O presidente do PSD completou ontem três anos à frente dos destinos do maior partido da oposição e reconfirmou a ideia de que as eleições autárquicas de outubro são vitais. “As próximas eleições autárquicas não são vitais para o presidente do PSD, mas para o PSD”, afirmou em entrevista ao Observador, depois de ter difundido um vídeo no Facebook a defender a mesma ideia. E metas eleitorais? Rui Rio não tem “números mágicos”, mas quer chegar a outubro (ou dezembro, se o adiamento for uma hipótese) “e ter mais presidentes de câmara e, acima de tudo, muitos mais eleitos”. Em 2017, o partido levou “uma tareia” e se o PSD “ quer continuar a ser alternativa, tem de ter milhares de autarcas eleitos”, advertiu o líder social-democrata na referida entrevista.
Da mesma forma que as autárquicas são decisivas para mostrar o espaço do PSD no terreno, são-no também para a liderança de Rui Rio. O próprio admitiu que esse ato eleitoral será o tira-teimas sobre o seu futuro na liderança do PSD. “As pessoas que olham para mim há muitos anos escusam de preparar o que quer que seja a seguir às autárquicas. Eu sei assumir as minhas responsabilidades. Se eu vir que correu mal, fico aqui a fazer o quê?” Ou seja, Rui Rio prometeu sair pelo seu próprio pé se o resultado eleitoral for desastroso. E a declaração de que não ficaria agarrado ao poder serviu de contexto a uma pergunta sobre se a recusa do eurodeputado Paulo Rangel em concorrer à Câmara do Porto também não poderia ser uma forma de descolar de Rio e estar a preparar uma candidatura à liderança, após as autárquicas.
Mas, na mesma entrevista, Rui Rio distribuiu também críticas e atacou Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, e o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Mas vamos por partes. No caso de Carlos Carreiras, Rui Rio insurgiu-se contra o autarca depois de o edil de Cascais ter escrito um artigo de opinião no jornal i em que defendeu que o líder do PSD quer adiar “as eleições porque o processo autárquico no PSD é uma inexistência”. Mais, se não houver adiamento (como tudo indica) “dá ao presidente do partido a oportunidade de construir uma narrativa de vitimização que justificará, com sete meses de antecedência, um possível mau resultado nas autárquicas”. Ora, o líder social-democrata respondeu de forma dura a Carreiras, lembrando que “é o pior, é o mais incompetente nisso. Foi primeiro responsável pela desgraça de 2017 e nem tem a humildade. Não recebo críticas de quem fez um desastre”. De realçar que o edil foi o coordenador nessas eleições. Ora, o autarca de Cascais já respondeu também, via rede social Facebook. “Agradeço a Rui Rio ter-me feito um ataque vil e pessoal, juntando-me a um outro ataque a um outro Presidente de Câmara que reputo de grande competência, Rui Moreira. Ataques que vindos de Rui Rio não são cadastro, são enriquecimento de curriculum”, escreveu Carlos Carreiras – isto porque Rio também considerou Rui Moreira, autarca do Porto, alguém que não é “confiável”. Em causa estava a confirmação de que o PSD e o autarca não se entenderam sobre a candidatura no Porto. Na Invicta houve mesmo um jantar entre o vice-presidente do PSD Salvador Malheiro e Rui Moreira, autarca eleito numa lista de independentes. E Rio apressou-se a dizer que “[Rui Moreira] é alguém que tem um jantar, que é privado, que o mete em público e com uma mentira com o que lá se passou, que tinha sido convidado para ser candidato pelo PSD. Não é uma pessoa confiável”. Ou seja, o líder do PSD confirmou que cada um segue por si no Porto. Nomes há vários, como o do antigo vice-presidente da câmara Vladimiro Feliz.
Em Lisboa, o deputado Ricardo Baptista Leite encaixa no perfil de notoriedade e pode ser uma hipótese, mas Rio até acrescentou a deputada Filipa Roseta numa lógica de nomes sobre os quais se fala para a capital. Uma coisa é certa: em Lisboa, havendo coligação com o CDS, o PSD quer indicar o cabeça-de–lista à autarquia. Ponto final.
No partido há quem esteja vigilante, mas Rio não terá pela frente contestação interna. A oposição, os críticos ou simplesmente quem quiser suceder a Rio vão esperar pelo desfecho das autárquicas. E aqui há vários cenários, hipóteses, ainda que não existam movimentações internas. Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, é um dos nomes apontados, tendo-se colocado há muito na reserva. Luís Montenegro teve 48% dos votos nas diretas de 2020. Mas a sua base de apoio não será a mesma se quiser voltar. Tudo depende das circunstâncias, mas será difícil igualar o cenário das diretas de janeiro de 2020.
Miguel Pinto Luz, vice de Carlos Carreiras, concorreu nas últimas diretas, ficou em terceiro lugar e tem mantido os seus canais internos de reflexão. Por isso, será uma figura a ter em conta na hora de se falar de putativos candidatos. Mas falta o player decisivo: Passos Coelho. O antigo líder do partido é encarado no PSD como a figura que pode federar a direita e o centro-direita. Só tem falado quando entende e pode vir a ser pressionado para avançar – ou então ter uma palavra a dizer sobre quem pode suceder a Rio, caso os resultados eleitorais sejam maus para o partido. Sobre o antigo primeiro-ministro, Rio disse que tem falado “pouco” com o seu antecessor. Mas sabe, “e bem”, que Passos “não anda aí a meter-se e a falar, a querer intervir”.