da opinião pública, após ter escrito um artigo no jornal Público onde defendia, entre outras coisas, a demolição do Padrão dos Descobrimentos, tomando o rumo seguido pela recente remoção dos brasões na Praça do Império. A causa? A sua ligação ao Estado Novo como “monumento do regime ditatorial”, como mais tarde explicou ao Observador, defendendo ainda o deputado socialista que “o salazarismo não morreu” e que “devia ter havido sangue” no 25 de Abril.
O artigo de opinião gerou ondas de polémica e levou vários dirigentes partidários a condenar as palavras de Simões que, em declarações ao mesmo jornal, acabou por explicar que não foi “literal” quando se referiu à necessidade de mortes no 25 de Abril, tratando-se, sim, de “cortes epistemológicos”. Sobre a demolição do Padrão dos Descobrimentos, no entanto, o deputado socialista manteve-se fiel ao seu artigo, comparando esta possibilidade ao derrube de estátuas noutras situações e à mudança do nome da Ponte Salazar para Ponte 25 de Abril.
Estas declarações surgiram ao mesmo tempo que Ascenso Simões votou contra o voto de pesar no Parlamento pela morte de Marcelino da Mata e, em declarações ao Público, defendeu que “a nossa História precisa de ser descolonizada, carece de uma limpeza dos atavismos historiográficos que foram, também, marcados pela investigação positivista”. “Não se suportará uma história anacrónica, mas é insuportável uma história falsa”, frisou ainda.
Esta não é, no entanto, a primeira vez que Ascenso Simões se vê envolvido em polémica pública. Em setembro de 2020, o deputado socialista foi impedido de estacionar no Parlamento pela PSP, devido a obras públicas que decorriam na Rua de São Bento. As forças policiais presentes no local abordaram Ascenso Simões, que pareceu não querer acatar a ordem e se envolveu em discussão com um popular que se encontrava próximo, acabando o deputado socialista por apelidar o cidadão de “fascista”, “salazarista” e “antiparlamentar”.
Twitter sem papas na língua A maior polémica do deputado socialista, no entanto, prende-se com o seu uso da rede social Twitter, onde, entretanto, não voltou a criar uma conta oficial, mas onde em 2020 gerou ondas de controvérsia, ao responder a vários internautas de forma informal e insultuosa, chegando mesmo a proferir ameaças.
São vários os exemplos captados pelos utilizadores num meio em que nunca nada é apagado por completo. É impossível aceder aos tweets originais hoje em dia, já que a conta do deputado foi apagada, mas a realidade é que existem pela internet centenas de cópias espalhadas das mensagens e respostas de Ascenso Simões a vários utilizadores.
Num tweet a criticar João Cotrim Figueiredo e Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, uma utilizadora decidiu responder a Ascenso Simões, querendo lembrá-lo “da posição que ocupa”, fazendo um apelo a que “seja profissional, o que pressupõe probidade”. Em resposta, o deputado socialista perguntou à utilizadora “qual é a sua rua e a sua esquina”. No mesmo tweet, relativo aos membros da Iniciativa Liberal, uma outra utilizadora fez também questão de apontar o dedo ao deputado, referindo “falta de nível”. A resposta de Ascenso Simões foi uma sugestão, no mínimo, pouco ortodoxa. “Proteja os peitos, Maria. Essa foto é excessivamente liberal…”, retorquiu o deputado socialista.
Como estes são vários os casos a apontar, tal como quando, em resposta a um tweet em que um utilizador sugeriu, ironicamente, a Ascenso Simões que “chamasse a PIDE”, o deputado decidiu responder à letra. “A PIDE eu chamava para ir a sua casa. Se não tem juízo”, referiu.
São ainda várias as situações em que o deputado socialista responde aos utilizadores utilizando termos como “palerma”, “parvo”, “patego” e “ausente de cérebro”.
Ao i, o politólogo João Pereira Coutinho revelou acreditar que “o senhor deputado tem todo o direito de dizer o que diz, da mesma forma que os seus críticos têm todo o direito de o criticarem nos termos mais duros”. “A liberdade de expressão não serve apenas para expressarmos opiniões certas ou eruditas. Também serve para provocações, idiotias ou obscenidades. No momento em que a nossa extrema-esquerda e a nossa extrema-direita se digladiam em público para ver quem é mais censória, convém lembrar o básico aos mais básicos”, refere ainda, defendendo que “politicamente, a única sanção que eventualmente deveria existir sobre o deputado seria por via eleitoral, mas enquanto não houver uma reforma do sistema eleitoral que responsabilize o representante junto dos seus eleitores, nada feito”.
A conta utilizada para publicar os polémicos tweets acabou por ser apagada, tendo surgido uma nova com o nome de Ascenso Simões, aparentemente oficial. O deputado acusou a criação de uma conta falsa e desassociou-se desses comentários, referindo que teriam sido feitos por alguém a fazer-se passar por si. “Aquela linguagem ultrajante não me define”, começou por explicar o deputado, que não perdeu a oportunidade para se defender. “Quem me conhece sabe que, mesmo perante a oposição, sempre fui leal e cordato”, alegou, concluindo esperar “que todos os ofendidos pela conta falsa tenham a oportunidade de saber que ela não passa disso”.
A realidade, no entanto, é que a conta supostamente falsa tinha conteúdos que dificilmente alguém sem ser Ascenso Simões poderia ter publicado, como imagens no interior do plenário, do ponto de vista dos lugares onde se sentam os deputados, e conteúdos com informações mais privadas e até sobre o Parlamento. Recorde-se, por exemplo, que em maio de 2020, Ascenso Simões publicou um tweet com uma imagem do guião de votações distribuído aos deputados do Partido Socialista, onde se encontrava o voto contra a taxa das celuloses, que Simões defendia. Nesse post, o deputado aproveitou ainda para criticar o PS, revelando não se “rever num grupo parlamentar que engana os seus deputados”. A conta alegadamente “falsa” constava ainda na página oficial do deputado no website do grupo parlamentar do PS, era seguida por vários membros do Governo, como o gabinete da ministra da Agricultura, e foi partilhada pela conta oficial do grupo parlamentar do Partido Socialista na rede social.
O uso do Twitter para responder às acusações, no entanto, não é novidade para Ascenso Simões. Já em 2017, o deputado socialista sugeriu um “par de bofetadas” a João Marques de Almeida, colunista do jornal Observador, que fez um artigo comparando António Costa a Donald Trump.
Em 2018, a polémica atingiu novamente Simões, que referiu num tweet que os dragões – referindo-se ao FC Porto – eram “animais que saíram de uma casa de alterne”. “Evidente falta de paciência para quem se veste de azul e branco. Andrades são uma coisa horrível”, frisou ainda o deputado.
As declarações causaram polémica entre os vários adeptos do FC Porto, que criticaram fortemente as palavras de Ascenso Simões. Em resposta, o socialista anunciou ter enviado uma carta ao presidente Jorge Nuno Pinto da Costa a pedir desculpa pelas declarações. “A avalanche de protestos, de intimações, de reações acaloradas, de avaliações de caráter não tiveram fim. E, perante elas, eu teria duas atitudes a tomar: ou as desvalorizava ou as enquadrava e esclarecia. Cedo optei por esta segunda atitude”, referiu na altura.