A “fileira industrial” do lítio vai mesmo ficar localizada junto da fronteira entre Portugal e Espanha como, aliás, tinha sido anunciado pelo primeiro-ministro, António Costa, na cimeira luso-espanhola que decorreu, em outubro, na Guarda.
A intenção está incluída na versão atualizada do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), divulgada ontem pelo Governo – e que agora entrou em consulta pública -, e contraria as posições públicas do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e do secretário de Estado do Ambiente, João Galamba, que apontavam para a possibilidade de ser criado um projeto industrial dedicado ao lítio nas instalações da recém-desativada refinaria de combustíveis da Galp, em Matosinhos.
As contradições nas declarações de António Costa e dos responsáveis pelo Ambiente obrigaram mesmo João Galamba a negar ter afirmado que a instalação desta unidade industrial seria no Porto de Leixões, em Matosinhos. “O que disse era que era expetável. Sendo provavelmente as futuras minas de lítio que Portugal possa ter no centro e norte do país, é expetável que os portos de escoamento desse lítio sejam a norte, nomeadamente Leixões. Nunca ninguém disse que a refinaria era no Porto de Leixões”, esclareceu, em junho, à Lusa.
Escolha “é natural”. O documento apresentado contém apenas um resumo daquilo que será a versão final do PRR a ser entregue à Comissão Europeia – e onde a parceria ibérica será detalhada. Embora, para já, não seja revelado o valor do investimento a ser feito pelos dois países, o texto refere “uma fileira industrial e de inovação de processos e produtos, completa, que permita o bom aproveitamento – usando técnicas de green mining – para o lítio existente nos dois países, desenvolvendo um projeto transfronteiriço para a construção e reciclagem de baterias elétricas para automóveis”. O Governo indica que a fronteira com Espanha é o local ideal porque as “principais jazidas de lítio” encontram-se próximas (é o caso de Montalegre ou de Boticas).
Fonte ligada ao processo do lítio em Portugal disse ao i que esta opção “é natural”. “Se, hoje em dia, a pegada ecológica é medida a partir da origem, faria todo o sentido que o eixo fronteiriço fosse o local escolhido pelo grupo de trabalho para a criação de todo o cluster industrial do lítio em Portugal”, refere. A mesma fonte afirma ao nosso jornal que “esta decisão contribui sobretudo para que seja possível aproveitar as ligações ferroviárias modernas que já existem em Espanha, na fase do transporte, nomeadamente o TGV que parte de Vigo”.
Recorde-se que, neste momento, o Governo português já tem contratos assinados com as empresas Lusorecursos e Savannah Resources para o desenvolvimento de projetos de mineração de lítio em Montalegre e Boticas, respetivamente, ambos no distrito de Vila Real (e em fase de avaliação de impacte ambiental).