E quem paga o coelho?


No final de cada espetáculo, carregava o mágico com a sua intratável impaciência: “Mas escute lá, que raio de truque vem a ser esse? Tirar chaves velhas de uma cartola?! Isso é lá magia que se veja!?”


Num dos contos de Mário Henrique Leiria surge uma personagem dona de um circo que teima diariamente com o mágico por este não ter trunfos na manga que surpreendam o público como ele deseja. Um assunto complicado de resolver. Um e outro têm teimosia de muares e o mágico gostava especialmente de um truque um bocado mija-na-escada em que depois de dar tratos de polé a uma cartola consegue tirar lá de dentro um grosso molho de chaves, digna do carcereiro da Torre de Londres. Por seu lado, o patrão já estava com o tilintar das chaves pelos ouvidos.

No final de cada espetáculo, carregava o mágico com a sua intratável impaciência: “Mas escute lá, que raio de truque vem a ser esse? Tirar chaves velhas de uma cartola?! Isso é lá magia que se veja!?” Como o orçamento do mago era escasso, não havia dinheiro para se aventurar por outros caminhos. De alguma forma, estava na mesma condição de todos nós que, mais tarde ou mais cedo, quando metermos as mãos nos bolsos só tiraremos deles chaves velhas e bolas de cotão.

Eu, que vejo amigos/irmãos sofrerem com esta descoberta sensacional da ciência que nos demonstra que o vírus só ataca em restaurantes, cafés e bares, provavelmente atraído pelo cheiro da comida e sequioso por uma cerveja, vejo-os agarrados aos molhos das chaves velhas dos seus estabelecimentos encerrados, caídos numa dramática falência que nenhum truque de magia será alguma vez capaz de remediar.

Miserável, o mágico desse circo pindérico, tinha a ambição de meter a mão na cartola e tirar de lá outra coisa qualquer que não molhos de chaves velhas. Por isso, esgotada a paciência, pela milésima vez que foi causticado pelo patrão, desabafou exasperado: “E o coelho? Você paga o coelho?” Não sei quem vai pagar o coelho destes dias sem nome. Mas, convenhamos, o coelho faz falta como nunca.

E quem paga o coelho?


No final de cada espetáculo, carregava o mágico com a sua intratável impaciência: “Mas escute lá, que raio de truque vem a ser esse? Tirar chaves velhas de uma cartola?! Isso é lá magia que se veja!?”


Num dos contos de Mário Henrique Leiria surge uma personagem dona de um circo que teima diariamente com o mágico por este não ter trunfos na manga que surpreendam o público como ele deseja. Um assunto complicado de resolver. Um e outro têm teimosia de muares e o mágico gostava especialmente de um truque um bocado mija-na-escada em que depois de dar tratos de polé a uma cartola consegue tirar lá de dentro um grosso molho de chaves, digna do carcereiro da Torre de Londres. Por seu lado, o patrão já estava com o tilintar das chaves pelos ouvidos.

No final de cada espetáculo, carregava o mágico com a sua intratável impaciência: “Mas escute lá, que raio de truque vem a ser esse? Tirar chaves velhas de uma cartola?! Isso é lá magia que se veja!?” Como o orçamento do mago era escasso, não havia dinheiro para se aventurar por outros caminhos. De alguma forma, estava na mesma condição de todos nós que, mais tarde ou mais cedo, quando metermos as mãos nos bolsos só tiraremos deles chaves velhas e bolas de cotão.

Eu, que vejo amigos/irmãos sofrerem com esta descoberta sensacional da ciência que nos demonstra que o vírus só ataca em restaurantes, cafés e bares, provavelmente atraído pelo cheiro da comida e sequioso por uma cerveja, vejo-os agarrados aos molhos das chaves velhas dos seus estabelecimentos encerrados, caídos numa dramática falência que nenhum truque de magia será alguma vez capaz de remediar.

Miserável, o mágico desse circo pindérico, tinha a ambição de meter a mão na cartola e tirar de lá outra coisa qualquer que não molhos de chaves velhas. Por isso, esgotada a paciência, pela milésima vez que foi causticado pelo patrão, desabafou exasperado: “E o coelho? Você paga o coelho?” Não sei quem vai pagar o coelho destes dias sem nome. Mas, convenhamos, o coelho faz falta como nunca.